Início da Assembleia Sinodal do Cone Sul: um encontro de experiências eclesiásticas
Padre Modino - CELAM
Dom Joel Portella Amado, em nome da presidência CNBB e de toda a equipe que no silêncio de seus trabalhos está buscando acolher da melhor forma, saudou “a cada irmão e irmã que, vindo de suas terras natais, com suas experiências eclesiais, traz a alegria de ser Igreja e o sonho de que essa mesma Igreja seja sempre mais sinodal”. O secretário geral da CNBB disse que “o Brasil se alegra com a presença de cada um, de cada uma”, pedindo “que o Deus-Comunhão nos conceda uma semana fecunda”.
A vida religiosa como portadora das exigências do povo
Em nome das Conferências dos Religiosos do Cone Sul, a irmã Eliane Cordeiro, saudou os participantes da assembleia sinodal. A vida religiosa intitula-se "filhas e filhos desta terra que sofre e compartilha a dor de tantas irmãs e irmãos que foram forçados a deixar a sua terra buscando de um futuro melhor". A partir daí querem ser "porta-vozes do clamor de centenas de povos ameaçados por um crescimento económico desenfreado que não respeita a dignidade do ser humano, dos povos originários e que prejudica profundamente a natureza, nossa Casa Comum".
Em unidade com o Papa Francisco, juntam-se à construção de "uma comunidade de irmãs e irmãos capazes de acolher a vida, olhar seu pecado, assumir os seus erros, pedir perdão e reparar os danos causados aos mais vulneráveis", sendo fiéis ao Projeto de Jesus. Uma Vida Religiosa que fez o caminho sinodal, que "sentámo-nos à mesa com outras e outros para escutar e discernir o apelo do Senhor Jesus, que nos fala através da nossa história. Uma história cheia de luzes e sombras que nos desafia a sermos cada vez mais proféticos, coerentes com a mensagem do Evangelho e corresponsáveis na missão da Igreja".
A presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil insistiu que "olhamos com grande esperança o caminho percorrido e para aqueles que estão à nossa frente como Igreja", chamando a superar medos e a crescer em confiança, a "responder ao desafio para o qual o Espírito nos chama: ser profecia e comunhão: uma Igreja verdadeiramente sinodal".
A Igreja somos nós
O arcebispo local, cardeal Paulo César Costa, deu as boas-vindas aos recém-chegados a Brasília, uma cidade e uma Igreja jovem, que ele definiu como uma síntese de todo o Brasil. Uma Igreja com um laicato participativo e um numeroso clero, numa cidade que acolhe os três poderes da República e os organismos da Igreja no Brasil. Seguindo o texto da Transfiguração, o Cardeal insistiu que a Igreja, a túnica de Cristo, somos nós, que a tornamos mais bela ou mais feia. Nas suas palavras, salientou a importância do Concílio Vaticano II como o momento em que o caminho da sinodalidade e da comunhão começou, um caminho tomado pela Igreja na América Latina e no Caribe.
Finalmente, insistiu em ser uma Igreja de servos, destacando a capacidade que o Papa Francisco tem de ler a realidade, de descobrir o que o Espírito faz entre nós, algo presente na vida da Igreja desde o início. Uma realidade que desafia a Igreja a encontrar novos ministérios de evangelização que respondam à vida concreta do povo e da própria Igreja, em fidelidade ao Senhor.
Igualdade de todos através da dignidade batismal
Um encontro do Povo de Deus, categoria cuja incorporação no caminho da Igreja pode ser considerado o grande ponto na eclesiologia durante o Concílio Vaticano II, afirmou dom Miguel Cabrejos. O presidente do Celam salientou a opção dos padres conciliares de reconhecer a participação de todos os membros do Povo de Deus, "estabelecendo assim a igualdade de todos através da dignidade batismal como critério estruturante para a configuração da identidade de todos os sujeitos eclesiais".
Com o Vaticano II, os sujeitos eclesiais "foram definidos com base na dignidade batismal partilhada e na participação de todos no sacerdócio comum". Com o caminho sinodal, o objetivo é "pôr em prática uma nova hermenêutica inspirada na lógica do todo", organizada na base de todos (o Povo de Deus), alguns (os Bispos) e finalmente um (o Bispo de Roma). Não há três sujeitos eclesiais, afirmou o presidente da Conferência Episcopal Peruana, mas apenas um, o Povo de Deus, o único sujeito ativo e fundamental de toda a ação e missão da Igreja.
A consequência disto é a corresponsabilidade resultante de cada um dos seus membros. Estabelece-se um ministério hierárquico ligado à comunidade, algo já presente na Igreja primitiva, e o bispo "deve colocar-se de novo entre o povo de Deus a ele confiado".
Aprofundar a dimensão pneumatológica
Para dom Cabrejos, a recuperação e o aprofundamento da dimensão pneumatológica ajuda na recepção atual do sensus fidei, algo assinalado pelo cardeal Grech. A partir daí afirmou que "escutar o Povo de Deus é ouvir verdadeiramente o que o Espírito diz à Igreja". Escutar é mais do que uma pesquisa, é assumir uma dinâmica comunitária e espiritual no sensus fidei fidelium, é compreender que "o depósito da fé é confiado a todo o Povo de Deus, que o preserva, professa e transmite", insistiu ele.
A escuta mútua é vista pelo prelado peruano como "um elemento constitutivo de uma Igreja sinodal", o que conduz a "consulta, diálogo, discernimento comum, conselho, tomada de decisões e prestação de contas". Estas são dinâmicas que "criam um ambiente favorável para gerar processos de conversão", especialmente na hierarquia, levando ao entendimento de que "é precisamente ao nível dos processos de tomada de decisão e de construção de consenso que está em jogo a nossa capacidade de imaginar e construir um novo modelo eclesial institucional para a Igreja sinodal do Terceiro Milénio".
Dom Cabrejos salientou a inspiração do Espírito ao Papa quando decidiu que este Sínodo deveria ser realizado a todos os níveis e em todos os contextos. A partir daí, insistiu que a sinodalidade a nível continental dá à América Latina e ao Caribe a oportunidade de enriquecer a sua própria identidade como Igreja, apelando a "dar um sentido de orientação à nossa Igreja latino-americana e caribenha de hoje e de amanhã".
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