Igreja do Caribe inicia Encontro Sinodal como Povo de Deus
Padre Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
Cerca de 50 representantes das Conferências Episcopais da Região das Caribe estão reunidos em Santo Domingo até 24 de fevereiro, trazendo consigo as reflexões e o discernimento de cada Conferência Episcopal, e assim, em conjunto, modelando sinodalmente o futuro da Igreja em cada região, no continente e no mundo.
Em nome da Conferência Episcopal Dominicana, Dom Santiago Rodríguez, presidente do Instituto Nacional de Pastoral, deu as boas-vindas aos participantes, recordando importantes momentos históricos na Igreja Dominicana, bem como a importância dos títulos marianos para o povo dominicano. Um processo sinodal que o Bispo de San Pedro de Macorís vê como uma oportunidade para "grandes emoções e experiências, adquirindo novos impulsos, conhecimentos, métodos e expressões para responder aos grandes desafios da missão evangelizadora do Povo Santo de Deus".
O prelado recordou a importância da Assembleia Eclesial da América Latina, onde "percebemos a importância de ser uma Igreja em saída, que escuta, que acolhe, e a importância de caminharmos juntos para uma Igreja sinodal em comunhão, participação e missão". Um caminho vivido no amor, na experiência comum da fé, que "deve irradiar aqueles laços que nos unem como Igreja, uma comunidade cristã que partilha com um coração e um espírito", uma unidade que se realiza na diversidade dos membros e que têm a perspectiva de formar uma comunidade, um objetivo que o Papa Francisco quer alcançar com o apelo a ser uma Igreja sinodal.
Dom Faustino Burgos Brisman recordou a história da Catedral Primaz da América, onde teve lugar a abertura do encontro. Em nome do arcebispo de Santo Domingo, o bispo auxiliar e secretário do episcopado dominicano deu as boas-vindas aos participantes, pedindo um momento frutuoso.
Em nome da Vida Religiosa, José Luis Jiménez Portes, disse ver neste encontro uma oportunidade de ligação "ao processo de evangelização e conversão que nós, como Igreja latino-americana, temos vindo a atravessar há mais de 500 anos". Um momento com o qual "o Povo de Deus em peregrinação nestas terras quer avançar por este caminho de sinodalidade, recriando a Igreja que, sendo o Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo, comunica a toda a humanidade a vida e a beleza que é o Evangelho".
O presidente da Vida Religiosa no país destacou "a riqueza da escuta, o impulso para continuar a acompanhar este povo que sofre, que luta, que sonha e que encarna o apelo à evangelização através da construção da comunidade e da Igreja". A par disto, a importância da fase consultiva, que dentro do processo sinodal, "nos permitiu nomear os nossos pontos fortes e fracos, as nossas oportunidades e ameaças, ajudou-nos a identificar os sinais dos tempos que hoje nos desafiam com maior urgência", mas que também nos levou a caminhar juntos e "procurar a melhor resposta para todos estes desafios". Um caminho que resumiu em 5 palavras: escutar, trabalhar em conjunto, responder ao presente, criar estruturas dinâmicas e funcionais, e celebrar e dar o dom da fé.
Dom Miguel Cabrejos começou por destacar a importância da categoria Povo de Deus, introduzida com o Concílio Vaticano II, na qual o Papa Francisco tanto insiste, e que "nos permite afirmar a igualdade de todos os fiéis na dignidade da existência cristã e a desigualdade orgânica ou funcional dos membros". É uma eclesiologia que nasce da "dignidade batismal como critério estruturante para a configuração da identidade de todos os sujeitos eclesiais", insistiu o presidente do Conselho Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam), que colocou as subjetividades eclesiais na base da dignidade batismal partilhada e da participação de todos no sacerdócio comum.
Daqui surge a abordagem do Vaticano II sobre "uma nova hermenêutica inspirada na lógica do todo", com três sujeitos eclesiais entre os quais o mais importante é o Povo de Deus, pois exprime a totalidade e constitui "o único sujeito ativo e fundamental de toda a ação e missão da Igreja", o que supõe "uma nova compreensão da forma como as identidades dos sujeitos eclesiais são configuradas", em que a Igreja é vista com base no Batismo e não na hierarquia, segundo Dom Miguel Cabrejos, que defendeu os encontros eclesiais e não apenas episcopais.
No que diz respeito ao discernimento comunitário, que é muito importante compreender, "reconhece o Povo de Deus como sujeitos de discernimento", insistiu o prelado, inspirado pela Lumen Gentium. Todos são chamados a escutar atentamente e a discernir em vista do diálogo e do discernimento, o que requer uma escuta mútua que nos motiva "a afastarmo-nos do eu isolado com as suas ideias e conceitos preferidos em direção à comunhão no nós", como diz o Documento de Aparecida e retoma Evangelii Gaudium.
Seguindo o que foi dito na Gaudium et Spes, o prelado peruano insistiu que "ouvir os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho é um dever para a Igreja". A escuta é inerente à Igreja e o discernimento é uma atitude e um desafio. A partir daí, ele apelou ao escrutínio dos sinais dos tempos e ao seu discernimento à luz do Evangelho como um desafio para a Igreja de hoje. Isto "requer uma grande abertura interior ao Espírito de Deus, que sopra onde quer e quando quer", e que está a trabalhar "na história do nosso mundo ferido, renovando a face da terra e trazendo nova vida em situações de morte".
Dom Cabrejos afirmou que "através de uma leitura crente e perspicaz dos sinais dos tempos, com a graça de Deus, podemos permitir, no meio de realidades duras e desafiadoras, fatos positivos, cheios de significado e humanidade". Para o presidente do Celam, "eles são sinais, cheios de esperança, e comunicam-nos a presença ativa do Espírito, encorajam-nos no nosso compromisso comunitário para com o Reino de Deus".
Ao mesmo tempo, o presidente do episcopado peruano salientou a importância de "olhar com olhos de fé e coração perspicaz para uma realidade profundamente marcada por injustiças, divisões e descartes desumanos", como um elemento que "nos leva a tomar consciência do potencial transformador da presença de Deus, que também nestas situações profundamente chocantes e dolorosas, promete e promove a vida plena". Estes são sinais em que "Deus fala ao nosso coração" e que nos levam a refletir sobre a relação do ser humano com Deus, com o nosso próximo e com toda a Criação.
Nas palavras do presidente do Celam, "o discernimento comunitário dos sinais dos tempos é também uma importante expressão da corresponsabilidade de todos os membros do Povo de Deus na Igreja e da sua missão no mundo de hoje", algo que apareceu na escuta da Assembleia Eclesial e no atual processo sinodal, que está presente no sensus fidei e leva a descobrir o que realmente vem de Deus. Um discernimento comunitário, presente nos Atos dos Apóstolos, ao qual a Igreja é chamada a regressar, como foi indicado no recente encontro com as igrejas da América Central e do México.
Neste sentido, Dom Miguel Cabrejos salientou que "a prática do discernimento comunitário é essencial para crescer em sinodalidade e para caminhar realmente juntos na nossa Igreja", algo que será levado a cabo durante o encontro, e para isso apontou a necessidade de "aprender a arte do discernimento comunitário, a fim de avançar no caminho de uma Igreja participativa e corresponsável". Isto com a contribuição de todos os membros da Igreja e numa dinâmica em que "o transbordamento do amor criativo do Espírito nos impele a ser uma Igreja sinodal que, como tal, não deve preocupar-se com a sua própria autopreservação, mas ser capaz de sair para proclamar o Evangelho".
A sinodalidade, algo que Dom Cabrejos descreveu como emocionante, porque é o caminho da Igreja no século XXI, "não é um conceito a ser estudado, mas uma vida a ser vivida", porque a única maneira de compreender a sinodalidade é vivê-la. Um processo que ninguém sabe como terminará, o que exige "permanecer aberto ao Espírito para nos conduzir no processo de escuta, discernimento e caminhar juntos em direção ao Reino de Deus". A partir daí, salientou a importância de "contextualizar a questão da sinodalidade a todos os níveis", salientando que "em cada nível, a sinodalidade deve ser adaptada a um contexto específico, desde que seja colocada no contexto da Comunhão, Participação e Missão".
Isto é vivido a nível continental, porque permitirá "enriquecer a sua própria identidade como Igreja, contextualizar a sinodalidade dentro da Igreja e tornar a sinodalidade uma realidade verdadeiramente autêntica na vida quotidiana da sua Igreja". A partir daí apelou a ver esta etapa continental e os diferentes encontros como uma oportunidade para fazer "ouvir a voz da América Latina e do Caribe no mundo como um Continente", que será reunida na síntese continental, e para ouvir "a sua própria voz no seu próprio solo sobre o que quer para si".
Um caminho conjunto em que a alma é o Espírito, que forja corações e nos ensina a viver em comunidade, respeitando a diversidade sem quebrar a unidade. Um encontro que começou na mesma Catedral onde o Papa João Paulo II presidiu à Eucaristia com a qual foi aberta em 1992 a IV Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, que insistiu na conversão, no compromisso de aprofundar a luta pela justiça e pelos direitos humanos, e acima de tudo na missão.
Um encontro inspirado na figura de Frei Antônio de Montesinos e no seu grito profético que "promoveu e protegeu a liberdade dos mais desprotegidos", como recordou a Irmã Daniela Cannavina. Montesinos chegou em 1510 ao local onde se realiza este encontro como parte de "uma comunidade pobre, que quis anunciar a Palavra a partir de um contexto de inserção na realidade", de acordo com a secretária-geral da CLAR. Algo que teve lugar entre aqueles que sofreram exploração, maus-tratos, onde o sangue de muitos inocentes correu, algo que permanece até hoje.
Uma comunidade que "lê os fatos, examina a realidade, ilumina-a à luz do Evangelho, a opressão desumana sofrida pelo povo indígena daquela época faz flutuar um grito e atravessa todo o tempo, o grito de Frei Antônio de Montesinos", segundo a Irmã Daniela. A religiosa destacou o discurso de alguém que mostrou que os indígenas tinham alma, coração, sentimento, o que teve um grande impacto, deixando algumas pessoas fora dos seus sentidos, movidas de compaixão, mas que também deixou outros notáveis indignados e exigiu uma retratação pública.
O grito de Montesinos foi o primeiro grito libertário na América Latina, mas não foi o único, como recorda o Documento de Puebla, recordando aqueles que defenderam os povos indígenas contra os conquistadores, exemplos que mostram como a Igreja promove a dignidade e a liberdade dos homens e mulheres latino-americanos. Uma realidade que se repete após mais de 500 anos, que mostra que "os nossos povos da América Latina e do Caribe são recheados por gritos proféticos que foram silenciados, mas continuam a partir dos diferentes pontos cardeais, continuam a dizer-nos que a vida deve ser dada, nunca deve ser retida", insistiu a religiosa, que apelou a uma mudança de direção e interrogou os presentes com diferentes perguntas, convidando-os a responder à luz do Espírito.
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