O júbilo pela encarnação do Verbo
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)
O Natal é o nascimento do Senhor, graça de Deus, sendo a encarnação do Verbo, grande júbilo para todas as pessoas. Jesus tornou-se pessoa humana igual a nós em tudo menos o pecado (Hb 4,15). Um menino foi dado para a humanidade, trazendo nos ombros a marca da realeza sendo Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz (Is 9, 5). O mundo é chamado à fraternidade. A encarnação do Verbo faz a humanidade reviver uma vida nova, na superação do pecado e da morte. O júbilo pela encarnação do Verbo reflita-se pela paz entre os povos, nações, e por uma vida de conversão, de amor em nós e na humanidade. Vejamos a seguir como este júbilo, esta alegria incontável manifestou-se na Sagrada Escritura e nos Santos Padres, os primeiros escritores do cristianismo antigo.
O Verbo se fez carne (Jo 1, 14)
O prólogo de São João colocou que o Verbo de Deus se fez carne, gente, pessoa humana como nós. Isso significou que o Senhor Jesus, o Verbo assumiu inteiramente a natureza humana, com as suas dores, tristezas, desafios, esperanças, menos o pecado. Lá no início do cristianismo, havia um grupo muito forte que se chamava ‘gnósticos’, pessoas que seguiam a vida eclesial, mas negavam a realidade humana de Jesus, porque eles não entendiam que o Senhor assumiu a vida humana, mas só a divina. São João foi bem claro na afirmação que o Verbo se fez carne, assumindo a natureza humana, para que assim tudo fosse vivido pelo Filho de Deus, e ao mesmo tempo, redimido e salvo.
É obra do Espírito Santo
O anjo Gabriel disse a Maria que o menino que ela conceberia não seria fruto da relação humana, mas seria obra do Espírito Santo. “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus” (Lc 1, 35). Ao saber que Maria estava grávida, em sonho disse o anjo a José para que ele a recebesse como sua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo (Mt 1, 20).
Ele nasceu no meio dos pobres
Quando o Imperador César Augusto publicou um decreto para todo o império realizar o recenseamento, todos eram solicitados a irem à sua terra natal, de modo que José que estava em Nazaré, na Galiléia, teve que ir à cidade Belém, na Judéia, para registrar-se juntamente com Maria, sua esposa que estava grávida. A palavra do evangelista Lucas fez o relato dizendo que enquanto o casal estava em Belém, completaram-se os dias para o parto e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Maria o enfaixou e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar na hospedaria, portanto, nasceu de uma forma simples, pobre, numa estrebaria. Os pastores, pessoas simples e pobres, foram os primeiros, a saber, do nascimento de Jesus em Belém. Os anjos cantaram à vinda do Salvador através da glória a Deus nas alturas e paz aos seres humanos por ele amados (cfr. Lc 2,1-14). Foi a festa nos céus, mas também foi festa na terra.
Deus falou por meio de seu Filho
A encarnação é também ouvir a voz de Deus que falou por meio de seu Filho. É o que diz a Carta aos Hebreus no sentido de que Deus falou por diversas maneiras aos pais, no caso Abraão, Isaac e Jacó, e também ele falou pelos profetas, mas ultimamente que são os últimos dias, ele falou por meio de seu Filho, Jesus Cristo. Os profetas anunciaram a presença do Messias que viria ao mundo, na simplicidade, na paz e no amor. No entanto, nestes últimos tempos ele falou pelo seu Filho, que é o esplendor da glória do Pai, a expressão de seu ser (Hb 1,1-3). É preciso ouvir a sua voz, segui-la na realidade porque a palavra do Filho é a palavra do Pai.
O nascimento de Jesus trouxe a salvação
Os santos padres expressaram a alegria imensa pela encarnação do Verbo de Deus. Entre outros, São Leão Magno, papa de 440-461 falou muito a respeito do natal, do nascimento do Senhor, como mistério da salvação prometido desde o começo dos tempos e concedido no fim, e para sempre se perpetuará. São Leão convidou os fieis a adorar o mistério divino, a fim de que a Igreja celebrasse com grande júbilo o grande dom de Deus à humanidade. Jesus Cristo, Deus e homem, nascido de uma virgem, condenou pelo seu nascimento sem mancha de pecado, o profanador da raça humana. O mistério da encarnação possibilitou a salvação ao ser humano, com fé e com amor, pelo seu desígnio divino[1].
A encarnação incluiu a todas as pessoas
São Leão Magno também disse que a celebração do Natal era dia de exultação, de alegrias humanas e divinas, porque nasceu o Salvador. Desta forma não existe lugar para a tristeza, onde se celebra o natal da vida, afastando o medo da morte. O natal infundiu na pessoa humana a alegria da promessa eterna. Nenhuma pessoa é excluída da participação à esta alegria, porque o motivo do júbilo era único para todos, na qual o Senhor destruiu o pecado e a morte e como ele não encontrou nenhuma pessoa livre da culpa, assim ele veio libertar todas as pessoas do pecado e da morte. Exulta o santo, alegrem-se o pecador e a pecadora, reviva-se o pagão. O Filho de Deus na plenitude do tempo (Gl 4,4) veio a este mundo assumindo a natureza própria do gênero humano para reconciliá-la com o seu Criador[2].
A encarnação do Verbo e a elevação até Deus
Santo Atanásio, bispo de Alexandria, século IV, afirmou que o Verbo de Deus se fez pessoa humana, carne para que todas as pessoas fossem deificadas, elevadas até Deus. Ele tornou-se corporalmente visível, a fim de que as pessoas adquirissem uma noção do Pai invisível. Ele suportou os ultrajes da parte dos seres humanos, para que estes participassem da imortalidade. Pela sua encarnação, ao abaixar-se até a realidade humana, elevou-a até a divindade[3].
O júbilo pela encarnação do Verbo é grande para todas as pessoas humanas. Jesus assumiu a realidade humana, para elevá-la até a divindade. Ele fez isso pelo seu grande amor à humanidade e para dar a todos a graça da salvação. O Natal não termina, porque é Deus é Emanuel, “Deus está conosco”(Mt 1, 23). Nós somos chamados a lutar pela justiça e a viver o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.
[1] Cfr. XXII Sermão, Segundo Sermão no Natal do Senhor, 1. In: Leão Magno. Sermões. São Paulo, Paulus, 1996, pgs. 36-37.
[2] Cfr. 1 (XXI) Sul Natale Del Signore 1, 1.1. In: Leone Magno. I Sermoni del Ciclo Natalizio, a cura di Elio Montanari, Mario Naldini, Marco Pratesi. Bologna, Edizioni Dehoniane Bologna, 2007, pg. 81.
[3] Cfr. A encarnação do Verbo, 54,3. In: Santo Atanásio. São Paulo, Paulus, 2002, pg. 198.
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