Catequese quaresmal II: “Oração, alimento da vida cristã”
Vatican News *
Ao tomarmos consciência da nossa vida cristã, é impossível não tomarmos consciência da necessidade natural da oração. No tempo da quaresma somos convidados a renovar e reforçar nossa vida oracional, porque a oração é para a alma como o ar para os pulmões e a sobrevivência humana. O Catecismo da Igreja Católica, n. 2558, declara que, uma havendo deixado a fé penetrar em nossos corações e conduzir-nos por um estilo de vida segundo a proposta de Jesus Cristo, “este mistério [de fé] exige, portanto, que os fiéis nele creiam, o celebrem e dele vivam, numa relação viva e pessoal com o Deus vivo e verdadeiro”.
O Catecismo, retomando um pensamento de S. João de Damasceno, no n. 2559, diz o que é a oração: “é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes”. O Papa Francisco completa esse pensamento, ao afirmar que “a oração, [é] expressão de abertura e de confiança no Senhor: é o encontro pessoal com Ele, que abrevia as distâncias criadas pelo pecado. Rezar significa dizer: ‘Não sou autossuficiente, tenho necessidade de ti, Tu és a minha vida e a minha salvação’” (Homilia, 10.02.2016).
Essa “elevação da alma” é um gesto de reconhecimento de Alguém que sabemos ser maior do que nós! Isso significa reconhecer nossa pequenez e fragilidade, e erguer o coração ao alto, entendendo-nos necessitados. Desse modo, a oração nos auxilia a crescer na humildade, que não é sem alegria, mas é “a humildade [como] a disposição necessária para receber gratuitamente o dom da oração: o homem é um mendigo de Deus”, retomando um pensamento de Santo Agostinho (CIC, n.2559).
Em verdade, “chamamos de ‘oração’ a essa forma de rezar que consiste em pôr-se na presença de Deus durante um tempo mais ou menos longo, em solidão e em silêncio, com o desejo de entrar em íntima comunhão de amor com Ele” (Jacques Philippe, Tempo para Deus – Guia para a vida de oração, p. 03). Temos que programar alguns hábitos para uma boa vida de oração. O primeiro é a DISPOSIÇÃO INTERIOR. Aliás, “seria perfeitamente ilusório pretender progredir na oração se toda a nossa vida não fosse marcada por um desejo profundo e sincero de nos darmos totalmente a Deus, de amoldar o mais totalmente possível a nossa vida à vontade divina” (Jacques Philippe, op. cit., p.34).
Outro ponto necessário: a PERSEVERANÇA; pois, uma vez que “a oração cristã é uma relação de aliança entre Deus e o homem em Cristo” (CIC, n.2564), sendo uma aliança, exige perseverança a todo custo. Não nascemos sabendo rezar, S. Paulo é firme nessa afirmação: “não sabemos orar como convém” (Rm 8,26). Então, antes de pretendermos uma oração plena, ou que nos satisfaça, tenhamos em conta que “a qualidade [da oração] será fruto da fidelidade” (Jacques Philippe, op. cit., p. 12).
Outros dois pontos para nos ajudarem na busca de uma vida de oração autêntica são a intenção da nossa oração e a saída ao encontro dos irmãos. A RETA INTENÇÃO significa o querer viver somente para Deus: “e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2,20). Concluímos que “devemos fazer oração não pelas satisfações pessoais ou benefícios que nos possa trazer (...), mas principalmente para agradar a Deus, porque Ele no-lo pede” (Jacques Philippe, op. cit., p.14).
A oração realizada com disposição interior, perseverança e reta intenção, sem dúvida NOS CONDUZIRÁ AOS IRMÃOS, pois ela produz frutos, e “não devemos orientar o pensamento para Deus apenas quando nos aplicamos à oração [mental]; também no meio das mais variadas tarefas – como o cuidado dos pobres, as obras úteis de misericórdia ou quaisquer outros serviços do próximo – é preciso conservar sempre vivos o desejo e a lembrança de Deus” (LH/III, Ofício de Leituras, Sexta-feira após as Cinzas).
A oração na vida cristã é alimento do qual não se pode descuidar. Nesta Quaresma abeiremo-nos cada vez mais da oração, pessoal e comunitária. Procuremos tempo para a oração pessoal, tomemos a Palavra de Deus nas mãos ou, simplesmente, olhemos para o Senhor no Sacrário e Ele estará olhando para nós. Papa Francisco, há algum tempo afirmava: “Há um dito entre nós que recita assim: ‘Diz-me como rezas e dir-te-ei como vives, diz-me como vives e dir-te-ei como rezas’; porque, mostrando-me como rezas, aprenderei a descobrir o Deus vivo e, mostrando-me como vives, aprenderei a acreditar no Deus a quem rezas, pois a nossa vida fala da oração e a oração fala da nossa vida. Aprende-se a rezar, como se aprende a caminhar, a falar, a escutar. A escola da oração é a escola da vida, e a escola da vida é o lugar onde fazemos escola de oração” (Homilia, México, 16.02.2016).
Fortaleza, 08 de março de 2023
*Pe. Rafhael Silva Maciel
Presbítero da Arquidiocese de Fortaleza
Missionário da Misericórdia
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui