Em memória dos missionários assassinados
Por Gianni Valente
Como em todos os fins de ano, a Agência Fides recorda a vida e o nome dos missionários e pessoas envolvidas nas obras pastorais da Igreja Católica: sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos, que foram assassinados nestes últimos doze meses.
No relatório de 2016 constava, entre outros, o nome do padre Jacques Hamel, degolado na sua igreja, em Rouen, na França, ao lado do altar da Eucaristia: seu processo diocesano de beatificação foi concluído, à espera que seu martírio seja reconhecido e proclamado.
No relatório de 2020, narra-se o fim da vida do padre Roberto Malgesini, sacerdote da região italiana da Lombardia, morto a facadas por uma das inúmeras pessoas por ele socorrida na gratuidade.
Nesse ano de 2023, o relatório redigido por Stefano Lodigiani, recorda a Irmã Marie-Sylvie Kavuke Vakatsuraki, a religiosa médica que foi morta na República Democrática do Congo por Jihadistas que atacaram o Posto de Saúde onde ele estava para operar uma mulher.
Dos relatórios anuais sobre os missionários assassinados publicados pela Agência Fides desde 1980, pode ser extraídas interessantes considerações do ponto de vista histórico, sociológico e estatístico. Mas, todos os anos, o que mais impressiona são os poucos dados biográficos de cada vítima e os curtos relatos de detalhes e circunstâncias das suas mortes violentas.
A maioria das vítimas foi assassinada, não durante missões de alto risco, mas enquanto estavam mergulhados nas vicissitudes de suas vidas diárias, em suas obras apostólicas, em suas ocupações e lidas costumeiras, no esquecimento de si próprios mas trabalhando pelo bem de todos, às vezes, de seus próprios carrascos. Suas mortes aconteciam, quase sempre, de sobressalto, por violências infundadas, por loucura ou por ingratidão atroz: suas vidas foram ceifadas por pessoas que haviam recebido cuidados e gestos de operosa caridade de suas vítimas. “Oderunt me gratis”, segundo o Salmo 69, uma expressão que também Jesus havia utilizado no Evangelho de São João, ou seja, pessoas que as odiavam sem motivo.
Todo sofrimento apostólico possui um mistério de participação e conformidade com a Paixão de Cristo. Na brutalidade, totalmente gratuita, de tantas mortes de missionários há um fio de ouro que liga suas vidas à Paixão e Ressurreição de Nosso Senhor.
As testemunhas de fé, assassinadas por carrascos ocasionais, estão em união misteriosa com a salvação de Cristo dos homens e mulheres do seu tempo. Por isso, a Igreja jamais protestou pelas mortes de seus mártires. Pelo contrário, sempre os recordou como vencedores, reconhecendo que, nas suas tribulações, foram confortados por Cristo.
As vidas das testemunhas recordadas pela Agência Fides não fazem recriminações, não culpam os outros pelo seu destino, como uma maldição. As testemunhas da fé não buscavam o martírio, tampouco eram arautos da obstinação religiosa. O oferecimento das suas vidas desabrochou até à oferta suprema, como milagre e reverberação do consolo, que o próprio Cristo proporciona a quem sofre em seu Nome. Eis o significado de testemunhas: aqueles que atuam, concretamente, a obra incrível e gratuita, que Jesus e seu Espírito concederam durante suas vidas. Não se trata de “depoimentos” patrocinados, como promotores de uma ideia, pertença ético-espiritual ou campanhas de mobilização, inclusive as apresentadas com lemas para a “defesa” dos cristãos.
Observando as coisas, sob os umbrais da gratuidade, podemos perceber, com emoção e gratidão, a consonância genética e a confortadora afinidade eletiva, que unem os que morrem em missão e os batizados, que vivem a sua vocação apostólica no tempo presente e em suas condições, sem chegar ao ponto de ser incruentas. Todas essas testemunhas da fé oferecem seus corpos e colocam à disposição suas vidas humanas, para que se realize e brilhe a graça do Senhor, penhor do Paraíso.
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