A unidade dos cristãos, no Brasil e no mundo, passa pelo testemunho do Evangelho
Andressa Collet, Silvonei José - Vatican News
Já escrevia o Papa Francisco sobre a unidade entre católicos e evangélicos em carta enviada para a V Conferência Internacional de Louvor e Adoração Somos Um, realizada no final de setembro, no Rio de Janeiro: “é motivo de alegria saber que católicos e pentecostais reconhecem agradecidos o caminho percorrido juntos, pois trata-se do reconhecimento da bondade de Deus que vos anima a rezar, caminhar e trabalhar juntos 'para que o mundo creia' (João 17.21)". A saudação do Pontífice foi compartilhada por Izaías Carneiro, leigo católico e fundador da Comunidade Coração Novo, que por passagem por Roma concedeu entrevista a Silvonei José.
O encontro de caráter mundial durou 7 dias (19 a 25 de setembro), contou com a presença de lideranças cristãs de 10 países ao reunir mais de 200 pessoas no Teatro Biblioteca Parque Estadual e foi seguido por cerca de mil pessoas em modalidade virtual, com tradução simultânea em inglês e espanhol. Um grupo representativo assinou a "Aliança Missionária Internacional para o Anúncio da Unidade do Corpo de Cristo", um termo de compromisso que apresenta princípios como o respeito "às identidades individuais" e "à eclesialidade", o "não proselitismo" e a "busca da unidade como dom do Espírito".
O ato foi testemunhado, inclusive, por representantes da Comissão de Diálogo e Paz do Rio de Janeiro, e pelo Mons. Juan Usma Gómez, do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos do Vaticano. Os signatários da carta de diversas tradições cristãs, entre eles, o cardeal Orani João Tempesta da Arquidiocese do Rio de Janeiro e dom Rodolfo Valenzuela do Diálogo Ecumênico do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), se comprometeram a promover iniciativas de promoção da unidade entre católicos e evangélicos, como explica Izaías:
"É uma aliança para 10 anos que nos ajuda, que é um convite que nós líderes fizemos uns para os outros, é uma aliança que fizemos entre nós, primeiro para preparar bem os 1700 anos do Concílio de Niceia, em 2025, e depois já olhando para 2033, onde nós vamos celebrar o Jubileu da Redenção: são duas festas que nos ajudam e motivam a querer celebrar em unidade."
A Missão Somos Um
A conferência bienal foi promovida pela "Missão Somos Um", criada em 2008 dentro da Comunidade Católica Coração Novo e em sintonia com o magistério da Igreja pelo exercício de relações fraternas. Izaías, que personifica a unidade dos cristãos já que nasceu em família evangélica e depois descobriu os tesouros da Igreja católica - sendo inclusive missionário junto aos padres dehonianos, explica a Silvonei José sobre essa "plataforma fraterna de comunhão e de missão; um espaço sinodal, de diálogo e de escuta":
"Não é um organismo de governo e poder sobre as Igrejas, mas um lugar onde todas as Igrejas se aproximam: onde tem o cardeal que senta para conversar, o bispo, o padre, o pastor, a senhora da Igreja Evangélica vizinha, um espaço onde tem pessoas que se aplicam ao serviço aos mais pobres, tem outras pessoas que tão dedicadas à oração, tem pessoas que estão dedicadas ao diálogo teológico, então é uma plataforma fraterna de onde brota tudo isso."
A unidade pela paz, perdão e reconciliação
Izaías, então, compartilha a importância do ecumenismo, um tema desafiador, mesmo sendo reconhecido pelos Papas e pela Igreja ainda no período conciliar, "um tesouro deixado por Jesus" chamado unidade, acrescenta ainda o leigo católico:
"E se nós não damos testemunho, o Evangelho é descredibilizado. Então a gente precisa pedir o auxílio do Espírito para aprender unidade, porque nós somos criados à imagem do Deus que é Uno e Trino. Nós somos criados à imagem da Trindade Indivisa e nós vivemos divididos, partidos. Se me permite a palavra: vivemos partidos."
E essa busca pela unidade dos cristãos através do vínculo da paz, mostrando a necessidade de um caminho que promova diálogos ao invés de monólogos, reforça Izaías, é um exercício contínuo para experenciar uma Igreja menos dividida:
"Naturalmente que o caminho do ecumenismo, o caminho do diálogo em busca da unidade do corpo de Cristo deve ser compreendido como a busca da unidade possível até que cheguemos à unidade plena. O que a gente busca hoje é a unidade, como dizia o Apóstolo Paulo na carta aos Efésios, a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Isso é o que nós precisamos entender que é necessário buscar para que o mundo creia e é o que é possível hoje: é a unidade do Espírito pelo vínculo da Paz até que um dia, por obra do Espírito - não por obra humana, não por acordos humanos, não por assinar papeis, não por fazer troca e abrir mão da nossa identidade - a gente chegue à unidade da fé. Nós sabemos que não temos ainda a unidade plena da fé. Esses homens e mulheres que caminham conosco, caminham cientes disso. Isso é importante que se diga porque eu sei que muitos irmãos têm medo, e às vezes falam nas redes sociais sobre a religião global, sobre a religião universal, sobre universalidade, e às vezes alguns falam indevidamente a respeito disso dizendo inclusive que a Igreja corrobora com isso. Não, a Igreja não corrobora com isso, a Igreja é católica. Ela tem uma identidade, o que a faz católica."
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