Frei Francesco Patton: Semear esperança!
Mensagem de Páscoa de Frei Francesco Patton- Custódio da Terra Santa
Caríssimas amigas e caríssimos amigos, estamos diante do túmulo de Jesus, o lugar no qual, na noite da Sexta-Feira Santa, o seu corpo já sem vida foi colocado. Aqui hoje estamos dentro das muralhas da Cidade Antiga de Jerusalém com uma grande basílica. Quando Jesus foi condenado à morte, este lugar se encontrava fora dos muros e, aqui ao lado, estava o monte do crânio, o Calvário, onde os condenados à morte eram executados e onde também Jesus foi crucificado.
Descendo da rocha do Calvário existia um espaço cultivado, um pequeno jardim, onde talvez crescessem algumas oliveiras, alguns limoeiros, algumas vinhas e algumas amendoeiras.
Bem no limite do jardim ficava a pedreira, então abandonada e usada para sepultamentos. É aqui que estamos, onde José de Arimatéia havia comprado um túmulo novo para si.
Aqui foi colocado o corpo de Jesus, ungido e enfaixado às pressas, envolto em um lençol novo com um sudário sobre o rosto. Ao anoitecer, todas as atividades teriam que ser suspensas, pois se aproximava o Shabat, o sábado. E uma outra noite ainda deveria passar até que se pudesse voltar aqui para chorar e completar o sepultamento.
Vindo visitar este túmulo vazio e parando aqui em oração, várias vezes me perguntei: O que aconteceu na noite entre o Sábado Santo e o Domingo de Páscoa? Como aconteceu a ressurreição de Jesus, que é o fundamento da nossa fé e da nossa esperança?
Imagino a hora mais escura da noite e o instante em que a escuridão é rompida pelo primeiro raio de sol que surge ao longe, no horizonte. Imagino a hora mais silenciosa e fria da noite, onde se ouve até mesmo a respiração de uma criança e o orvalho que cai sobre a grama e sobre as árvores.
E imagino que num instante tudo muda. Como um relâmpago. As faixas que prendiam o corpo de Jesus de repente se soltaram. O lençol que o envolvia caiu vazio sobre a pedra. E o sudário permaneceu ali, quase que suspenso, a nos lembrar que cobria um rosto.
Naquele instante de luz tem início uma nova criação, um novo mundo e uma nova humanidade. Naquele instante de luz, o corpo de Jesus ressuscitado carrega para sempre em Deus um fragmento e uma semente de uma nova humanidade. Estando aqui, percebo de maneira misteriosa que aquela luz também me envolve e que agora minha vida e minha carne também são renovadas. Percebo que este túmulo é a porta da vida, porque aqui Jesus entrou no abismo da morte e o transformou na passagem para a vida em Deus.
Eu sei que o mundo em que vivemos ainda parece dominado pelo poder do mal, da violência, do ódio e da morte. O vejo nas guerras e nas injustiças, nas desigualdades econômicas e no cinismo da indiferença frente às calamidades naturais, que continuam a causar morte e desespero. O vejo nas ideologias que justificam as discriminações, no uso brutal da violência, na negação da dignidade da pessoa humana, no extermínio de povos inteiros. O vejo no ódio que continua a ser semeado de mãos cheias nos sulcos da história e da nossa humanidade, também aqui na Terra Santa.
No entanto, naquele raio de luz que marca a passagem da noite do mundo para um mundo novo, vejo que tudo isso já foi vencido. Sinto renascer em meu coração a esperança, uma esperança mais forte do que qualquer evidência contrária. Uma esperança mais forte do que a crua experiência do mal.
Feliz Páscoa daqui de Jerusalém! Que o Senhor ressuscitado traga esperança a cada um, clareie também a noite que escurece os corações e os torne capazes de semear a esperança.
O Senhor ressuscitou verdadeiramente. Feliz Páscoa!
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