Acolher o apelo do Papa, sair de si mesma e "dar um beijo na religiosa idosa que ficou em casa"
Andressa Collet, Silvonei José - Vatican News
Foram quase 10 anos na presidência da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). A Irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, da Congregação das Mensageiras do Amor Divino presente em 7 estados do Brasil e também na Angola e na Itália, deixou o cargo em julho deste ano após a eleição de Irmã Eliane Cordeiro de Souza para o triênio 2022-2025.
O encontro com Francisco
Enquanto aguarda o seu novo destino, que deve conhecer em dezembro, no Brasil, a ex-presidente passou um período no Itália, sobretudo junto aos focolares na Toscana para aprofundar a espiritualidade de comunhão. Quando esteve em Roma, teve a oportunidade de, pela primeira vez, trocar uma palavra com o Papa após uma Audiência Geral, o que a deixou muito emocionada, precisando "secar as lágrimas o tempo todo". Para Irmã Maria Inês, Francisco não só representa a figura do pastor universal, mas de "um homem de Deus, de uma grande fortaleza experimentando a grande fragilidade", devido ao uso frequente da cadeira de rodas:
Em entrevista a Silvonei José, a ex-presidente também fez um panorama sobre a situação da Vida Consagrada no Brasil, que a CRB tem como missão ajudar na sua unidade, colegialidade, diversidade e intercongrecionalidade. Irmã Maria Inês procurou explicar que há um grande número de consagradas idosas, menos em relação a novas vocações:
"Vivemos um momento de fragilidade da Vida Consagrada, principalmente feminina. O número de mulheres consagradas sempre foi maior e continua sendo maior. Um pouco frágil, porém, é em relação às vocações, mas em relação à presença eu me impressiono. Lembro de um encontro de 50 anos das pequenas comunidades inseridas no nordeste, com 200 religiosas lá na Paraíba, com o Frei Carlos Mesters que dizia: o que eu vejo nesta sala são cabeças de prata - os cabelinhos brancos, corações de ouro e pés de ferro."
Presença religiosa no Brasil
Frei Carlos Mesters, um frade carmelita holandês, missionário no Brasil desde 1949, é um grande exemplo de inserimento da vida religiosa onde mais se precisa. Assim como acontecem com muitas mulheres consagradas que trabalham em rede em diferentes frentes no Brasil, comenta Irmã Maria Inês:
"Quando você vê uma religiosa, por exemplo, nos barcos de Manaus: disfarçadamente, ninguém sabe que é uma religiosa, para ver, denunciar, acompanhar e seguir alguma situação que enxerga e que sabe de exploração de criança. Então, essa presença religiosa no Brasil, de norte a sul, é impressionante: firme, atuante e profética. Mas, ao mesmo tempo, temos fragilidades, como falta de pessoal, congregações às vezes centradas no seu umbigo, encontramos de tudo! O grande apelo, então, que o Papa Francisco nos chama a atenção, é o sair. Precisamos ter coragem e não importa a idade!
Estes dias encontrei uma irmã, com muito mais de 70 anos, uma sacolinha pendurada, na rodoviária de Brasília. Onde ela estava indo? Ao presídio! Era já aposentada, sem função específica na sua congregação, e dedicando duas vezes na semana para escutar os presos. Então, veja o nível da fortaleza da vida religiosa, principalmente feminina. Essa é uma maneira de evangelizar. E o Papa Francisco tem falado tanto que a maneira de servir hoje é na escuta."
O sair significa voltar-se ao outro
O quadro da vida religiosa no Brasil é variado, acrescenta a ex-presidente da CRB - tem "desde as coisas que você pode chorar de tristeza de ver, como aquelas que você jubila". O importante, finaliza a Irmã Maria Inês, é "não olhar muito para si, para o seu celular e computador, para a sua realidade e umbigo, até só para a sua saúde", mas promover a Igreja em saída: "o sair significa a capacidade de voltar-se para o outro, para uma realidade fora de si, é um exercício":
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