Páscoa: mistério do Amor Supremo e da Vida Plena
Dom Adimir Antonio Mazali*
Com os votos de uma Feliz Páscoa, saúdo os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Vivemos a Semana Santa e nela celebramos o Mistério Pascal de Cristo, o centro de nossa fé cristã e o mistério do Amor e da Vida que se renova.
Prezados irmãos e irmãs. A Páscoa nos mostra que Jesus Cristo, o Verbo Encarnado de Deus, deu sua vida na Cruz por nós e Deus Pai o ressuscitou dos mortos, abrindo-nos a possibilidade de nossa futura ressurreição. Assim sendo, a Páscoa nos revela uma nova verdade respeitante a nossa vida: fomos criados para o amor infinito de Deus, fomos feitos para a eternidade. Deus é a plenitude de nossa existência. Por isso, a Semana Santa é fundamentalmente rica em seu significado. Abre para todos nós, seres humanos, a perspectiva da superação, da libertação, da vitória da vida sobre a morte, enfim da Ressurreição.
Celebramos o Tríduo Pascal que nos remete ao Mistério de Cristo. Na Quinta-feira Santa, véspera de Sua morte na Cruz, sabendo que as autoridades judaicas haviam tramado sua morte, Jesus reuniu os discípulos e celebrou com eles a Última Ceia. Naquela Ceia derradeira, Jesus não celebrou somente a Páscoa judaica, mas inaugurou a Sua Própria Páscoa. Por meio dela, Jesus deu aos discípulos as últimas instruções, como fizera Moisés aos hebreus, antes de sua partida desse mundo. Com o gesto do lava-pés, Jesus deixou aos Seus a grande lição do serviço. Ao lavar-lhes os pés, afirmou: “Compreendeis o que acabo de fazer? Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,12-15). Com esse gesto, de serviço oblativo, Jesus afirma que a nossa vida tem sentido quando vivida em favor do bem das pessoas e do mundo. Aquele que só pensa em si, que só vive para si e não faz nada pelos outros, empobrece sua existência e dificilmente chegará à plena realização de si mesmo.
Depois, Jesus tomou o pão, deu graças a Deus, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo que é dado por vós”. Tomou o vinho e disse: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue que é derramado em favor de vós”. “Fazei isto em memória de mim” (cf. Mt 26,26-29). Ao dirigir a ordem “fazei”, Jesus deseja que seus discípulos vivam como ele mesmo vivera: dando a vida pela causa do Reino de Deus. Jesus doou Sua vida toda, gastando-a por essa causa. Ao mesmo tempo, naquela noite, instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio. Na Eucaristia, Ele e Seu Projeto se constituem no alimento que sustenta a fé e a vida de todo o cristão. E o Sacerdócio torna-se o Sacramento do serviço em favor da Comunidade de fé.
Na Sexta-feira Santa, Jesus foi condenado e morto na Cruz. Aquele que passou a vida “fazendo o bem” (At 10,38) e “fez bem todas as coisas” (Mc 7,37), foi condenado a morrer crucificado. Pergunta-se: por que tal destino? A resposta se encontra na própria pregação e práxis de Jesus, as quais representaram uma ameaça ao poder político-religioso opresso. Isso foi acontecendo desde o início de ministério público de Jesus. Os Evangelhos deixam claro que a morte de Jesus não foi casual, mas foi sim o resultado de uma perseguição estrutural e progressiva. Foram as suas denúncias contra o poder opressor que O levou à morte na cruz. Porém, durante toda sua vida e seu ministério, Jesus sempre esteve muito consciente desta questão, por isso se manteve sempre firme, nunca cedendo a nenhuma tentação que o fizesse abandonar a Vontade de Deus Pai. Jesus perseverou fiel ao Pai até as últimas consequências: “amou-os até o fim” (Jo 13,1). Sua morte é expressão de sua fidelidade ao Pai. Entretanto, a morte não obteve a última palavra. Quando as mulheres, no primeiro dia da semana, portanto, no Domingo, bem de madrugada, foram ao túmulo, encontraram-no vazio. O que poderia ter acontecido? Elas disseram: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20,2). Uma resposta inusitada foi-lhes dirigida: “Por que procurais Aquele que vive entre os mortos? Ele não está aqui, ressuscitou! ” (Lc 24,5-6). A Páscoa nos diz: Deus ressuscitou Jesus. Ele é “Aquele que vive! ”.
Caríssimos irmãos e irmãs, é esta a Verdade que a Páscoa nos anuncia: o mistério do amor venceu; a vida reina sobre a morte; a força de Deus é maior que as forças opressoras da morte. Enfim, a vida vence a morte e, a partir dessa Verdade somos convidados a revitalizar nossa Fé na Ressurreição e na Vida Eterna. Outrossim, somos convocados a anunciar o sentido mais profundo da Páscoa: viver a Páscoa significa viver como ressuscitados.
Desejo que as alegrias e esperanças que brotam da Ressurreição do Senhor renovem-se em cada gesto de solidariedade, fortalecendo nossa fé e nosso compromisso na construção da fraternidade e da paz, por um mundo de amor e sem fome, como nos lembra a Campanha da Fraternidade: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). / A todos um bom Domingo de Páscoa e que Deus os abençoe.
*Bispo diocesano de Erexim/RS
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