Arcebispo de Kirkuk e os frutos da viagem do Papa ao Iraque em 2021
Delphine Allaire - Cidade do Vaticano
Dois anos atrás, um encontro histórico no Iraque entre um sumo Pontífice e um aiatolá xiita. Em 6 de março de 2021, 45 minutos de conversa a portas fechadas entre o Papa Francisco e Ali al-Sistani na cidade sagrada para os xiitas de Najaf, ao sul de Bagdá. 6 de março é feriado no Iraque, decretado o Dia Nacional da Tolerância e convivência, um dos frutos da visita do Santo Padre à pátria de Abraão e berço das primeiras civilizações.
Na entrevista ao vatican News, Dom Yousif Thomas Mirkis, arcebispo caldeu de Kirkuk, no norte do país, retoma o tema do objetivo da Viagem Apostólica, falando sobretudo na imagem do Iraque.
Dois anos depois da histórica peregrinação do Papa Francisco ao Iraque nas pegadas de Abraão, que frutos semeados começam a ser colhidos?
Pouco a pouco, como país, o Iraque foi sendo atrelado à globalização positiva que o Papa deseja. Nós somos muito sensíveis a isso, porque no passado fomos isolados do mundo, banidos das nações por causa do antigo regime, há exatos vinte anos. O Iraque foi banido. O fato de o Papa nos visitar mudou nossa imagem, como nos viam do exterior, e por dentro também nos vemos de maneira diferente.
Como tem progredido o diálogo com os xiitas desde o encontro histórico, o primeiro do gênero, entre o Papa Francisco e o aiatolá Ali al-Sistani, o mais alto dignitário xiita no Iraque?
O problema do diálogo inter-religioso hoje é diferente do que se pensava há trinta anos, ou em seus primórdios pós-Vaticano II. Cada religião agora está debatendo dentro de si mesma, questionando. Os paradigmas mudaram: antes, todos entricheirados nas próprias convicções, fixas e imutáveis. Hoje, cada denominação religiosa encontra problemas dentro de si, principalmente de forma intergeracional. Por exemplo, a visita do Papa em 2021 foi concomitante ao grande movimento de manifestações de jovens iraquianos, iniciado em outubro de 2019, continuado em 2020. Esses jovens, apesar das vítimas das milícias, enfrentaram a repressão. 800 jovens manifestantes perderam a vida. Eles simplesmente gritavam: "Queremos uma pátria, queremos ser não violentos". Isso é único na história do Iraque. Acredito que hoje o que era impensável há vinte anos se torna possível e plausível hoje. Em todos os níveis de responsabilidade.
Qual é o estado de espírito dos cristãos do Iraque hoje, a quem o Papa veio encorajar há dois anos?
O Iraque ainda está atolado em problemas de corrupção, nas remanescentes consequências do Daesh, genocídios contra yazidis, cristãos, deslocamento de vários milhares de pessoas para o norte, para Bagdá. Muitos ainda não voltaram e não confiam neste governo. Os cristãos não estão seguros quanto ao seu futuro, por isso peço as orações de todos os nossos irmãos cristãos e muçulmanos para que este país se recupere do choque. O trauma dos cristãos no Iraque é mais profundo do que se possa pensar...
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui