Card. Ravasi recebe honoris causa em Ciências da Antiguidade
Tiziana Campisi – Vatican News
A Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão conferiu ao Cardeal Gianfranco Ravasi, presidente emérito do Pontifício Conselho de Cultura e da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, o doutorado honoris causa em Ciências da Antiguidade. O título acadêmico foi concedido ao cardeal "pelo seu intrínseco valor de estudioso" e "por seu longo serviço em instituições eclesiais, nas quais destacou a adesão profundamente vivida aos ideais do humanismo cristão, e por seu constante relacionamento com a Universidade Católica durante os anos de sua prefeitura na Biblioteca Ambrosiana".
Reafirmar a identidade da universidade
O reitor Franco Anelli proferiu o tradicional discurso de início do ano acadêmico evidenciando que “embora a desmaterialização e a deslocalização da didática tenham se consolidado nos últimos anos, a universidade", salientou, "deve reafirmar sua identidade, enraizada por ser uma síntese da pesquisa científica e da educação, uma comunidade educativa e uma instituição com reputação de qualidade na pesquisa e na didática, e uma capacidade de relações virtuosas com o contexto social".
Card. Ravasi, a lectio magistralis
O "doutorando" deu uma palestra intitulada "O que têm em comum Jerusalém e Atenas? O humanismo cristão antigo", pressupondo que, no panorama da 'classicidade', o cristianismo entrou com sua própria diversidade, originalidade e provocatoriedade e com uma presença epistemologicamente inovadora. Para exemplificar, o cardeal explicou que "o grego demonstra, o judeu e o cristão mostram", que por um lado há a celebração do intelecto, da razão e do silogismo como primários, e por outro, a vontade, o amor, o símbolo, a parábola. Com a entrada do cristianismo na história, na prática, ocorreu uma espécie de contraponto harmônico, acrescentou o Cardeal Ravasi, que pode ser exemplificado nas palavras duelo - a dialética, a contraposição - e dueto - uma composição de duas vozes em que ocorre harmonia na diversidade e na identidade - entre os valores do humanismo clássico e os da Revelação bíblica. Conceitos que São Paulo expressou bem, quando no capítulo 1 da Primeira Carta aos Coríntios escreve "Os gregos buscam sabedoria, mas nós anunciamos Cristo crucificado, para os judeus escândalo, para os gentios loucura", este seria o duelo, enquanto que no capítulo 5 da Primeira Carta aos Tessalonicenses ele afirma "Examinem tudo, mantenham firme o que é belo e bom", para o dueto.
'Classicidade' e cristandade nos Padres da Igreja
Na sua lectio magistralis, o cardeal citou outros exemplos de tal contraste na literatura cristã antiga, nos Padres da Igreja, acrescentando que a ‘classicidade’ tinha um conceito cíclico do tempo e era essencialmente um eterno presente, enquanto o cristianismo apresenta uma concepção linear com a cesura escatológica - um ponto terminal de chegada - da presença de Cristo. Assim, por exemplo, a tragédia grega não conhece a salvação, a esperança, que em vez disso "é uma virtude primorosamente cristã". E se o cristianismo, com a encarnação, enfrenta um entrelaçamento de divindade e humanidade, entre transcendência e imanência, entre temporalidade e eternidade, entre espacialidade e infinito, pode-se reconhecer um contraponto harmonioso com a ‘classicidade’, como destacam vários escritos, incluindo o Apologia de Justino, que argumenta: "Cristo é o logos do qual todo o gênero humano participou, e os que viveram de acordo com o logos são cristãos, mesmo que tenham sido julgados ateus". Estes são os "germes do Verbo" dos quais fala o Concílio Vaticano II, "escondidos nas tradições nacionais de outros".
Manter os pés firmes no humanismo
Chegando à cotidianidade, o Cardeal Ravasi disse que a partir da experiência da antiguidade cristã é preciso aprender a olhar para frente e para trás, agarrar-se firmemente à herança do passado, com sua complexidade, e olhar em frente para o futuro. E se hoje vivemos em uma era tecnológica que se estende por horizontes sempre novos, devemos manter nossos pés firmes no humanismo, seja pagão, seja clássico, seja cristão, disse o cardeal, que confiou a conclusão de seu discurso a duas testemunhas contemporâneas: Steve Jobs e Jorge Luis Borges. O primeiro disse que a tecnologia por si só não é suficiente e que é a combinação entre a tecnologia e as artes liberais, entre a ciência e o humanismo, que nos dá aquele resultado que faz brotar uma canção do coração; o segundo escreveu: "Os homens ao longo dos séculos sempre repetiram duas histórias: a de um navio perdido, procurando nos mares mediterrâneos uma ilha amada, e a de um deus que se deixou crucificar no Gólgota".
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