Jesus Cristo, os pobres na Palavra de Deus e na Patrística
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA
Os pobres sempre se marcaram à atenção do Senhor não somente por serem as pessoas sem os meios econômicos em vista de sua subsistência, mas, sobretudo por eles confiarem mais diretamente na palavra de Deus que os auxiliaria nas suas necessidades. Quem os ampara e protege é sempre a mão do Senhor. “Por causa da miséria dos indigentes e pelo gemido dos pobres, agora me levantarei, diz o Senhor” (Sl 12, 5).
As bem-aventuranças demonstram claramente a palavra de Jesus Cristo e a sua obra salvífica, em relação aos pobres: “Bem-aventurados os pobres no espírito, pois deles é o Reino dos céus” (Mt 5, 3); “Bem-aventurados vós, os pobres, pois vosso é o Reino de Deus” (Lc 6,20). Jesus falava num contexto geral onde os pobres seriam os preferidos por Deus e também num contexto local onde os pobres eram aquelas pessoas que estavam com ele, sendo estes os simples, os necessitados, homens e mulheres dos quais o reino dos céus é dado como dom e como graça. Jesus tinha presente que o Espírito do Senhor estava sobre ele porque ele o ungiu para anunciar o evangelho aos pobres (Lc 4, 18) porque Ele era o pobre por excelência, que nem sempre estaria com eles (Jo 12, 8). Como seguidores do Senhor Jesus, somos chamados a estar ao lado dos pobres, sobretudo porque a evangelização é dada pela presença na sua grande maioria, de pessoas necessitadas e pobres. Em seguida ver-se-á como esta doutrina foi desenvolvida nos padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos.
O Senhor Jesus nos pobres
São Gregório de Nazianzo, bispo do século IV, afirmou que a distinção de rico e pobre não vinha de Deus, porque a realidade humana, muitas vezes injusta, levou para isso, criando esta distinção, porém todas as pessoas são criaturas de Deus. No entanto aquilo que move à compaixão e à fraternidade é a pessoa estar ao lado dos humildes, dos pobres. O que diz a Escritura? Quem tem misericórdia do pobre, faz um empréstimo a Deus (Pr 19,17) e ainda com a esmola e a fé se purificam os pecados, a pessoa viverá na graça (Pr 15,27)[1].
O julgamento do Senhor
O bispo tinha presente também o julgamento final em que o Filho do Homem, o Senhor julgará as pessoas não por outras coisas senão pelo cuidado de Cristo manifestado aos pobres. Desta forma enquanto tiver tempo, servos e servas de Cristo é preciso visitar Cristo, cuidá-lo, nutri-lo, vesti-lo, acolhê-lo, honrá-lo. É pelo fato de que o Senhor quer misericórdia e não sacrifício sabendo que a verdadeira bondade é superior a mil cordeiros gordos, tudo isso é mostrado a ele nos necessitados que são julgados na terra, prostrados, de modo que quando os fiéis partirem desta terra eles, os pobres, acolherão a todos nos tabernáculos eternos[2].
Deus é o autor das coisas bondosas
São Gregório de Nissa, bispo do século IV disse que Deus é o autor das obras de bondade e de misericórdia, a criação da terra, o ornamento do céu, a sucessão ordenada das estações, dando também o cultivo do alimento para o ser humano. Ele nutre os animais para que os seres humanos tenham o alimento copioso e para que através das peles sirvam de roupa ou sapatos para as pessoas, sobretudo as mais pobres. Desta forma, Deus mesmo dá o alimento para quem tem fome, a água para quem tem sede e veste para quem é nu. Mas é com os pobres que ele mais tem cuidado.
Deus por primeiro é o benfeitor e é cordial para quem tem necessidade. Os fieis são chamados a imitar o Senhor Jesus Cristo, bem-aventurado e imortal na vida humana, para assim espalhar para os outros, a misericórdia divina[3].
A misericórdia é louvor de Deus
São Leão Magno, papa no século V disse que a graça de Deus realiza todo o dia coisas maravilhosas transferindo todo desejo dos seres humanos pelos bens terrenos, aqueles celestes. A vida presente é sustentada pela sua providência de modo que aquele que dá os bens temporais é o mesmo que promete os bens eternos. Os fieis são chamados a honrar e louvar a Deus que desde o início deu fecundidade à terra que impôs a toda semente para que crescesse e assim todas as realidades operam com a ordem do Criador. Tudo serve para a utilidade humana como os ventos, as chuvas, o frio, o calor, o dia e a noite. Como a misericórdia de Deus é seu louvor pelas obras criadas, muitos são aqueles que nada têm como os campos, nem oliveiras, nem vinhas, de modo que as pessoas são chamadas a providenciar às suas necessidades com a abundância que Deus deu aos outros que tem a terra e gozam dos bens para dar aos pobres e aos estrangeiros[4].
A felicidade pela distribuição dos alimentos
São Leão Magno ainda disse que é feliz o celeiro que nele se multiplicam todos os frutos que servem a saciar a fome dos necessitados e dos fracos, que servem a elevar a abundância dos alimentos aos estranhos, que saram aos necessitados as doenças dos enfermos. A divina justiça coroa os pobres pela sua paciência e aos misericordiosos pela sua bondade[5].
Os sofrimentos humanos exigem interesse
São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V afirmou que é preciso servir os santos, no caso, as pessoas necessitadas. Se um fiel que segue o Senhor vê alguém passando por dificuldades, será preciso dar-lhe uma mão. Afinal de contas o fiel não vive na indiferença diante dos necessitados e pobres. A atenção é dada seja para os monges, seja para os leigos e as leigas que padecem por dificuldades. A um pagão, caso passe por dificuldade, é preciso dar-lhe a ajuda necessária. Desta forma todo o fiel que sofre não há a necessidade de questionar outras coisas, mas ele tem o direito de ser ajudado porque sofre[6].
Seja a Sagrada Escritura, seja os Padres da Igreja sempre levaram em conta os pobres porque deles é o Reino dos céus. É feliz a pessoa que pensa no indigente, no pobre porque no dia da desgraça, o Senhor o livrará. Ele o guardará e lhe preservará a vida, fazendo-o feliz na terra (Sl 41, 1-2).
Os pobres são os preferidos de Deus, do Senhor Jesus Cristo. Ele curava os doentes, expulsava os demônios das pessoas, fazia os paralíticos andarem, dava vista aos cegos, ressuscitava os mortos. Estava rodeado de homens e mulheres que o seguiam geralmente necessitados de ajuda e também lhes dava a palavra de salvação.
[1] Cfr. Gregorio di Nazianzo. L´amore per i poveri, 36,39-40. In: La teologia dei padri, v. 3. Roma, Città Nuova Editrice, 1982, pg. 271.
[2] Cfr. Idem, pgs., 271-272.
[3] Cfr. Gregorio di Nissa. L`amoré per i poveri, 1. In: Idem, pgs. 270-271.
[4] Cfr. Leone Magno. Sermoni, 16. In: Idem, pgs. 268-269.
[5] Cfr. Idem, pg. 269.
[6] Cfr. Giovanni Crisostomo. Omelie sulla lettera agli Ebrei, 10,4. In: Idem, pgs. 269-270.
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