Terceiro dia da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Silvonei José – Aparecida -Vatican News
Os bispos brasileiros reunidos em Aparecida (SP) para a 60ª Assembleia Geral da CNBB continuam seus trabalhos nesta sexta-feira (21), no Santuário Nacional. Hoje é feriado nacional, Dia de Tiradentes, mas os encontros continuam normalmente no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho, em Aparecida, SP.
A Assembleia teve início na quarta-feira dia 18 e se encerra no dia 28 de abril de 2023.
O dia de ontem foi dedicado às avaliações das atualizações realizadas no regimento interno da CNBB.
Regimento interno da CNBB
O episcopado brasileiro apreciou no segundo dia da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante a quarta sessão, as atualizações feitas no regimento interno da entidade. Trata-se de um processo que vem sendo realizado, por uma comissão específica, desde a aprovação do Novo Estatuto da CNBB, promulgado em 8 de dezembro de 2022, e que determina que o regimento seja “revisto, adequando-se às novas normas estatutárias, no prazo de um ano a partir de sua entrada em vigor”. Dessa forma, no período da manhã, os bispos apreciaram e fizeram acréscimos ao texto em vista da aprovação da versão final do documento. Uma vez aprovado, na 60ª Assembleia Geral da CNBB, a presidência da entidade já promulga o novo regimento interno sem a necessidade de enviar o documento para validação da Santa Sé.
Em relação ao Estatuto Canônico e o Regimento da CNBB, o primeiro deles foi aprovado em 2022 e nesta Assembleia Geral os bispos têm que aprovar o Regimento, que tem a mesma estrutura do Estatuto. Segundo Dom Moacir Silva, arcebispo de Ribeirão Preto, muita coisa mudou nos últimos 20 anos em que tem se regido o atual regimento, se tornando necessário incorporar essas mudanças. Ao longo da Assembleia os bispos estudarão o novo Regulamento com o fim dele ser aprovado. Um trabalho que já está sendo realizado nos encontros por regionais, que começaram nesta quinta-feira e nas reuniões privativas, que também começaram neste dia 20.
Ainda na parte da manhã de ontem quinta-feira, a Comissão Episcopal de Liturgia e a de Doutrina da Fé apresentaram suas atividades e suas contribuições para a Igreja no Brasil.
A Comissão de Doutrina da Fé da CNBB refletiu sobre o papel da Igreja na transmissão da fé e dos bispos como “pais da fé”. Dom Pedro Cipolini, bispo de Santo André (SP), e presidente da Comissão destacou o interesse pastoral da comissão, relatando as atribuições que o Estatuto da CNBB lhe confere. O bispo mostrou algumas luzes e sombras da vivência da fé na Igreja do Brasil, destacando que a Igreja do Brasil foi uma das que melhor acatou o Concilio Vaticano II, assim como a sinodalidade.
Celebrações no Santuário
No final do dia de ontem os bispos rezaram o terço no Altar Central do Santuário Nacional, às 18h; e às 18h30 participaram da celebração eucarística. Desta vez, a Santa Missa com vésperas foi dedicada aos bispos de recente nomeação e foi presidida por dom Reginei José Modolo, bispo auxiliar de Curitiba (PR).
Já na noite da última quarta-feira o episcopado brasileiro celebrou a primeira Missa do encontro. A Eucaristia, com Vésperas, foi marcada pelo início do uso de textos da nova tradução brasileira do Missal Romano, aprovada pela Santa Sé.
No início da celebração, o bispo de Paranaguá (PR) e presidente da Comissão Episcopal para a Liturgia, dom Edmar Peron, recordou o processo de tradução, que levou 19 anos, e destacou que “o Missal traz uma tradução fidedigna à língua latina e à Língua Portuguesa”.
Missal Romano
Na liturgia da Igreja, o Missal Romano é o segundo livro litúrgico mais importante. Nele, estão as orações e orientações para as celebrações eucarísticas. O Evangeliário, que traz os textos do Evangelho, é o livro mais importante nos ritos da Igreja.
A tradução brasileira dessa terceira edição do Missal Romano levou 19 anos de trabalho. A caminhada começou após a promulgação, em 2002, pelo Papa João Paulo II, da nova edição típica. Desde então, foram anos de intenso trabalho de tradução, revisão e aprovação do conteúdo do Missal, coordenados pela Comissão Episcopal para os Textos Litúrgicos (Cetel).
A Terceira Edição Típica do Missal Romano foi aprovada pelos bispos na 59ª Assembleia Geral da CNBB e encaminhada ao Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos em dezembro de 2022. A confirmação da Santa Sé foi publicada no dia 17 de março deste ano.
Cristo ao centro
O arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidiu a celebração da última quarta-feira Em sua homilia, refletiu sobre o apelo e a interpelação “que nos vem da Palavra de Deus”.
“Aqui chegamos e estamos peregrinos. Sem coração de peregrino, a Palavra de Deus não encharca o nosso coração. Adentrar ao Santuário Nacional, contemplar e sentir a presença amorosa da Mãe Maria, Nossa Senhora Aparecida, é encharcar o coração para que a força da Palavra de Deus nos atinja e possamos dar a resposta que o mundo precisa, que a Igreja nos confia e que é a razão da nossa missão e vocação”, disse.
Dom Walmor falou do novo modo de viver proposto por Jesus, modo este que “só é frutífero no encontro maior de Cristo de Jesus. Encontro com Cristo que toca o coração mais profundo. Cristo deve estar hospedado no coração de cada um nós para vivermos a experiência de grande transformação”.
O chamado é a viver a experiência deste novo modo de viver, com Cristo ao centro. “Cristo deve ser a Luz que ilumina nossa vida. É preciso se encantar com o gesto admirável de Deus Pai que entregou seu filho para a morte e para nossa salvação”, disse dom Walmor.
Análise de conjuntura eclesial
Na última sessão de quarta-feira, 19 de abril, o episcopado brasileiro se reuniu no auditório Noé Sotillo, do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, para apreciar o trabalho do grupo de análise de conjuntura eclesial da CNBB, coordenado pelo arcebispo de Brasília, cardeal Paulo Cézar Costa, com o tema “as ameaças à comunhão eclesial no atual contexto sociopolítico e pastoral”.
A análise foi dividida em três partes – diagnóstico (cenário interno e externo); análise e prognóstico. Como um dos pontos do cenário externo, o estudo trouxe a polarização como chave de compreensão. “Contribuiu para isso um ecossistema comunicacional pós-redes sociais, pois reduziu a economia da informação à caça desesperada por cliques”.
Outros aspectos que contribuíram para o cenário externo, conforme o estudo, foram as guerras culturais e as manifestações. “No Brasil, a polarização foi aproveitada para recuperar as insatisfações das manifestações de 2013”. Conforme a análise, as manifestações são expressões do antagonismo entre governantes e governados, classe política e população, instituições e os que a representam.
O texto apontou também as matrizes que estão na origem da polarização no Brasil, como o militarismo, o antiintelectualismo, o empreendedorismo, o libertarismo econômico, o anticomunismo e o combate à corrupção. “O encontro desse conservadorismo traz individualismo, punitivismo, valorização da ordem acima da lei; e as condições afetivas trazem humilhação diante de situações de desemprego, subemprego”. A análise eclesial salientou ainda que as redes sociais são determinantes e que a mídia digital facilita a comunicação rápida, mas que também cria bolhas.
Foram salientadas as oportunidades do cenário externo para a missão evangelizadora da Igreja, como o uso dos símbolos religiosos e o uso inteligente das tecnologias digitais. E como prognóstico foram apontadas as dinâmicas eclesiais e pastorais para enfrentar a polarização. O texto sugere, por exemplo, que cabe aos bispos “aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato”.
Outro ponto destacado e que precisa ser corrigido pelos bispos, segundo o texto, é a questão da religiosidade popular, sobretudo mariana, que enfatiza a perspectiva da “manifestação”. “Ela necessita ser corrigida com a dimensão da proclamação; para isso: formação bíblica”.
Por último, foi também sugerido na análise que fosse criado um observatório de mídias digitais, pelas dioceses, para que se faça um acompanhamento do que é publicado nas mídias digitais. Além disso, houve a sugestão para que se priorize a formação nos seminários e a continuação do caminho sinodal iniciado em 2021, como um caminho de conversação espiritual.
Presentes também na Assembleia muitos bispos eméritos, cerca de 157. Nós conversamos com o arcebispo emérito de Aparecida, cardeal Raymundo Damasceno Assis...
Coletiva de Imprensa
No período da tarde, a tradicional coletiva de imprensa realizou-se às 15h, na Sala de Coletivas, com a presença de três bispos da Conferência:
• Dom Leomar Antônio Brustolin, arcebispo de Santa Maria (RS), falou sobre o processo de atualização das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE);
• Dom Edmar Peron, bispo de Paranaguá (PR), apresentou a tradução brasileira da terceira edição típica do Missal Romano, aprovada pela Santa Sé;
• Dom Pedro Cipollini, bispo de Santo André (SP), fez um balanço das atividades realizadas pela Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé da CNBB.
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