A Igreja na Hungria
Vatican News
A história da Hungria é fortemente marcada pelo cristianismo:
As origens no século XI
A história da Igreja na Hungria está intimamente ligada à do Estado magiar. De fato, seu nascimento se deve a Santo Estêvão (István) I da Hungria (c.a. 969 -1038), da dinastia magiar dos Arpadi, evangelizador e padroeiro do país, além de fundador do Estado húngaro.
Consagrado a 25 de dezembro do ano 1000 com o título de "Rei Apostólico", organizou não somente a vida política do seu povo, unindo os 39 condados em um único reino, mas também a religiosa, lançando as bases de uma sólida cultura nacional cristã. Sob seu reinado foram construídas igrejas e mosteiros, incluindo a famosa abadia beneditina de São Martinho di Pannonhalma e criadas dez dioceses, incluindo Esztergom, sede do arcebispo e primaz da Hungria.
Com a morte de Estêvão I, canonizado em 1083, o país envolveu-se na "Guerra das Investiduras" entre o Império e o Papado, tomando partido deste último. Neste período consolidaram-se o Estado e a Igreja e sob o reinado de Luís Magno, no século XIV, foram acrescentadas outras novas dioceses: Nagyvárad, Nitra (na atual Eslováquia), Csanád e Nagyszeben (atual Sibiu, na Romênia ).
No período da Reforma Protestante, a maioria dos magiares abandonou o catolicismo, ao qual muitos retornaram depois que a Hungria foi absorvida pelo Império Habsburgo no século XVII, graças à ação de missionários nos territórios adquiridos pelos Habsburgos. O protagonista da Reforma Católica no país foi o cardeal jesuíta Péter Pázmány (1570-1637), arcebispo de Strigônio (Eztergom) e fundador da primeira universidade católica húngara, a Universidade de Nagyszombat (hoje Trnava, na Eslováquia). No século XVIII, a imperatriz Maria Teresa e seu filho José II de Habsburgo expulsaram várias ordens religiosas dos territórios do Império austríaco, incluindo a Hungria.
As relações entre Igreja e Estado na Hungria independente entre as guerras 1920-1945
Dois anos após a dissolução do Império Austro-Húngaro, em 1920 a Santa Sé e a Hungria independente, liderada pelo regente Miklós Horthy, estabeleceram relações diplomáticas que duraram até a ocupação soviética em 1945. Entre os dois Estados não foi assinada uma Concordata, mas apenas um "simples Intenção" (1927) para regular os procedimentos de nomeação dos bispos e do ordinário militar.
Os anos do regime comunista
A ocupação soviética no final da Segunda Guerra Mundial marcou também ali o início das perseguições contra a Igreja. Numerosos expoentes católicos foram presos ou mortos (muitos dos quais foram elevados às honras dos altares depois de 1989), a Igreja foi expropriada, suas escolas nacionalizadas (1948), suas ordens religiosas dissolvidas (1950) e, em 1957, uma medida tornou impossível à Santa Sé providenciar o governo das dioceses (medida posteriormente revogada pelo acordo assinado em 15 de setembro de 1964 em Budapeste, que reconhecia o direito da Sé Apostólica de nomear os bispos, reservando, no entanto, ao governo a faculdade de recusar o seu consentimento).
Uma figura de destaque na resistência ao regime comunista foi o cardeal József Mindszenty (1892-1975), declarado Venerável pelo Papa Francisco em 2019. arcebispo de Esztergom e primaz da Hungria desde 1945, criado cardeal em 1946 por Pio XII, em 1948, Mindszenty foi preso, torturado e condenado, após um processo-farsa, por "alta traição, espionagem e tráfico de divisas".
Libertado durante a revolta de 1956, após oito anos de prisão, encontrou asilo político na embaixada dos Estados Unidos em Budapeste e durante muitos anos recusou o convite para se refugiar no Vaticano onde chegou só em 1971, fixando-se posteriormente em Viena, onde veio a falecer em 1975. Em 1991 seus restos mortais foram trasladados de Mariazell, na Áustria, para Esztergom, para serem sepultados na cripta da Basílica. Por ocasião da visita ao seu túmulo em 1991, João Paulo II o havia definido como "um precioso testemunho de fidelidade a Cristo e à Igreja e de amor à pátria". Em 12 de fevereiro de 2019, o Papa Francisco reconheceu as virtudes heróicas do cardeal Mindszenty e, portanto, o declarou Venerável.
A Igreja húngara após a queda do muro
O fim do regime comunista permitiu à Igreja retomar suas atividades sem as limitações, em virtude da nova legislação sobre liberdade religiosa aprovada em 1990. Em 9 de fevereiro do mesmo ano, o Governo restabeleceu as relações diplomáticas com a Santa Sé com a qual, nos anos seguintes, estipulou dois outros acordos importantes: um sobre assistência religiosa às forças armadas e de polícia (1994) e um sobre o financiamento das atividades de serviço público e daquelas puramente religiosas realizadas pela Igreja Católica e sobre algumas questões de natureza patrimonial (esta última modificada em 2013 para adequá-la à nova Constituição de 2011).
Em 1991, o Parlamento de Budapeste também votou a lei sobre a restituição dos bens eclesiásticos confiscados após a guerra e no ano seguinte a proposta sobre o financiamento estatal às Igrejas. Neste novo contexto, realizaram-se as duas Viagens Apostólicas de São João Paulo II à Hungria: a de 16-20 de agosto de 1991 e a de 6-7 de setembro de 1996. O próprio Papa Wojtyla também celebrou em São Pedro a primeira beatificação de um húngaro depois da queda do comunismo: a de dom Vilmos Apor, bispo e mártir morto por soldados soviéticos na Sexta-Feira Santa de 1945 (2 de abril). Outros mártires do regime comunista foram beatificados nos anos seguintes.
Entre os acontecimentos marcantes da Igreja magyar desta primeira década da era pós-comunista recordamos também as celebrações do Milênio Húngaro, em 2000-2001 para celebrar o Batismo da Hungria por Santo Estêvão, por ocasião do qual São João Paulo II havia enviado uma Carta Apostólica aos católicos húngaros (25 de julho de 2001). O Papa Francisco, por sua vez, foi a Budapeste em 12 de setembro de 2021 por ocasião do 52º Congresso Eucarístico Internacional.
Os desafios pastorais da Igreja húngara no novo milênio
O fim do regime comunista marcou, portanto, o renascimento da Igreja na Hungria, que hoje conta com pouco menos de seis milhões de batizados, o equivalente a cerca de 61% da população e que é muito ativa em diversas áreas, entre as quais se destaca a educação. Nos últimos anos, muitos institutos religiosos voltaram gradualmente: hoje são mais de uma centena.
Outro sinal positivo é a vitalidade dos movimentos leigos. A Igreja também pode contar com vários meios católicos, entre eles a histórica agência "Magyar Kurir", o semanário "Új Ember" e as emissoras "Magyar Katolikus Rádió", "Szent István Rádió" de Eger e "Radio Maria".
Entre os principais desafios à atenção do episcopado húngaro está o processo de secularização em curso no país ao qual Bento XVI chamou a atenção por ocasião da visita ad limina dos bispos em 2008. A primeira realidade a se ressentir desse fenômeno é a família que, havia afirmado o Pontífice, "também na Hungria vive uma grave crise". Isso é demonstrado pela diminuição do número de matrimônios, o aumento dos divórcios, o declínio dos nascimentos e a prática generalizada do aborto (legal desde 1956).
E precisamente a defesa da família é um dos principais focos pastorais da Igreja húngara, que tem lutado vigorosamente contra todas as iniciativas destinadas a mudar sua situação jurídica no país, como a lei de 2009 que reconhece as uniões entre pessoas do mesmo sexo. Os bispos intervieram várias vezes, com declarações e documentos pastorais, em defesa das raízes cristãs da Europa e da identidade católica da Hungria ameaçada pelo "neopaganismo", pelo hedonismo e pelas "ideias liberais radicais" que tentam impor "a ditadura do relativismo" ao país, como afirma uma carta pastoral dos bispos de 2009. Temas sobre os quais nos últimos anos o governo húngaro tem mostrado maior sensibilidade.
Em 2011, a maioria do governo aprovou uma nova Constituição cujo Preâmbulo reconhece explicitamente o lugar preeminente do cristianismo na história do país, indicando-o como "fator constitutivo e unificador da nação húngara".
A Lei Fundamental compromete depois o Estado a proteger constitucionalmente a vida humana desde a concepção até a morte natural (mesmo que o aborto permaneça legal). A mesma maioria do governo introduziu uma nova lei educacional que entrou em vigor em 2013, que prevê a hora opcional de religião nas escolas públicas.
Na perspectiva da defesa da identidade cristã da Hungria, insere-se por um lado o empenho do episcopado magiar para o diálogo ecumênico e, por outro aquele para a reconciliação com as Igrejas dos países vizinhos, em particular a Eslováquia e a Romênia (onde ainda existem fortes minorias húngaras) para superar velhas tensões.
Na mesma ótica está sua generosa obra em favor dos cristãos perseguidos no mundo, especialmente no Oriente Média. Numerosas são as suas iniciativas de apoio às comunidades cristãs vítimas do conflito sírio. A essas se soma a ajuda prestada aos refugiados nos campos de refugiados da região, independentemente de credo.
Generosa foi a obra da Igreja ao acolher milhares de refugiados ucranianos após a invasão russa de 24 de fevereiro de 2022. Outras problemáticas no centro das preocupações pastorais da Igreja húngara também estão a pobreza e a exclusão social. Particularmente digno de nota, neste contexto, é o importante empenho em favor dos ciganos que representam quase 10% da população do país. Há muitos anos, a Igreja local está na linha de frente pela sua integração no tecido social e pela sua escolarização. Além disso, realizou a primeira tradução completa da Bíblia e do Ordinário da Missa para o lovari (romano), a língua mais falada pelos ciganos.
A solidariedade para com os mais fracos e a amizade entre os povos foram os temas em torno dos quais se articulou o Congresso Eucarístico de Budapeste em 2021, que teve como lema um versículo do Salmo 87 "Todas as minhas fontes estão em ti", para sublinhar que o verdadeiro significado a Eucaristia é a abertura do coração e o acolhimento do outro.
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