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O Santo sacrifício da Missa

A função essencial da liturgia cristã é a ação eficaz do Senhor Jesus na sua doação pascal mediante palavras e gestos simbólicos, como memória, presença e espera da salvação.

Dom João Bosco Óliver de Faria - Arcebispo Emérito de Diamantina

Ensina-nos o Concílio Vat. II: o sacrifício eucarístico é o ápice de toda a vida cristã (LG 11). As páginas preciosas desse documento ensinam-nos ainda: exerce-se a obra de nossa redenção sempre que o sacrifício da cruz, pelo qual Cristo, nossa Páscoa, é imolado (1Cor 5,7), se celebra sobre o altar. Ao mesmo tempo, a unidade dos fiéis que constituem um só corpo em Cristo (1 Cor 10,17) é significada e realizada pelo sacramento do pão eucarístico. Todos os homens são chamados a essa união com Cristo, que é a luz do mundo, do Qual procedemos, por Quem vivemos e para Quem tendemos (LG 3). [...] Participando do sacrifício eucarístico, fonte e ápice de toda a vida cristã, oferece-se a Deus a Vítima divina e com Ela a si mesmos. [...] Assim, quer pela oblação, quer pela sagrada comunhão, todos – cada um segundo sua condição – exercem na ação litúrgica a parte que lhes é própria. Reconfortados pelo Corpo de Cristo na sagrada comunhão, mostram de modo concreto a unidade do Povo de Deus, apropriadamente significada e maravilhosamente realizada por este augustíssimo Sacramento (LG 11).

A função essencial da liturgia cristã é a ação eficaz do Senhor Jesus na sua doação pascal mediante palavras e gestos simbólicos, como memória, presença e espera da salvação.

O Senhor, crucificado e ressuscitado, é o sacramento primordial - mistério primordial - pelo qual Deus Pai se fez definitivamente vizinho, para dar-nos o Espírito Santo e a vida eterna.

Enquanto nas outras religiões os ritos são ações simbólicas das pessoas para exprimir a própria busca de Deus, na liturgia da Igreja, é o Senhor Jesus que une a Si os fiéis para reconduzi-los ao Pai. Na Missa, Cristo, presente na pessoa do sacerdote, oferece ao Pai Sua própria pessoa, real e verdadeiramente presente na hóstia consagrada. Nada de mais sublime, de mais santo e de mais sagrado sobre a terra, que a celebração da santa Missa, que é a celebração da morte de Cristo na cruz e de Sua ressurreição.

Observa-se, no entanto, um enfraquecimento quantitativo e qualitativo da catequese em algumas paróquias, quer pelo número exíguo de catequistas em relação ao número de crianças católicas nas escolas, quer pelo pouco valor e exíguo espaço que é oferecido à catequese na ação pastoral. Enfraquecida a catequese, raleia-se a compreensão da vida litúrgica e sacramental dos fiéis.

Nossas igrejas estão cheias de pessoas boas que querem ser santas, mas que tiveram pouca oportunidade de conhecer e de vivenciar as verdades da fé cristã e de saborear suas preciosas consequências na própria espiritualidade. Os tesouros da graça oferecidos nas celebrações dos sacramentos permanecem nebulosos e, às vezes, quase totalmente desconhecidos pelos fiéis.

Surge, então, aqui e ali, um conceito quase mágico do efeito da celebração dos sacramentos e sacramentais. Pode acontecer que, às vezes, as pessoas procurem o batismo para seus filhos, mas sem saber o porquê e o para quê.

Esse desconhecimento pode atingir igualmente o sacramento da Eucaristia, fonte e ápice de toda a vida cristã.

A Santa Missa, memorial sacrifical que perpetua o sacrifício de Cristo na Cruz, é, como escrevi, o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do Senhor, ação eficaz do Senhor Jesus na Sua doação pascal mediante palavras e gestos simbólicos, como memória, presença e espera da salvação que não pode ser instrumentalizada.

A Santa Missa é, pois:

um memorial de Cristo: Fazei isto em memória de mim (Lc 22,19 e 1 Cor 12,24);

um sacramento: Mistério. Mistério da fé. Sinal sensível e eficaz da graça. Todo sacramento significa uma graça e realiza a graça que significa;

um banquete: ensina-nos Santo Agostinho: Não sou eu que recebo Cristo, é Cristo que me recebe em mim;

Ao celebrar e ao receber a Eucaristia, a pessoa assume, de verdade, o desafio de levar aos irmãos o amor de Cristo e o desafio de vencer as desigualdades que reinam na sociedade e na comunidade.

A Santa Missa não pode, portanto, ser enfeite de festa ou um pretexto para a convocação de pessoas para uma determinada celebração qualquer. A Missa é central em si mesma, não pode ser instrumentalizada.

É uma verdadeira profanação o celebrar a Santa Missa em local, ambiente ou circunstância inadequados ao sagrado. Isso porque a Santa Missa é a celebração da morte de Cristo na Cruz e de Sua ressurreição.

A Eucaristia, supremo sacrifício de Cristo, dispensa adjetivos, “penduricalhos”, efeitos de imagem e de som ou música dissonante com o sagrado. 

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16 dezembro 2022, 10:16