Schevchuk: Senhor, em teu batismo Tu estás mergulhando na dor e no sofrimento da Ucrânia
Cristo nasceu!
Queridos irmãos e irmãs em Cristo, hoje é terça-feira, 17 de janeiro de 2023, e na Ucrânia já é o 328º dia da grande guerra em vasta escala que o invasor russo trouxe para nossa terra.
Há um sensação geral da escalada desta guerra. Os ataques russos estão se intensificando não apenas na linha de frente, mas também em nossas pacíficas cidades e vilarejos. Nossas regiões de Donbass, Luhansk e Donetsk estão ardendo em chamas. Batalhas pesadas estão sendo travadas nas já lendárias cidades de Avdiivka, Bakhmut e Soledar. Nossos soldados se defendem bravamente contra o inimigo, que é muito mais numeroso que nossos defensores. De acordo com os relatórios desta manhã, ontem, em apenas um dia, nossos militares repeliram 20 ataques dos ocupantes russos contra nossas cidades e vilarejos. As operações de resgate e busca acontecem há vários dias na cidade ferida de Dnipro. O inimigo atingiu um pacífico condomínio densamente habitado com o míssil projetado contra porta-aviões, destruindo mais de 200 apartamentos onde as pessoas estavam residiam. Até o momento, o número de mortos recuperados dos escombros aumentou para 40. Esse fato causou grande dor na Ucrânia hoje, e vemos que nenhuma cidade ou vilarejo pode se sentir seguro.
O inimigo está sempre procurando novas maneiras de atingir a população civil. Nosso Kherson é o epicentro de um novo ataque dos russos que estão bombardeando sistematicamente os hospitais desta cidade. Um hospital infantil foi cinicamente destruído nos dias de hoje. Queremos lembrar a todos mais uma vez que esse tipo de crime contra a população civil é uma violação do direito humanitário internacional aplicado a qualquer conflito militar, qualquer confronto armado. Mas parece que o ocupante russo está lutando principalmente contra a população civil da Ucrânia.
As crianças são as que mais sofrem. Nosso coração dói acima de tudo por elas. De acordo com relatórios das autoridades estatais ucranianas, em 16 de janeiro deste ano, 336 crianças são consideradas oficialmente desaparecidas; 455 crianças morreram. Estes são apenas casos documentados. 897 foram feridas. Mas, graças a Deus, 9.916 crianças foram encontradas nestes eventos tempestuosos de operações militares na Ucrânia.
Hoje, esta manhã, queremos começar nosso novo dia novamente com a ação de graças. Obrigado ao Senhor Deus e às Forças Armadas da Ucrânia por estarmos vivos, por podermos estar diante da face de Deus e servir aos mais necessitados, por sermos capazes de servir a vida humana, salvando a dignidade e a vida das pessoas.
Hoje queremos dizer ao mundo inteiro: a Ucrânia resiste! A Ucrânia luta! A Ucrânia reza!
Nestes dias, a liturgia da nossa Igreja aproxima-nos dia a dia da grande festa da Epifania, o Batismo do nosso Salvador no rio Jordão. A tradição da Igreja Bizantina coloca a festa da Epifania no mesmo pedestal da festa da Natividade de Cristo. São duas festividades que ecoam uma à outra e se complementam, uma explicando a outra. Falamos ontem que o tropário da pré-festa da Epifania faz apelo à terra, nos arredores da região da Transjordânia, com o apelo “Preparai-vos!”, e dirige-se ao rio Jordão: “Acolhe o Senhor que vai ser batizado”.
Hoje gostaria de refletir com vocês sobre o significado dos nossos textos litúrgicos enquanto descrevem o lugar e as circunstâncias, os gestos daquele estranho ato da descida de Deus nas águas do Jordão. Hoje, nas matinas, cantamos as stichiras que proclamavam o seguinte: "Este mistério é grande e temível; Deus se fez semelhante aos homens e, completamente puro do pecado, como o culpado, pede a João que o batize no Jordão. Bendito és Tu quem veio, nosso Deus, glória a Ti!
A palavra "batizar" significa, antes de tudo, imergir. E hoje, a liturgia de preparação para esta festa coloca diante dos nossos olhos o nosso Deus Salvador, que, como no Natal, se humilha, desce ao homem. E esta descida de Deus também tem sinais topográficos claros. Sabemos muito bem que o rio Jordão flui em uma falha tectônica na crosta terrestre e é o nível mais baixo da Terra. Ou seja, indo para aquelas regiões acima do Jordão, nosso Salvador realmente desce. Cantamos essa descida de Deus no Natal como sacramento da encarnação de Deus, que desceu do céu à terra e se fez homem. Na Epifania jordaniana, o significado das consequências desta descida divina parece revelar-se ainda mais profundamente. Cristo vai ao Jordão para ser batizado. Ao ouvir essa palavra na língua ucraniana hoje, podemos não entender totalmente o significado desse gesto. "Batizar" significa literalmente imergir. Cristo vai mergulhar nas águas jordanianas. Mas este gesto de imersão no batismo de João significa a purificação dos pecados. Tirar as próprias impurezas. E hoje a liturgia revela esta antinomia: como é possível batizar uma pessoa santa e sem pecado? Como é possível que o puro peça outra purificação?
Este é um grande mistério. Cristo, o Filho de Deus, completamente puro do pecado, pede o batismo como um culpado? Na realidade, vemos que a imersão de Cristo na descida às águas do Jordão significa a imersão de Deus na história humana; a imersão de Deus nas circunstâncias humanas da vida; a imersão dos puros nas consequências do pecado humano. Cristo, descendo às águas do Jordão, pedindo a João esta imersão, assume sobre si os pecados dos seres humanos. Podemos dizer figurativamente que naquele Jordão muitas pessoas foram batizadas, lavadas, como se tivessem deixado seus pecados, e Cristo, mergulhando, os assumiu sobre si. Portanto, quando ele sair da água, sair dessa profunda humilhação de si mesmo, João dirá dele: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo!"
A imersão de Cristo nas águas do Jordão é o momento em que Ele toma sobre Si os pecados do homem. Ele vem para levar nossas iniquidades. Ele vem para assumir as consequências dos pecados da humanidade e então, quando morrer na cruz, os destruirá. Hoje desce ao ponto topográfico mais baixo da massa continental, mas parece ser um precursor de sua descida às profundezas sob a terra durante seu sacramento pascal. E sua saída das águas batismais do Jordão será um presságio de sua ressurreição dentre os mortos. Este é um grande mistério. Aquele que está sem pecado, como uma pessoa culpada, pede a João que o batize no Jordão.
Senhor, sabemos que em teu batismo hoje Tu estás mergulhando na dor e no sofrimento da Ucrânia. Carrega sobre ti nossos pecados, carrega os pecados de nosso povo sobre ti para nos purificar. Tu, como um culpado, pede o batismo no lugar dos verdadeiros culpados. Tu és o único Santo, com a tua santidade nos purificas, os fracos. Dai-nos força, limpa nossa terra ucraniana de todas as impurezas! Sobretudo daquela que traz morte e destruição. Senhor, tu que mergulhas nas águas do Jordão, bendito sejas, porque vens a nós como o Deus vivo revelando-nos nossas circunstâncias. Deus, abençoe nossa terra ucraniana, nosso exército! Deus, Jesus Cristo, Filho de Deus, abençoe nossa Pátria com Sua paz celestial!
Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês por meio de Sua graça e amor pela humanidade, agora e para todo e sempre, amém!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Svyatoslav+
Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
17.01.2023
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