A Igreja na República Democrática do Congo
Vatican News
Nesta terça-feira, 31 de janeiro de 2023, o Papa Francisco dá início à 40ª Viagem Apostólica de seu Pontificado, que o levará inicialmente à República Democrática do Congo. Na sequência, ao Sudão do Sul.
As origens da Igreja Católica na RDC
A Igreja da República Democrática do Congo está entre as mais antigas da região subsaariana. A sua primeira evangelização por obra de missionários portugueses remonta a finais do século XV, quando o rei do Kongo Nzinga Nkuwu foi batizado (3 de maio de 1491) e o cristianismo tornou-se a religião oficial do Reino.
A Igreja no Congo Belga
O catolicismo estabeleceu-se fortemente durante o domínio colonial belga (1877-1960). Data desta época a chegada dos Padres Brancos, das Missionárias de Scheut e das primeiras monjas. O Estado belga autorizou e apoiou ativamente a criação de escolas e hospitais católicos. Em 1954, a primeira Universidade do Congo, a Universidade Jesuíta "Lovanium", foi inaugurada em Léopoldville (Kinshasa). Em 1956 foi consagrado o primeiro bispo congolês, Dom Pierre Kimbondo, seguido em 1959 pela nomeação do primeiro arcebispo autóctone de Léopoldville, Dom Joseph Malula, que se tornou o primeiro cardeal do país.
A Igreja sob o regime de Mobutu
As boas relações entre o Estado e a Igreja começaram a deteriorar-se após a independência e, em particular, durante a ditadura de Mobutu Sese Seko, que por etapas procedeu à nacionalização das universidades, incluindo a Universidade Católica de Louvain, a abolição do Natal como dia festivo, a nacionalização das escolas católicas e a proibição de símbolos religiosos em edifícios públicos.
Essas políticas geraram muitos atritos com o episcopado congolês, que não hesitou em denunciar os abusos e a corrupção do regime. Se em relação à escola Mobutu foi forçado a recuar devido ao fracasso de sua política, as tensões continuaram em fases alternadas nas décadas de 1980 e 1990, com contínuas intimidações por parte do governo. Nesse contexto, foram realizadas as duas Viagens Apostólicas de São João Paulo II ao país: em 1980, por ocasião do centenário da evangelização, e em 1985, por ocasião da Beatificação da Irmã Anuarite Nengapeta, a "Santa Inês de o continente africano".
A Igreja após o fim de Mobutu
Os bispos continuaram a fazer ouvir a sua voz mesmo depois da morte de Mobutu, para denunciar as violências e abusos de poder, e sobretudo em defesa das populações vítimas dos conflitos que continuaram a sangrar o país. Mesmo à custa da vida, como aconteceu com Dom Christophe Munzihirwa, o arcebispo jesuíta de Bukavu assassinado em 29 de outubro de 1996 por milícias ruandesas aliadas de Kabila, por seu empenho em favor dos refugiados e por ter denunciado injustiças e os planos de guerra na região dos Grandes Lagos .
A vitalidade da Igreja congolesa
Apesar das vicissitudes políticas, a Igreja Católica congolesa continua a estar entre as mais fecundas da África. Testemunha disso é o crescimento dos fiéis, que representam cerca de 33% da população para 90% cristãos (sendo 22% protestantes e 19% pentecostais e evangélicos); a alta participação nas Missas, mesmo entre os jovens; o florescimento das vocações ao sacerdócio e à vida religiosa; o zelo missionário das comunidades eclesiais; o dinamismo dos leigos que participam ativamente da vida e da missão da Igreja; sua ampla presença na sociedade e na mídia.
A Igreja conta com mais de 4.000 sacerdotes diocesanos, sendo numerosos os sacerdotes Fidei Donum, missionários na África, Europa e América. A eles se somam mais de 11 mil religiosos e religiosas, comprometidos nos vários âmbitos da pastoral e cujos superiores maiores estão reunidos em dois organismos: a ASUMA (Associação dos Superiores Maiores) e a USUMA (União dos Superiores Maiores).
Grande é o ativismo dos leigos, como evidenciado pela presença de numerosas associações e movimentos laciais reunidos no Conselho do Apostolado Católico dos Leigos (CALCC). São numerosos os catequistas que contribuem para animar as comunidades, assim como os leigos empenhados em dar testemunho da fé nos âmbitos político, econômico e cultural.
Graças à sua colaboração, a Igreja congolesa é, portanto, viva, dinâmica e missionária. Uma missão que realiza também através dos meios de comunicação. Atualmente, existem mais de 30 rádios e vários canais de televisão diocesanos, aos quais devem ser adicionados jornais e publicações. A Conferência Episcopal (CENCO) já há algum tempo tem um site próprio, sempre atualizado.
Ademais, a Igreja congolesa também é um ator social de primeiro plano e é de fato o primeiro parceiro do Estado no campo educacional e da saúde, suprindo a carência de serviços públicos com a sua densa rede de hospitais, centros sociais e escolas de todos os níveis, muito apreciados pela qualidade do ensino ministrado.
Grande parte de sua classe dirigente foi educada em escolas católicas. Esta colaboração por vezes é afetada por tensões políticas no país, como aconteceu com a recente reforma escolar, relativa à decisão das autoridades estatais de tornar gratuitas todas as escolas primárias. Uma uma decisão compartilhada em princípio pelos bispos, mas que foi politizada a ponto de a Igreja Católica ser acusada de ser contra a educação gratuita.
Apesar da vitalidade da Igreja local, alguns problemas permanecem. Entre estes, uma forma superficial de viver a fé de alguns cristãos: crenças e práticas supersticiosas, feitiçarias e magias, que condicionam a vida cotidiana das pessoas e alimentam o medo e as suspeitas, ainda são difundidas nas comunidades dos fiéis. Além disso, Igrejas independentes de matriz pentecostal, e as seitas, estão se multiplicando no país. Outro desafio importante para a Igreja congolesa é representado pelos jovens que, com a falta de trabalho, se tornam presas fáceis para grupos criminosos nas cidades e para milícias locais e grupos armados estrangeiros em áreas de conflito no leste do país.
Os bispos sobre a situação sócio-política do país
Nos últimos trinta anos, a CENCO continuou a acompanhar de perto a situação sócio-política local, intervindo com mensagens e declarações nos momentos marcantes da vida nacional para denunciar as deficiências das instituições, a corrupção, a má governança, os abusos das autoridades e exortar as consciências.
Intervenções acompanhadas de iniciativas concretas para educar os cidadãos congoleses para os valores da paz e da democracia e encorajar os fiéis leigos a participar ativamente da vida política da nação. A Igreja também participa frequentemente da organização das eleições com seus próprios observadores para verificar sua correta conduta e sempre insistiu fortemente na necessidade de garantir a efetiva independência da Comissão Nacional Eleitoral (CENI) para evitar disputas que seguem pontualmente cada turno eleitoral.
Graças à confiança e credibilidade de que goza, a Igreja tem sido repetidamente chamada a intervir como mediadora e conciliadora nos conflitos que se seguiram desde o fim do regime de Mobutu. Repetiram-se nos últimos anos os apelos dos bispos pela paz no leste do país, juntamente com as queixas contra a presença de forças estrangeiras e fortes interesses em torno de suas extraordinárias riquezas minerais.
A proximidade do Papa Francisco ao povo congolês
O sofrimento do povo congolês tem estado constantemente no centro das preocupações do Papa Francisco, cuja Visita Apostólica ao país prevista para julho, e depois adiada para 2023, incluiu inicialmente também uma escala na atormentada província de Kivu do Norte para encontrar as vítimas da violência. Uma etapa que foi cancelada do programa justamente pela insegurança que persiste na região.
Seus apelos e expressões de proximidade aos congoleses se repetiram durante seu pontificado. Em particular, recorda-se a especial vigília de oração pela paz no Congo e no Sudão do Sul por ele presidida na Basílica de São Pedro em 23 de novembro de 2017 e o Dia de Oração convocado para 23 de fevereiro de 2018 após o adiamento, por motivos de segurança, de sua viagem ao Sudão do Sul junto com o primaz anglicano inglês Justin Welby, que havia sido anunciada para 2017. Naquelas ocasiões, o Pontífice voltou a pedir esforços adequados, sobretudo por parte da comunidade internacional, na busca da paz nestes dois países, por meio do diálogo e da negociação.
Após o novo adiamento da sua Viagem Apostólica aos dois países prevista para o verão de 2022, numa mensagem vídeo divulgada a 2 de julho passado, o Papa Francisco voltou a reafirmar a sua proximidade e afeto a estes dois povos: "Trago em mim, na oração , o sofrimento que vocês vivenciam há muito, muito tempo", disse o Papa, exortando as populações do Congo e do Sudão do Sul a não deixar que sua "esperança seja roubada".
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