Funeral de Bento XVI: padre relata a comoção do Povo de Deus
André Botelho - Jornalista - Diocese de São José do Rio Preto
Quinta-feira, 5 de janeiro de 2023. Na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa Francisco presidiu a Santa Missa exequial de seu predecessor, o Papa Emérito Bento XVI. O fato, por si só, não é inédito (já tendo, um Pontífice reinante, em 1802, enterrado aquele que o precedeu), mas certamente entrará para a História. E ela poderá ser contada por muitos fiéis, entre eles o padre Marcelo José da Silva Sampaio, responsável pela missão da Comunidade Católica Mar A Dentro em Lugano, na Suíça. “Fala-se da participação de 50 mil pessoas no funeral do Papa Emérito Bento XVI. De fato, eu cheguei bem cedo e a Praça (de São Pedro) já estava completamente lotada. Também muitos sacerdotes. E não eram só adultos: havia muitos jovens e mesmo famílias”, disse. “O tempo estava frio. Muito frio (fez 7 graus o tempo todo, céu nublado), mas o povo não se moveu. Todos queriam dar o seu adeus a ele. Até pessoas que nem mesmo eram católicas estavam ali. Eu falei com uma senhora, especialmente, e ela disse que sentia que tinha de ir porque viu o que o Papa Bento XVI fez pelo mundo”, completou o presbítero.
Nesse contexto, e em oportunidades passadas, Francisco também agradeceu as orações dedicadas pelo Papa Emérito em seu recolhimento no Mosteiro Mater Ecclesiae. “Só Deus conhece o valor e a força da sua intercessão, dos seus sacrifícios pelo bem da Igreja”, disse o Santo Padre em homilia partilhada nas Vésperas de Santa Maria Mãe de Deus.
“Um homem de grande altura moral, humildade e mansidão”
“Eu, pessoalmente, encontrei algumas vezes o Papa Bento XVI em Audiências na Praça São Pedro ou na Sala Paulo VI, mas foram encontros apenas de cumprimentar. Em uma ocasião, o nosso fundador (Pe. Antônio Dilben Rabelo Fleming) e o cofundador (Pe. Douglas Cardoso Metran) estavam presentes e, graças a intercessão de um bispo amigo, a gente conseguiu estar ali, na fila de cumprimentos. Tivemos a oportunidade de conversar, brevemente, com o Papa Emérito quando ainda estava no governo da Igreja”. As palavras do Pe. Marcelo igualmente refletem o sentimento do coordenador diocesano de pastoral, Pe. Luiz Caputo, que também acompanhou catequeses do Pontífice, na Praça de São Pedro, em 2009 e 2012. “Na primeira ocasião eu estava com um grupo na condição de Diretor Espiritual de uma Peregrinação. As palavras do Santo Padre sempre foram de grande profundidade. Voltei a estar com ele, anos mais tarde, em uma Audiência Geral, quando das comemorações pelo 50º aniversário de fundação do Serviço Social São Judas Tadeu (2012)”, completou o presbítero.
O bispo de São José do Rio Preto, Dom Antonio Emidio Vilar, sdb, também se encontrou com Bento XVI. A Audiência no contexto da Visita Ad Limina Apostolorum dos Regionais Oeste 1 e 2, realizada quando o epíscopo ainda atuava na Diocese de São Luiz Cáceres, no Mato Grosso, aconteceu em 2009.
“Um homem profundamente informado e culto”
“O Papa Bento XVI entra para a História, indiscutivelmente, além de pela grandeza do seu ato (renúncia), principalmente por seus escritos. Certamente nós vamos ver, ainda, muitos frutos da Teologia plantada por ele no coração de sacerdotes que, no seu tempo, segundo a Providência, se tornarão Bispos”. Assim como o Pe. Marcelo, outros brasileiros, de maneira ainda mais especial, se recordarão das palavras do Pontífice com grande carinho; em muito aquelas partilhadas em 2007, quando da vinda do Papa ao Brasil para a abertura da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. Na ocasião, o Pontífice se encontrou com os jovens no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. A Diocese de São José do Rio Preto contava com um grupo de representantes naquele encontro.
“O momento mais importante para mim, e para nossa Comunidade Mar a Dentro (durante as comemorações pelos 25 anos de sua fundação), foi quando, em 2015, ele já Papa Emérito, nós tivemos uma audiência particular (graças a intercessão do arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, O.Cist). Estavam lá o nosso fundador, o cofundador, eu e outros irmãos e irmãs da comunidade de vida e da comunidade de aliança. Foi um momento muito especial estar com aquele homem que havia acabado de cumprir um gesto de grandeza que a gente ainda não consegue medir: renunciar ao governo da Igreja”, partilhou o presbítero. “Eu vi ali, na nossa frente, um homem de grande altura moral, humildade e mansidão. Nós conversávamos e falávamos da nossa Comunidade no Brasil e ele ouvia com atenção. Quando mencionávamos, por exemplo, a nossa missão em Belém do Pará, ele interagia e fazia perguntas muito pertinentes. Percebíamos que era um homem profundamente informado e culto. Não fazia perguntas comuns, mas fazia perguntas pontuais muito interessantes”, completou o Pe. Marcelo.
“Santo Súbito”
“Foi uma Cerimônia especial. A homilia do Papa Francisco foi muito feliz quando ele mencionou o Cristo na Cruz e a frase de Jesus (‘Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito’) colocando isso como um programa de vida que inspira aqueles que querem se deixar modelar pelo ‘oleiro divino’. Esse foi, sem dúvida nenhuma, o programa de vida de Bento XVI. Já ao final do funeral, quando o Papa se deteve diante do caixão, tocou e rezou, as pessoas guardaram um silêncio respeitoso muito grande que só foi rompido pelas palmas. Espontaneamente alguns começaram a gritar “Santo Súbito” (Santo já). Também muitos gritos de obrigado Papa Bento XVI. Foi uma experiência muito bonita e uma Missa maravilhosa”, concluiu o Pe. Marcelo em áudio gravado no início da viagem de retorno à Diocese de Lugano, na Suíça, onde o religioso, entre outras ações de evangelização, acompanha 3 seminaristas e segue trabalhando em sua tese de doutorado.
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