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Cardeal Hollerich na entrevista ao Vatican News Cardeal Hollerich na entrevista ao Vatican News 

Cardeal Hollerich: como Igreja, não podemos nos resignar à guerra, mas trabalhar pela paz

O presidente da Comissão das Conferências da Comunidade Europeia (Comece), em entrevista à mídia vaticana, faz um balanço dos cinco anos de presidência da Comece, em meio aos desafios da Brexit, pandemia e conflito. Durante a entrevista, o cardeal adverte para que seja dado aos jovens "mais espaço para se expressar” e dar suas opiniões aos políticos"; reitera também, a importância do multiculturalismo, que "não é uma ameaça, mas a possibilidade de abrir novos horizontes".

Stefano Leszczynski – Cidade do Vaticano

O cardeal Jean Claude Hollerich concedeu uma entrevista ao Vaticano News na qual fez um balanço dos últimos cinco anos de sua presidência da COMECE, partindo do empenho das Igrejas europeias em promover a paz e a reconciliação na Ucrânia, até os desafios da secularização nos países da União Europeia.

Os cinco anos de presidência da Comece estão inseridos em um período histórico que colocou a Europa diante de desafios, outrora inimagináveis, como a pandemia da Covid ou acontecimentos puramente políticos como a Brexit. Tais temas foram abordados no encontro que o cardeal Hollerich manteve, no Vaticano, com o Papa Francisco, na manhã desta segunda-feira, 12, e explanados na entrevista que concedeu à Rádio Vaticana - Vatican News.

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Todo empenho das Igrejas europeias, segundo o cardeal, deveria girar em torno do bem-estar das gerações futuras: “Devemos deixar aos jovens uma Europa de paz, reconciliada e unida, tanto em nível interno quanto diante dos desafios internacionais”.

Cardeal Hollerich, antes de tudo, como foi o encontro com o Papa?

Encontrar o Papa é sempre uma alegria. Ele é um Papa muito cordial, que ama a Europa, valoriza a integração europeia e vê a Europa como um fator moderado de paz no mundo. Infelizmente, no momento, estamos assistindo a uma guerra na Europa, na Ucrânia. O coração do Papa e o nosso estão com o povo ucraniano, injustamente atacado, e, todos os dias, inúmeras pessoas morrem, passam frio e não têm o que comer. E isso dói na alma.

O que as Igrejas europeias estão fazendo para deter este drama e, sobretudo, para ajudar os que mais sofrem e são obrigados a deixar seu país?

Primeiro houve uma ação das Igrejas na Europa, cada uma em seus próprios países, para acolher os refugiados da Ucrânia. Também em minha casa tenho uma família da Ucrânia, uma mãe com dois filhos, e serei feliz em poder celebrar o Natal junto com eles. Mas este é apenas um ponto, nós como Igreja nunca podemos nos contentar com esta guerra, devemos sempre, sempre tomar iniciativas para uma trégua, para a paz. Também é natural que a Igreja Católica não possa agir sozinha. Portanto, estamos em contato próximo e muito cordial com o KEK, que é a organização das outras Igrejas na Europa, Ortodoxa, Protestante, Anglicana. Fomos juntos à Polônia para ver como os refugiados são acolhidos e estamos trabalhando por uma trégua, pela paz. Claro que não somos diplomatas e nossas mãos são pequenas, mas fazemos o possível, acho que devemos isso a Deus e à humanidade.

Um dos desafios, provavelmente entre os mais urgentes para o futuro da Igreja católica e das outras Igrejas, será precisamente o de pensar em como reconstruir o tecido social da Ucrânia, depois da guerra…

Sim, é preciso reconstruir o tecido social e também é preciso encontrar uma reconciliação com a Rússia, porque temos a experiência da Segunda Guerra Mundial em Luxemburgo. Foi uma experiência muito dolorosa, conheci muitas pessoas que odiavam a Alemanha, mas depois mudou! Agora que a Alemanha é um país amigo e os alemães são sempre bem-vindos no país, devemos chegar à mesma coisa: a uma reconciliação, uma paz onde as duas partes possam manter o seu rosto, nem a Rússia nem a Ucrânia, senão a paz não é possível, mas isso será fruto de um longo, muito longo diálogo e espero que poderemos entrar nessa fase.

Os últimos cinco anos foram repletos de desafios e de imprevistos inesperados. Tivemos dramas como a pandemia, que abalou a vida de todos nós; tivemos episódios na Europa que ninguém esperava com países membros que saíram da União, uma União que foi construída com tanto esmero e que muitos ainda querem aderir e alargar. E depois tantas mudanças também dentro das instituições europeias que buscaram uma coesão cada vez maior. Como o senhor vivenciou, pessoalmente e a COMECE, esses momentos históricos?

Para mim foi uma experiência muito bela ter esse diálogo com as instituições da União Europeia. É verdade, a Brexit foi um drama, porque primeiro sempre tivemos países que queriam entrar na União, e depois havia um país que queria sair e achava que poderia ter um futuro melhor fora da União. Vimos que isso não é possível. O Reino Unido vai mal... Acho que isso é um bom sinal para todos os outros que podem estar pensando em deixar a União Europeia, é um sinal de alerta, não pode ser feito assim tão simplesmente. Nossas economias estão interligadas, não podemos simplesmente nos separar. Também para nós na Comece - porque temos bispos delegados de cada Conferência Episcopal - havia um bispo delegado da Conferência de Inglaterra e de  e outro delegado da Escócia, mas votamos a favor destes dois países que podem sempre participar nas nossos encontros como convidados. Nós os consideramos como europeus e agora acho que seja  muito importante que a União Europeia e o Reino Unido encontrem uma maneira de coexistir pacificamente e se ajudarem, sem rivalidade, mas realmente entreajuda, porque os povos da Europa devem ter um progresso de paz e bem-estar, devemos pensar na geração futura.

Em certo sentido é a confirmação do apelo que a Igreja sempre lançou: "Ninguém se salva sozinho"...

Sim, isso é muito verdadeiro. A mesma coisa aconteceu com a pandemia, no começo foi terrível, o nacionalismo que voltou, cada país queria se salvar sozinho, mas não funcionou. Então, depois de uma ausência inicial da união, todos se esforçaram e se saíram muito bem. Mas sabemos que os fantasmas do passado ainda estão por aí e que devemos ter cuidado para não provocá-los. Devemos fazer tudo para uma integração pacífica na União Europeia.

Nestes cinco anos o senhor encontrou algumas questões críticas talvez na relação com a União Europeia, enfim, o dualismo entre a vida espiritual da Europa e a vida política ainda cria ou às vezes cria dificuldades que precisam ser superadas?

Não é claro, há bispos que não entendem por que existe essa atividade um tanto política da Igreja, mas a Igreja deve ser diálogo com o mundo e temos a Doutrina Social da Igreja que é um tesouro. Devemos ter uma ação moral e política e penso que os homens e mulheres do mundo político ficam muito felizes em ter uma voz às vezes dirigida à sua consciência o que facilita as coisas. No Tratado sobre o funcionamento da União Europeia, o artigo 17.º estabelece que a União deve ter um diálogo estruturado e aberto com as religiões e isso o fazemos no nosso secretariado em Bruxelas, com especialistas em diversos campos da política europeia, fazem um grande trabalho.

A secularização ainda está sendo um desafio, na União Europeia?

Sim, é um desafio. Também a Europa se seculariza. Após cada eleição para o Parlamento, o número de cristãos que realmente querem viver sua fé está diminuindo. Mas também podemos entrar em diálogo com os outros. Penso que cada pessoa é capaz de diálogo e estamos em contato com todos os partidos, com todos os grupos parlamentares, porque juntos queremos trabalhar para o bem comum da Europa, para cada cidadão, para cada pessoa na Europa, que tem direito viver feliz. Se eu não fosse bispo, estaria em idade de aposentadoria, e muitas vezes penso nos jovens: devemos deixar-lhes um mundo onde se possa viver. Também estou muito feliz que na Comece tenhamos criado um conselho de juventude, porque não devemos apenas falar em nome dos jovens, mas devemos dar-lhes um espaço para se expressar e também dar aos políticos a possibilidade de realizar seus desejos. Então, é bom trabalhar para trabalhar para a geração que nos segue.

Uma geração que será cada vez mais multicultural, levando em consideração também a questão da migração na Europa…

“Sim, temos a Fratelli tutti! O multiculturalismo não é uma ameaça, mas a possibilidade de abrir novos horizontes e um progresso comum de humanidade. É por isso qie sinto-me muito satisfeito e contente.

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14 dezembro 2022, 07:00