Festa da Penha: “Está na hora de deixar aquilo que nos divide para trás”
Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo - Vila Velha (ES)
“Está na hora de a gente reunir as famílias, está na hora de a gente reunir novamente as comunidades, deixar aquilo que nos divide para trás”, incentivou o Arcebispo D. Dario Campos na Missa de encerramento da 453ª edição da Festa da Penha, nesta segunda-feira (17/4), depois de oito dias de muita devoção e celebrações. Nesse tempo, Maria foi o centro das atenções do povo capixaba, especialmente na grande demonstração de fé da Romaria dos Homens, que levou às ruas mais de 800 mil pessoas.
Nesta segunda-feira é feriado no Espírito Santo para festejar a sua Padroeira. O Convento da Penha é o destino da grande maioria do povo, que já começa a peregrinar a partir da meia-noite da segunda-feira, quando tem início a primeira Missa do dia. As estreitas escadarias que levam à Capela do Santuário da Graça do Perdão se tornam praticamente intransitáveis neste dia. É preciso ter muita paciência e fé para visitar a casa da Mãe de Deus. Mas esse povo tem! Depois de fazer uma festa impecável, a Missa de encerramento na Prainha não poderia ser diferente e o que se viu foi uma demonstração de muito afeto e carinho a Nossa Senhora da Penha. Mais de 80 mil pessoas deram uma grande demonstração de fé.
Desde as 14h, muitos fiéis já se posicionavam na praça para acompanhar ao vivo o Programa “Salve Mãe das Alegrias”. Faltando dez minutos para as 17h, uma procissão cruzou a multidão trazendo os acólitos, os seminaristas e diáconos, os sacerdotes e os bispos Dom Paulo Bosi Dal’Bó, de São Mateus; Dom Luiz Fernando Lisboa, de Cachoeiro de Itapemirim; Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, de Colatina; Dom Andherson Franklin Lustosa de Souza, bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória; e Dom Geraldo Lyrio, arcebispo emérito de Mariana. Logo em seguida, vieram os frades e os marinheiros com o andor de Nossa Senhora, um momento sempre muito emocionante.
Dom Dario saudou de maneira especial, e agradeceu pelo empenho, dedicação e serviço a Comunidade dos Franciscanos, que de forma incansável acolhe a cada peregrino que se dirige ao Convento da Penha. Ele também saudou as autoridades presentes: “O Sr. governador do Estado, Renato Casagrande, o Sr. prefeito de Vila Velha, Arnaldinho e toda a sua equipe, a quem agradecemos pelo empenho na realização de toda a nossa maravilhosa Festa. Saúdo os demais prefeitos, autoridades civis e militares presentes nesta celebração”. Dom Dario não esqueceu dos voluntários e de todos os fiéis leigos e leigas nesta Festa.
Dom Dario reservou para o final de sua homilia palavras de conforto e incentivo para a grande multidão de devotos: “A Nossa Festa de Nossa Senhora da Penha faz 453 anos, uma festa que não parou na história. Nós recebemos um grande patrimônio e nós estamos zelando por este patrimônio e temos que passá-lo para as gerações futuras. Como é que nós queremos passar esse patrimônio para as gerações futuras sendo que, algumas vezes na vida, algumas coisas nos atormentam, nos afligem, nos colocam tristes, nos tiram o diálogo, nos tiram a vida?”, questionou.
“Passamos por uma pandemia de Covid, tantos irmãos mortos partiram para a casa do Pai, quanto sentimento de saudade cada um já traz no seu coração. Como é preciso voltar ao colo da Mãe, Nossa Senhora da Penha, e colocar de novo na palma da sua mão os nossos pedidos, os nossos agradecimentos! Passamos por um período difícil de diálogo, de convivência, quanta inimizade, quanta falta de diálogo! Está na hora de retomar o diálogo, a ternura, a paz, está na hora de a gente reunir as famílias, está na hora de a gente reunir novamente as comunidades, deixar aquilo que nos divide para trás e buscar a fraternidade, a paz, a justiça, que estão sempre à nossa frente”, pediu.
E Dom Dario terminou com uma frase do nosso Pai São Francisco: “Vamos começar tudo de novo, porque até agora pouco ou nada fizemos”.
Chamados a servir
Segundo Dom Dario, neste Ano Vocacional, a Igreja do Brasil, a CNBB, reflete sobre as muitas vocações que nascem da fonte batismal, propondo o tema: “Vocação e Missão” e o lema: “Corações ardentes e pés a caminho” (Le 24,32-33). “A nossa Festa da Penha abraça esta reflexão e apresenta a Virgem que nos convida ao serviço e à missão”, disse.
O Arcebispo tomou três pontos do Evangelho de Lucas na sua reflexão e que dizem respeito à Maria, bem como, “a todos nós, chamados a ser discípulas e discípulos missionários de Cristo”: O primeiro encontra-se na afirmação de Maria: “Porque olhou para a humildade de sua serva”. O segundo está na seguinte afirmação: “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia”. Por fim, o terceiro ponto de reflexão encontra-se na conclusão do texto do Evangelho, que afirma que Maria ficou três meses com Isabel.
“Com a afirmação ‘porque olhou para a humildade de sua serva’, encontrada no coração do Magnificat, a Virgem Maria, tocada pelo Espírito Santo, manifesta a grande esperança e confiança no cuidado divino de todo o povo de Israel. De fato, o Deus da Aliança sempre olha com compaixão e bondade para os que mais precisam e os conduz nos caminhos da história. A Virgem Maria, com o coração inflamado de amor, celebra a graça divina e proclama, com imensa alegria que o Senhor visitou o seu povo, manifestando aos seus filhos e filhas sua infinita bondade e misericórdia”, explicou.
O segundo ponto, segundo o Arcebispo, mostra a imagem de Maria apressada, com os seus pés ligeiros, nas estradas que conduziam à Judeia, comunica a urgência do anúncio da Salvação presente no Evangelho de Lucas. “Que deve ser levado a todos e comunicado com alegria e esperança, pois é fruto de uma experiência de amor e de fé daqueles que acolhem o salvador em suas vidas e dele se tornam discípulos e discípulas missionários”.
“Por fim, meu terceiro ponto de reflexão encontra-se na conclusão do texto do Evangelho, que afirma que Maria ficou três meses com Isabel. Na verdade, quando o anjo se afastou da Virgem Maria, deixou-a com o coração plenificado da graça e disponível para a missão. Ela se dirige apressadamente à casa de sua prima Isabel e se coloca a serviço. O tempo de sua permanência diz respeito à necessidade concreta de Isabel, que estava com gravidez avançada. Ao colocar-se ao lado de Isabel, a Virgem Maria se compromete e se dedica silenciosamente, fazendo o que deveria fazer. Uma antecipação do que Jesus dirá a seus discípulos: Eu vim para servir e não para ser servido e ainda convida os seus a dizerem: somos servos e fizemos o que deveríamos fazer”, destacou.
“Maria é a serva do Senhor aquela que foi tocada pelo amor do Pai, acolheu o dom do Espírito e, com o coração inflamado e aquecido, com pés ligeiros, assumiu a missão a ela confiada. Peçamos a sua intercessão por cada um de nós, a fim de que compreendamos o que devemos fazer neste tempo tão cheio de desafios e necessidades. Muitos são os apelos de tantos irmãos e irmãs nossos que cotidianamente clamam por justiça, solidariedade e paz”, exortou.
E concluiu: “Vamos colocar as nossas intenções que cada um traz nesta Eucaristia, o seu agradecimento e o seu pedido na palma da sua mão, Maria, Nossa Senhora da Penha. Que a Senhora leve até o seu filho, Jesus de Nazaré, e restabeleça novamente a paz, o diálogo, na nossa Fraternidade, no nosso Estado, na nossa cidade, nas nossas famílias! Que todos possam novamente dialogar em paz, sentados para almoçar, tomar o seu café, contar suas piadas, agradecer e bendizer. Eu digo sempre aos padres: ‘Podemos brigar, mas não podemos ficar de mal’. Por isso, Nossa Senhora da Penha abençoe os nossos lares, as nossas famílias e nos devolva novamente o diálogo entre nós. Assim seja!”
A mensagem do guardião
Frei Djalmo disse que o seu desejo mais profundo é que a mensagem da nossa Festa não acabe a partir de hoje. “Queremos que esse chamado a servir ecoe nos corações ardentes daqueles que, de alguma forma, participaram deste que é o maior evento religioso do Espírito Santo e uma das mais antigas festas marianas do Brasil”, disse o guardião.
“Que, ao caminhar em nossas Romarias, participar das nossas Missas, do nosso Oitavário, ver a imagem de Nossa Senhora iluminada da janela de casa, do carro ou do ônibus, visitar o Convento ou ver nossa programação nas redes sociais, rádios e TVs, sejamos verdadeiramente inspirados por Maria”, desejou.
“A maior grandeza e razão desta Festa é levar o ‘sim’ da Virgem das Alegrias a cada irmão e irmã. Inspirar a todos a uma vida plena, ao amor sem restrições, semeando o desejo de seguir nossa vocação e sermos luz de amor e bondade para nossos irmãos. Esse é o nosso maior objetivo, é a razão de ser dessa Festa, porque se assim não fosse, ela não teria 453 anos de existência, reunindo desde os tempos de Frei Pedro Palácios, cada vez mais pessoas”, recordou.
“Portanto, meus irmãos e irmãs, permitam ser abraçados e tocados pelas palavras mais inspiradoras e deixem-se transformar pela luz de Deus, a exemplo de Maria, nossa homenageada. Somente assim teremos a certeza de que esta Festa cumpriu sua missão. Vamos ser felizes e fazer nossos irmãos felizes sob as bênçãos de Deus e de nossa Senhora, sermos sal da terra e luz do mundo todos os dias. Nossa Senhora, modelo e mestra no caminho da consagração, continuará nos acompanhando sem cessar. E seu Santuário, lá no alto da montanha, continuará aberto a todos, todos os dias. Portanto, sigamos confiantes e abençoados. Muito obrigado pela presença de cada um, e pelo empenho dos que tornaram esta Festa possível a todos. Nosso muito obrigado”, agradeceu.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui