Busca

Imagem de alguns leigos Imagem de alguns leigos 

Vanderlei de Lima: Visita à Comunidade Fonte de Avivamento

Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld e fala de sua experiência: "é o protagonismo dos leigos que a Mãe Igreja muito prega, mas, infelizmente, nem sempre encontra eco entre os seus filhos no dia a dia eclesial um tanto clericalista. É contra esse clericalismo que o Santo Padre, o Papa Francisco, tem se voltado".

Vanderlei de Lima - eremita de Charles de Foucauld

No dia 17 de outubro último, acompanhado por uma amiga, tive a oportunidade de, a convite de Carlos Eduardo dos Santos, o fundador, visitar a Comunidade Fonte e Avivamento, localizada em Americana, diocese de Limeira, SP.

Conversamos bastante sobre temas diversos e almoçamos juntos: nós e a família, o pai, a mãe e os dois filhos presentes. Foi uma tarde proveitosa, por isso, desejo, agradecido ao Vatican News, compartilhar parte da experiência vivenciada. Óbvio é que, com isso, não entro em detalhes ligados à vida da comunidade, aos seus estatutos, aos meios de subsistência etc. Nem deu tempo de tratar disso. Imagino apenas que – assim como outros consagrados (leigos ou religiosos) dentre os quais me incluo – a Comunidade deve manter a sua obra com muita dificuldade financeira, além de enfrentar falta de apoio, críticas infundadas ou outras perseguições próprias dos discípulos de Cristo (cf. Jo 16,33).

Nossa conversa se deu em torno da missão leigo e das Associações de Fiéis. Aqui, se incluem as chamadas “novas Comunidades”, dentre as quais a Fonte e Avivamento. Por falar no assunto, indico um bom livro sobre o tema. “As Associações de fiéis”, do cardeal Lluis Martínez Sistach, arcebispo emérito de Barcelona, publicado pela Fons Sapientiae, em 2018, com prefácio do cardeal Orani João Tempesta, O. Cist., arcebispo da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Vale a pena lê-lo.

Ao retornar da visita, lembrei-me da Lumen Gentium 31 que diz: “Compete aos leigos procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e atividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência. São chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade. Portanto, a eles compete especialmente, iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão estreitamente ligados, que elas sejam sempre feitas segundo Cristo e progridam e glorifiquem o Criador e Redentor”.

É o protagonismo dos leigos que a Mãe Igreja muito prega, mas, infelizmente, nem sempre encontra eco entre os seus filhos no dia a dia eclesial um tanto clericalista. É contra esse clericalismo que o Santo Padre, o Papa Francisco, tem se voltado. Dizia ele, por exemplo, em 2018: “Eu penso muitas vezes em Jesus que bate à porta, mas de dentro, para que o deixemos sair, porque nós, muitas vezes, sem testemunho, o mantemos prisioneiro das nossas formalidades, dos nossos fechamentos, dos nossos egoísmos, do nosso modo de viver clerical. E o clericalismo, que não é só dos clérigos, é um comportamento que diz respeito a todos nós: o clericalismo é uma perversão da Igreja” (Papa: clericalismo é uma perversão da Igreja. Vatican News, 13/08/2018).

Aqui, deixo, por fim, um testemunho edificante observado. A Comunidade fica numa casa grande alugada de esquina e a campainha toca várias vezes. Era sempre alguém necessitado a pedir algum tipo de ajuda. Mais à tarde, duas pessoas em situação de rua, homossexuais – portanto, altamente excluídas – chegaram para tomar banho (até isso a casa oferece) e fazer a refeição. E não é mero assistencialismo, pois, durante a refeição, se conversa com as pessoas sobre o amor e a misericórdia de Deus.

A Comunidade fala, como se vê, por palavras e por gestos concretos. Isso é belo, pois optar pelos pobres num discurso revolucionário violento, que a Igreja não abona, é fácil e parece até estar na moda fazê-lo, mas traduzir essa opção em gestos concretos, como a Igreja ensina, não tem sido tão comum, infelizmente.

Parabéns, portanto, à Comunidade Fonte e Avivamento. Que ela possa, em plena comunhão com o bispo diocesano, perseverar na sua missão.

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

20 outubro 2022, 17:36