Fortunata Bakhita Quascè, a força da liberdade e da fé contra a escravidão
Maria Milvia Morciano – Vatican News
"É uma mulher que merece absolutamente ser redescoberta. Sua vida não era apenas extraordinária, mas também cheia de aventuras, quase como um romance". É assim que a jornalista e escritora Maria Tatsos descreve a figura de Fortunata Bakhita Quascè, a primeira religiosa africana comboniana que viveu no século XIX, a quem dedicou um livro intitulado Fortunata Bakhita Quascè - Uma mulher livre contra a escravidão, apresentado na Sala Marconi do Palazzo Pio.
Uma figura a ser redescoberta
Fortunata Bakhita foi a primeira madre Missionária da Nigrizia sudanesa. Uma vida extraordinária, tanto em termos humanos quanto espirituais, e ainda uma figura que por muito tempo permaneceu praticamente desconhecida, e de fato confundida com Josefina Bakhita a famosa santa religiosa sudanesa. O livro de Maria Tatsos, uma autora sempre sensível às questões femininas, foi publicado em colaboração com o Instituto das Irmãs Missionárias Mães da Nigrizia.
Biografia
Nascida por volta de 1845 nas montanhas Nuba, atual Sudão do Sul, faleceu jovem em 1899. Quando criança, Fortunata foi sequestrada por traficantes de escravos e libertada por um sacerdote e levada para a Itália onde teve a oportunidade de estudar, o que era muito raro para uma criança da época. Tornou-se religiosa com idade bastante avançada por volta dos 35 anos, portanto como uma mulher consciente de ter feito uma "escolha muito precisa que durou a vida inteira", afirma a autora do livro. "Todos os episódios dos quais ela foi vítima e ao mesmo tempo protagonista denotam que ela era uma mulher livre, capaz de uma autonomia pessoal, de pensamento, e nisto uma figura também extremamente moderna que pode nos falar nos dias de hoje".
Uma mulher livre e de fé
Maria Tatsos conta que "para tornar sua história mais próxima de um público em geral, foi feita a escolha de dar ao livro uma inclinação de romance histórico". Obviamente, ao fazer isso, tivemos muito cuidado em adaptar os fatos históricos reais, de modo que não há nada inventado dentro da história, com exceção de alguns personagens, mas tudo o que se refere à Fortunata corresponde exatamente à sua história pessoal e de seus contemporâneos, que viveram com ela. Ela foi basicamente uma mulher livre, uma mulher com autonomia de pensamento que derivava da sua grande fé. Tornar-se missionária não foi uma escolha casual". E conclui: "É uma figura que, se me permitem, eu quase definiria como imagem de empoderamento feminino, um modelo de mulher que nos ensina como a fé e o saber dão liberdade, como podem ajudar a melhorar a sociedade e a criar um novo mundo. Fortunata dá uma mensagem muito atual, válida tanto para os que são religiosos como para os leigos".
Superar os limites
A próxima edição do “Mulheres, Igreja e Mundo”, publicado pelo Osservatore Romano terá como tema a obra missionária feminina. Contará séculos de história, mas acima de tudo questionará as razões que levam tantas mulheres a esta escolha e o significado de serem missionárias hoje. Gabriella Bottani, missionária comboniana e ex coordenadora internacional do Movimento Talitha Kum diz: "Para mim, ser missionária é deixar-me abraçar pelo amor de Deus e deixar que este amor que me abraça me leve a superar fronteiras, me leve a superar as divisões que construímos para nós mesmos e que nossa sociedade, às vezes com injustiça, nos impõe. Isso exige que superemos as fronteiras culturais, e que o façamos acima de tudo abraçados pelo amor de Deus em Cristo".
A dignidade da mulher em Cristo
Fortunata Bakhita Quascè representa um exemplo de história: foi uma pioneira, uma heroína. Deixou uma marca indelével naqueles que conheceram sua história, como aconteceu com a irmã Bottani: "Eu conheci a vida de Fortunata em 2005-2006, quando foi publicada a primeira pesquisa histórica da irmã Maria Vidale, e foi logo no início, quando me deparei com situações de mulheres crianças, vítimas de violência e abuso. Fortunata Quascè me acompanhou com seu pensamento e eu percebi que esta mulher falava de uma maneira especial àqueles que haviam sido vítimas de violência. Uma mulher que tinha vivido a escravidão, que tinha sido educada no mais alto nível possível para uma mulher do século XIX no Sudão do Sul, e que encontrou Daniele Comboni e decidiu fazer parte do projeto e voltar à África para educar as meninas que tinham sido resgatadas da escravidão. Ela é uma mulher de coragem, uma mulher que interiorizou a liberdade e deixou de viver relações de submissão. É uma mulher que descobriu o valor da sua dignidade em Cristo. É uma mulher que me diz muito, e estou convencida de que ela tem muito a dizer a muitas mulheres hoje em dia, mesmo na Igreja".
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