Cardeal Tempesta: São Sebastião, vocacionado à missão
Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Nesse dia, temos que render graças a São Sebastião, por interceder por cada um de nós e pela nossa cidade. Muitos esquecem, mas a nossa cidade chama-se São Sebastião do Rio de Janeiro. Temos a alegria de, logo no primeiro mês do ano, celebrar o nosso padroeiro e pedir a ele paz e proteção ao longo do ano inteiro contra a peste, a fome e a guerra.
Ao longo dos anos, a devoção a São Sebastião foi crescendo em nossa cidade e temos que manter essa devoção viva e passar para as futuras gerações. Começamos a celebrar o nosso padroeiro com a Trezena, realizada de 7 a 19 de janeiro. Sempre quando rezamos a Trezena de São Sebastião é uma oportunidade de reunir vizinhos, amigos e comunidade e agradecer a intercessão de São Sebastião por nós. Uma experiência bonita com a Trezena de São Sebastião é quando visitamos as casas das pessoas e passamos nos morros da cidade, pois todos param para rezar diante da imagem de São Sebastião.
Ao celebrar a memória ou a festa de um santo, através da novena ou missa, buscamos imitar a vida daquele santo e ser testemunhas de Jesus Cristo para aqueles que são próximos de nós. São Sebastião defendeu a fé até as últimas consequências e devemos ter em nosso coração a mesma atitude. Viver com coragem o nosso batismo e não ter medo de evangelizar os irmãos. Vivemos em um tempo que precisa urgentemente do anúncio de Jesus Cristo e de paz, e só conseguiremos a paz por meio do anúncio do Evangelho.
Como diz o Papa Francisco, Jesus Cristo é o príncipe da paz, é um rei que não precisa de armas e nem seus seguidores precisam. A arma de Jesus Cristo e de seus seguidores, que somos cada um de nós, é o amor. Somente o amor constrói uma sociedade mais justa e fraterna. São Sebastião viveu isso na pele, os seus superiores e o imperador romano da época queriam perseguir os cristãos e achavam que a única forma de anunciar a verdade era por meio das armas. São Sebastião, pelo contrário, anunciava o amor e seguia mesmo que as escondidas, Jesus Cristo.
Que possamos também enveredar o caminho do amor e da verdade e, a exemplo de nosso padroeiro, anunciar com Jesus Cristo. Os discípulos são aqueles que levam ânimo aos entristecidos, coragem aos que estão desanimados e conforto para os enlutados. Sejamos discípulos e missionários de Jesus Cristo em nossa cidade nos dias de hoje, que tanto precisa de paz. Estamos no ano vocacional e temos que atender ao chamado de Deus para sermos suas testemunhas no mundo de hoje. A nossa cidade precisa muito de paz e essa paz pode ser construída a partir de nós.
No Dia de São Sebastião, 20 de janeiro, temos missa e procissão pela cidade até a Catedral Metropolitana, na qual pedimos paz, saúde, proteção e emprego. São Sebastião é um santo muito popular aqui no Rio de Janeiro, mas a partir de nossa devoção a ele aqui na arquidiocese, o Brasil inteiro passará a conhecê-lo melhor.
São Sebastião nasceu em Narbonne. Seus pais eram oriundos de Milão, na Itália, do século terceiro. São Sebastião sempre foi, desde cedo, muito generoso, buscando ajudar os seus irmãos. Recebeu o batismo e zelou veementemente por ele. Entrou para o serviço do império romano e fez parte do exército, devido ao seu vigor físico e saúde boa. Sem demorar muito, tornou-se primeiro capitão da guarda do império. São Sebastião teve muita coragem, pois em tempos de perseguição aos cristãos, ele anunciava Jesus Cristo aos presos e aos companheiros de exército. E ele mesmo, sendo cristão, passou a fazer parte do exército do imperador que perseguia os cristãos e assim ele sabia os riscos que corria.
São Sebastião era defensor da fé e da Igreja, ouvia aqueles que eram presos e os consolava. Na verdade, São Sebastião colocava em prática aquilo que Jesus disse no Evangelho: “Estive preso e fostes me visitar”. São Sebastião defendeu e guardou os preceitos da fé até o martírio. São Sebastião nutria no coração essa certeza, defender a fé até as últimas consequências e sabia que em algum momento poderia ser denunciado. E foi o que aconteceu, um soldado o denunciou para o imperador que o chamou e questionou sua fé. Ele se manteve firme e com muita coragem disse que era necessário denunciar as injustiças e o paganismo, e que era necessário anunciar Jesus Cristo.
O imperador não quis saber e, furioso, mandou prendê-lo num tronco e muitas flechadas sobre ele foram lançadas, até o ponto de pensarem que estava morto. Mas uma mulher, esposa de um mártir, o conhecia, aproximou-se dele e viu que estava vivo. Ela passou a cuidar de suas feridas. Após restabelecer a saúde, foi até o imperador e se apresentou a ele, pois queria o seu bem e de todo o império. Evangelizou e testemunhou Jesus Cristo por um determinado tempo, mas no ano de 288 foi martirizado brutalmente e seu corpo jogado nos esgotos de Roma, mas uma outra mulher o recolheu e deu sepulturas onde hoje estão as catacumbas de São Sebastião, em Roma.
São Sebastião
São Sebastião é um exemplo de coragem ante os obstáculos da vida e fidelidade mesmo diante das contrariedades e perseguições. É interessante notar o seu empenho em fazer o bem ocultamente, aproveitando todas as circunstâncias para semear alegria, consolo e ânimo para as pessoas próximas, mesmo sabendo que quando fosse descoberto, poderia ter consequências. São Sebastião também pode ser reconhecido por sua prontidão em fazer a Vontade de Deus e enorme espírito de serviço, pois após recobrar a saúde, ele se volta para os outros e quer continuar fazendo o bem.
A vida de São Sebastião nos mostra que tudo ele venceu com muito amor, tanto que o tema da nossa trezena e da nossa festa neste ano é: “São Sebastião, vocacionado à missão”, em sintonia com o Ano Vocacional Missionário que a Arquidiocese do Rio de Janeiro está vivendo.
Olhando para vida deste grande santo, percebemos que só foi possível ser corajoso devido ao seu grande amor pelo Evangelho e por Jesus. Temos que aprender com São Sebastião. Ter amor a Deus e ao próximo e a vontade sempre de se doar. São Sebastião compreendeu que sua permanência em Milão seria insignificante. Era preciso dialogar com o que parecia hostil. A ação de São Sebastião foi de levar o que carregava dentro: o amor gratuito de Deus por cada homem e mulher que vêm a esse mundo. Ao dirigir-se à Roma, decidiu dedicar-se a esses.
Nossa cidade precisa de paz! Neste momento em que estamos passando pela retomada prudencial depois da pandemia, nós queremos pedir a São Sebastião que afaste toda a peste, fome e guerra de nossa cidade. Queremos pedir ao santo guerreiro pelos desempregados e por aqueles que estão no trabalho informal e no subemprego. Que possamos, sob a sua poderosa intercessão, superar todas as divisões, ódios e muros que foram construídos para separar os irmãos. São Sebastião, nos conceda saúde e nos dê a paz!
Ao celebrar cheios de alegria e confiança em Deus o Dia de São Sebastião, nosso padroeiro, e tenhamos no coração a certeza de que somos discípulos e missionários do Senhor e não hesitemos em anunciar a boa nova do Evangelho, pois somos, como São Sebastião, vocacionados à missão. Peçamos a São Sebastião paz para a nossa cidade e para cada um de nós e que entreguemos a ele esse ano que está iniciando.
Que o exemplo de São Sebastião nos ensine a ser bons cristãos. Amando sempre a Deus e ao nosso próximo. Queremos pedir a intercessão do nosso padroeiro para que reine em nossa arquidiocese o dom do serviço e de se colocar em favor do outro. Ó glorioso São Sebastião, dai-nos a graça de sempre buscar a justiça e o Reino de Deus.
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