No túmulo de São Nicolau, em Bari, a oração pela paz e a unidade
Por ocasião da “Vigília de Oração pela Paz” proposta pela Conferência Episcopal Italiana (CEI), a ser realizada nesta quarta-feira, 21, diante do túmulo de São Nicolau, em Bari, sul da Itália, o sacerdote dominicano, padre Emmanuel Albano, diretor do Centro Ecumênico “Padre Salvatore Manna", da Pontifícia Basílica de São Nicolau, fez algumas reflexões importantes, de modo particular, sobre o momento histórico que atravessamos.
O sacerdote da Ordem dos Pregadores afirmou à Agência Fides que “a paz é um dom que vai para além da capacidade humana. É preciso da ajuda de Deus para alcançá-la, porque sozinhos, como vemos, não somos capazes”.
No clima de tensão devido ao conflito armado que semeia morte e destruição no coração da Europa, a comunidade dos Frades Pregadores, guardiães da Basílica de Bari há mais de 70 anos, compartilham um local único para verificar a cada dia que - como também Papa Francisco sugere continuamente - acolher o outro e dialogar também com quem se encontra em posições contrárias à sua, representa a única alternativa válida à divisão e ao conflito, tanto nas relações interpessoais como naquelas entre Estados.
A este respeito, padre Emmanuel observa que “a Basílica nunca deixou de oferecer uma acolhida incondicional a todos aqueles que se aproximam para venerar as relíquias de São Nicolau. A comunidade de ortodoxos russos presente em Bari continua a celebrar a “Divina Liturgia” na Basílica, bem como a comunidade ortodoxa ucraniana. O túmulo de São Nicolau acolhe peregrinos provenientes de todos os países, tanto católicos como ortodoxos”. São Nicolau de Bari ou de Mira, conhecido como Taumaturgo, é Padroeiro da Rússia, Grécia e Noruega.
A tradicional disponibilidade dos frades Dominicanos de acolher os fiéis, que visitam o túmulo de São Nicolau, se expressa hoje, mais do que nunca, como sinal profético, diante da escalada do conflito na Ucrânia.
Já durante a Quaresma, os Dominicanos haviam oferecido aos fiéis momentos de oração e reflexão, para elevar ao Senhor um pedido unânime pela paz, como afirma o padre Emmanuel: “Ao invés das vigílias ecumênicas, que geralmente se realizam aqui na Basílica com católicos, ortodoxos e protestantes, este ano quisemos dar,a todas as comunidades cristãs a possibilidade de recitar as vésperas em todas as quartas-feiras que, segundo a tradição popular de Bari, é o dia dedicado, historicamente, à veneração de São Nicolau, para rezar pela paz”.
A figura do Santo Bispo de Mira, atual Turquia, é também venerada, de modo particular, pelas Igrejas do Oriente. Na Rússia, São Nicolau é venerado entre os Santos Padroeiros mais do país.
Quando alguns fragmentos das relíquias do Santo foram temporariamente expostos à veneração dos fiéis em maio de 2017 em Moscou, e depois em julho do mesmo ano em São Petersburgo, cerca de dois milhões de peregrinos peregrinaram às duas cidades de toda a Federação.
Graças à presença das relíquias e à sua posição geográfica, Bari representa há séculos uma poderosa ponte entre o Oriente e Ocidente, devido à sua particular vocação de hospitalidade. Desde março o município de Bari adotou medidas para a assistência aos refugiados ucranianos e inúmeras famílias da cidade abriram suas casas para recebê-los.
Nos últimos anos, a cidade de Bari tornou-se, em várias ocasiões, encruzilhada para o diálogo ecumênico entre Igrejas irmãs. Em 22 de fevereiro de 2020, durante o encontro de Bispos do Mediterrâneo, intitulado "Fronteira mediterrânea da Paz", que teve lugar nesta cidade da Apúlia, o Papa Francisco definiu Bari como "capital da unidade da Igreja".
Na ocasião, na Basílica de São Nicolau, o Pontífice pronunciou palavras proféticas, tanto em relação à Europa como a todas as regiões em conflito no mundo: “Não há qualquer alternativa sensata à paz, porque todo o projeto de exploração e supremacia brutaliza, seja quem fere seja a quem é ferido, e revela uma concepção míope da realidade, uma vez que priva do futuro não apenas o outro, mas também o próprio. Assim a guerra aparece como uma falência de todo o projeto humano e divino: basta visitar uma paisagem ou uma cidade, palcos de um conflito, para se dar conta de como, por causa do ódio, o jardim se transforma em uma terra desolada e inóspita, e o paraíso terrestre num inferno” (23 de fevereiro de 2020).
Por isso, hoje, a devoção a São Nicolau representa uma possibilidade concreta de reconciliação, como diz o diretor do Centro Ecumênico da Basílica de Bari: “A figura de São Nicolau recorda-nos que uma Igreja indivisa, mesmo neste momento histórico, significa, antes de tudo, reconhecer que todos somos irmãos, apesar da diversidade de opiniões, sobretudo ao ajoelharmos para rezar juntos pela paz. A paz é um dom que vai além de todos e de tudo; não é a vitória de alguém, mas uma graça que devemos pedir a Deus, porque, humanamente falando, não somos capazes de fazer nada sozinhos. O túmulo de São Nicolau é um lugar sagrado, onde podemos nos encontrar como irmãos, como aconteceu, nos últimos meses, com os peregrinos ucranianos e russos, com os quais jamais deixamos de pedir a Deus, na oração, para que as armas se calem e voltemos ao diálogo".
Natural da Ásia Menor, o monge Nicolau, contemporâneo do imperador Constantino (274-337), foi consagrado Bispo de Mira provavelmente por volta do ano 305. Durante a perseguição de Diocleciano, a este Santo foram atribuídos numerosos milagres, em vida e “post mortem”, que o levou a ser conhecido como "taumaturgo". Assim, sua veneração se espalhou no Oriente e Ocidente.
Quando, em 1085, a cidade de Antioquia, capital da Síria, caiu sob o domínio dos turcos da dinastia salomônica, um grupo de marinheiros de Bari retirou os restos mortais do Santo, na cidade de Mira. O objetivo, além de salvar suas relíquias, era fazer com que São Nicolau fizesse reflorescer a economia de Bari, onde ele já era considerado protetor dos marinheiros. Assim, em 9 de maio de 1087, o povo de Bari acolheu, festiva e solenemente, os restos mortais do santo monge. Desde então, ele ficou conhecido como São Nicolau de Mira ou de Bari.
A partir de 1951, a Basílica de São Nicolau, em Bari, foi confiada à Ordem dos Dominicanos, cuja comunidade é composta atualmente por 18 frades, entre os quais o prior e reitor da Basílica, padre Giovanni Distante.
Em 1968, o Papa Paulo VI elevou o templo de São Nicolau a Basílica Pontifícia, nomeando, como delegado pontifício “pro tempore”, o arcebispo de Bari.
O atual delegado pontifício para a Basílica, Dom Giuseppe Satriano, arcebispo de Bari-Bitonto, no último dia 6 de dezembro, festa litúrgica de São Nicolau (segundo o Calendário Gregoriano), anunciou a “Vigília de Oração pela Paz”, com as seguintes palavras: “São Nicolau, ainda hoje, é para nós e para toda a cristandade, mas, de modo particular, para os irmãos do Oriente, uma poderosa ponte entre o céu e a terra. A ele nos dirigimos, mormente, nos momentos difíceis e de grande desespero. Diante da guerra, que estourou entre os cristãos na vizinha Ucrânia, não podemos permanecer indiferentes, mas dedicar nossos esforços em prol de uma solução do conflito, que está causando tanto sofrimento e dor entre os ucranianos e russos [...]. Invocar a paz não é um gesto fácil e cômodo de quem se compromete com a história, mas um ato mais revolucionário que existe, pois exige coragem para desarmar os corações, de toda forma de orgulho, e buscar a fraternidade necessária para construir uma humanidade renovada”.
A “Vigília de oração pela Paz” neste dia 21 de dezembro, junto ao túmulo de São Nicolau de Bari, em Bari, será presidida pelo cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana.
*Agência Fides
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