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Portugal: bispos vão eleger nova direção preocupados com os abusos

Conferência Episcopal Portuguesa está reunida em Assembleia Plenária. No último dia, a 20 de abril, terá lugar uma Jornada Nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja. Foi anunciada a criação de um Grupo de Acompanhamento para acolher vítimas de abusos.

Rui Saraiva – Portugal

Os bispos portugueses estão reunidos em Assembleia Plenária e vão eleger responsáveis para os órgãos de coordenação e direção para o próximo triénio. Uma reunião que decorre em Fátima de 17 a 20 de abril.

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Segundo D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), este momento de escolha dos órgãos é “um momento de discernimento de cada um dos participantes, para o melhor bem da Igreja”. Nas suas declarações aos jornalistas referiu ser este um ato de “sinodalidade concreta”.

“Sinodalidade concreta é também esta Assembleia Episcopal e especificamente a eleição dos seus órgãos colegiais de coordenação e direção, que terá lugar durante esta Assembleia. Não temos listas de candidatos, pois não é esse o espírito, nem a tradição. Segundo os estatutos as eleições são sempre livres, contando com o discernimento de cada um dos participantes, para o melhor bem da Igreja. Espera-se que os escolhidos aceitem os cargos para que forem eleitos, a não ser que qualquer razão grave seja apresentada”, disse D. José Ornelas.

Nesta Assembleia Plenária, os bispos portugueses vão eleger o presidente, o vice-presidente e o secretário da CEP, bem como os vogais do Conselho Permanente, os presidentes das comissões episcopais e os delegados da Conferência Episcopal.

Recordemos que a Conferência Episcopal Portuguesa tem seis comissões episcopais que coordenam os diferentes setores da pastoral: Educação Cristã e Doutrina da Fé, Pastoral Social e Mobilidade Humana, Vocações e Ministérios, Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, Liturgia e Espiritualidade, Laicado e Família e Missão e Evangelização.

A Agência Ecclesia informa que “após a revisão dos estatutos da Conferência Episcopal Portuguesa aprovados pela Santa Sé, no dia 30 de março, um leigo ou uma leiga pode ser eleito para secretário da CEP, cargo que deixa de estar limitado a dois mandatos.

Abusos são tema e “momento doloroso”

Na quinta-feira, 20 de abril, terá lugar uma Jornada Nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja. Em Fátima, no final da Assembleia Plenária, haverá uma Missa na Basílica da Santíssima Trindade, com a presença do episcopado português.

O problema dos abusos tem sido uma grande preocupação dos bispos portugueses nos últimos meses desde a publicação, em fevereiro passado do relatório da Comissão Independente criada para o efeito.

Após cerca de um ano de trabalho a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, nomeada pela CEP, apresentou um relatório no qual validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022. Ao mesmo tempo, entregou aos responsáveis católicos de Portugal uma lista de alegados abusadores.

Todo este tema tem sido um “momento doloroso, mas também de purificação e conversão”, referiu D. José Ornelas.

“No momento doloroso, mas também de purificação e conversão em que agora nos encontramos, continuamos apostados no caminho que a Igreja tem vindo a percorrer para que os ambientes eclesiais sejam cada vez mais seguros para as crianças, jovens e adultos vulneráveis”, afirmou.

O presidente da CEP assinalou que os bispos portugueses, através do relatório da Comissão Independente, deram voz às vítimas de abusos rejeitando atitudes de silenciamento e aprofundando o conhecimento dramático desta realidade.

“O relatório final desta Comissão Independente, permitiu aprofundar o conhecimento dramático desta realidade e as consequências devastadoras que tais crimes tiveram na vida de tantas crianças. Foi em atenção a essas vítimas, antes de mais, que não nos resignamos a procedimentos do passado, nem a atitudes de conivência e silenciamento, procurando encarar estes dramas, com realismo e esperança. Nunca é demais renovar o pedido de perdão e o sentimento de profunda gratidão para com todos os que deram ‘voz ao silêncio’ e tiveram a coragem de denunciar aquilo que nunca lhes deveria ter acontecido”, declarou.

O bispo de Leiria-Fátima sublinhou o compromisso dos bispos portugueses para que os crimes cometidos no passado “possam ser reparados, na medida do possível, e não voltem a acontecer”.

Assinalou que “na sequência dos dados fornecidos pela publicação do estudo” sobre abusos sexuais na Igreja “foram tomadas pelas diferentes dioceses medidas cautelares de afastamento de funções de pessoas mencionadas no estudo realizado”. Medidas que “não significam qualquer atribuição de culpa”, mas que terão um “ulterior processo de investigação”.

“Tais medidas não significam qualquer atribuição de culpa e têm de ser seguidas de ulterior processo de investigação a fim de apurar a realidade e eventual responsabilidade dos factos concretos. Até lá, ninguém pode ser considerado culpado”, salientou.

O presidente da CEP informou que será criado um Grupo de Acompanhamento para acolher vítimas de abusos. Um Grupo que terá “a autonomia necessária para acolher e acompanhar as vítimas e para assegurar o necessário apoio e a possível recuperação dos danos por estas sofridos, dispondo de uma linha de atendimento e de condições para o contacto e acompanhamento pessoal”.

Este Grupo de Acompanhamento está em fase de organização e funcionará articulado com a Equipa de Coordenação Nacional e as Comissões Diocesanas.

Laudetur Iesus Christus

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18 abril 2023, 16:42