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Francisco, aberto ao espírito e misericordioso

A recente internação do Papa Francisco no Hospital Universitário Agostino Gemelli despertou a atenção de todo o mundo e mostrou-nos, mais uma vez, a fortaleza de um homem aberto ao Espírito e que pratica a misericórdia mesmo quando a enfermidade bate à sua porta.

Marcus Tullius - Pascom

A recente internação do Papa Francisco no Hospital Universitário Agostino Gemelli despertou a atenção de todo o mundo e mostrou-nos, mais uma vez, a fortaleza de um homem aberto ao Espírito e que pratica a misericórdia mesmo quando a enfermidade bate à sua porta.

Dois gestos foram marcantes nestes 3 dias de internação e expressam aquilo que caracteriza o seu lema de pontificado: “miserando atque eligendo”, inspirado nas homilias de São Beda, o Venerável, ao comentar o Evangelho da vocação de Mateus. O trecho significa "olhou para ele com sentimento de amor e o escolheu", ou, à moda de Francisco, misericordiando o escolheu. 

Na tarde da sexta-feira, 31, uma visita às crianças da ala oncológica e a celebração do Batismo a um menino, chamado Michelangelo, nascido há algumas semanas de vida. É a expressão da obra de misericórdia corporal dar assistência aos enfermos. Na bula Misericordiae Vultus, com a qual proclamou o Ano da Misericórdia, citou o Evangelho de Mateus 25, dos versículos de 31 a 46, e afirmou que “não podemos escapar às palavras do Senhor, com base nas quais seremos julgados”. Dentre estas palavras está a de reservar um tempo para visitar quem está doente e preso.  

As palavras de Francisco são fortalecidas por seu testemunho, um homem que, em tudo, vê a oportunidade de evangelizar e esta é sua forma de primeirear, a bonita expressão da Evangelii Gaudium, número 24. Aberto ao Espírito, ele toma a iniciativa, mostra a atitude do discípulo-missionário e comprova aquilo que diz no mesmo parágrafo: “vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva”. 

 Na mensagem para a Quaresma de 2016, o pontífice reflete que “Deus mostra-Se sempre rico de misericórdia, pronto em qualquer circunstância a derramar sobre o seu povo uma ternura e uma compaixão viscerais”. Um idoso de 86 anos visitar crianças que se tratam do câncer no mesmo hospital onde está internado é a expressão máxima da ternura de um Deus rico em misericórdia.  

A misericórdia que o papa expressa não é algo distante ou sobrenatural, mas é o caminho da proximidade, de quem é muito humano e faz-se próximo, como no caso da parábola do samaritano, citada por ele em diversos contextos. É sobre isso que testemunha o primaz anglicano Justin Welby, por ocasião dos 10 anos de pontificado: “Experimentei a sua humanidade extraordinariamente profunda, que não faz concessões acerca da verdade, e que atribui um valor infinito a cada ser humano. Muitos o dizem - eu também - mas ele vive-o.”

A cena do batismo de Michelangelo, no contexto de uma Igreja cada vez mais sinodal, como deseja Francisco, é o indicativo da importância deste sacramento e a sua preocupação em garanti-lo, porque é ponto de partida no corpo eclesial e nosso cartão de identidade, como afirmou na abertura do caminho sinodal. "Ele já é cristão", disse à mãe da criança após celebrar o Batismo. Uma delicadeza e ternura de Deus neste tempo tão oportuno.

Ao deixar o hospital, neste sábado, 1º de abril, Francisco pratica mais uma obra de misericórdia, agora espiritual, a de consolar os tristes quando saiu do automóvel, saudou e abençoou as pessoas que estavam do lado de fora e abraçou um casal que chorava pela perda de sua filha na noite anterior. Ao rezar com eles, atualiza o gesto do próprio Jesus que consola Maria Madalena após a ressurreição (cf. Jo 20,11-18), os seus discípulos (cf. Jo 14,1-31), Marta e Maria após a morte de Lázaro (cf. Jo 11,1-44), e tantas outras cenas bonitas do Evangelho. 

O Papa que veio do fim do mundo, numa série de entrevistas concedidas ao sociólogo Dominique Wolton e publicadas sob o título O futuro da fé[1], em 2018, quando tinha 21 anos esteve à beira da morte devido à uma grave infecção pulmonar, o que lhe ocasionou a retirada de parte dos pulmões. Ao receber a visita da freira que o preparou para a primeira comunhão, Francisco recorda a experiência de que ela apenas lhe deu a mão e transmitiu uma paz. O ensinamento, certamente marcado por esta presença, é do que “não se pode dizer nada diante do mistério de outra pessoa.” 

Francisco busca exprimir sua proximidade pelos gestos. Ele revela, ainda, no mesmo depoimento: “Quando quero transmitir algo a alguém, preciso me esforçar para pensar que estou diante do mistério de outra pessoa. E devo comunicar esse mistério partindo do que há de mais profundo em meu mistério, em minha experiência, o mais silenciosamente possível.” Ao respeitar o que há de mais profundo no mistério de cada pessoa, Francisco mostra o que há de mais profundo em seu mistério e, acredito, não é outra coisa senão o fruto de sua intimidade e abertura com o Espírito, assim como tem revelado em outros tantos momentos. 

Vida longa a Francisco, aberto ao Espírito e misericordioso! 

[1] FRANCISCO. O futuro da fé: Entrevistas com o sociólogo Dominique Wolton. Tradução Pedro Sette-Câmara. Rio de Janeiro: Petra, 2018

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03 abril 2023, 11:37