Cardeal Zuppi sobre migrantes: não se pode morrer de esperança
Alessandro de Bussolo – Vatican News
Tomaram parte da Vigília, que teve como tema “Morrer de esperança”, refugiados, deslocados e familiares das vítimas dos naufrágios marítimos, além de representantes das diversas comunidades religiosas presentes em Roma.
Durante a celebração foram recordados os nomes e as histórias das 3.170 vítimas dos naufrágios marítimos, que tentavam atracar em solo europeu, desde junho de 2022. Uma recordação especial foi dedicada aos 600 tripulantes, que afogaram, recentemente, em Pylos, costa da Grécia, entre as mais de 700 pessoas, mulheres e crianças, sírios, paquistaneses e egípcios.
É preciso de respostas dignas da história, da Europa e da Itália
Durante a Vigília de Oração, o Cardeal Matteo Maria Zuppi, Presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI) e Arcebispo de Bolonha, pronunciou sua homilia, partindo do tema escolhido para a celebração ecumênica “Não se pode morrer de esperança”: “Os que morrem de esperança são um exemplo para que não aconteça o mesmo com os outros, mas se encontre respostas possíveis, dignas da história, da grandeza da Europa e da Itália. A nossa é uma celebração de pessoas salvas, que não podem esquecer os afogados".
“É urgente, continua o Cardeal Zuppi, optar por um sistema de proteção e acolhimento seguro para todos; um sistema legal, porque só com legalidade pode-se combater a ilegalidade, ou seja, o lucro criminoso de certas pessoas. A Europa, filha dos que sobreviveram às guerras, não pode deixar de ouvir as vozes dos que nos deram liberdade e justiça; deve valer-se dos seus direitos para garantir os fluxos de migrantes, corredores humanitários, reunificação familiares, que garantam futuro e estabilidade aos que buscam a esperança de uma vida melhor”.
Pacem in Terris e última mensagem do Papa
O Presidente da CEI acrescenta: “Uma vez salvos, devemos salvar, para que ninguém seja afogado; devemos restituir a graça e compreender que a segurança, a paz e o bem-estar não serão inúteis se acolhermos; pelo contrário, todos nós perdemos se os guardarmos para nós e não fizermos aos outros o que os outros fizeram por nós”.
Depois, o Cardeal Zuppi citou a encíclica Pacem in Terris, onde, há sessenta anos, São João XXIII escrevia: “Todo ser humano tem o direito, quando aconselhados pelos legítimos interesses, de emigrar e estabelecer-se em outras comunidades políticas, pois, como cidadãos, pertencem à comunidade mundial”.
Por outro lado, o Cardeal recordou também a 109ª Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, onde o Papa Francisco “nos confia o direito e a liberdade de escolher migrar ou permanecer onde quisermos”: “É preciso um esforço conjunto de todos os países e da Comunidade internacional para garantir a todos o direito de não ter que emigrar, ou seja, a possibilidade de viver em paz e com dignidade em sua própria terra”. A este respeito, o Cardeal Zuppi explicou: “Trata-se de uma visão pela qual vale a pena viver, investir energias e recursos, que nos ajudam a alcançar o futuro, a única esperança do mundo”.
Memória de todas as vítimas, que “sonhavam” chegar à Europa
Durante a celebração ecumênica, foram recordados todos os que perderam a vida, ao tentar chegar à Europa: os 18 jovens afegãos, abandonados em um caminhão em uma estrada da Bulgária, em 17 de fevereiro de 2023; os 126 migrantes afegãos, sírios, paquistaneses e de outras nacionalidades, que, ano passado, perderam a vida a caminho dos Bálcãs; os 210 refugiados afogados, entre 18 e 27 de abril, na costa entre Sfax e Mahdia, na Tunísia, sobretudo, eritreus e somalis; e os mais de 870 refugiados da África Subsaariana, que morreram ao cruzar o mar entre a Tunísia e Argélia; os mais de 65.000 mortos e desaparecidos, desde 1990, na tentativa de chegar à Europa, além dos cerca de 24.000, em 2015; enfim, os que morreram na passagem entre o México e Estados Unidos ou outros continentes... “Todas essas pessoas, com seus nomes e histórias, segundo o Cardeal Matteo Zuppi, estão no coração de Deus, apesar de serem ignorados pelos homens".
Orações pela paz na Ucrânia e pelos perseguidos
Ao término da cerimônia ecumênica, os participantes da Vigília de Oração, "cientes do sofrimento e da agonia, impressos na carne dos refugiados, que tentam fugir das guerras, se uniram à voz e à oração do Papa, para que nada fique sem resposta na busca de um pouco de esperança na Ucrânia, dilacerada pelos conflitos e destruição, enquanto vítimas inocentes pedem salvação e esperança". A oração pela da paz na Ucrânia foi a primeira das 13 orações lida por uma mulher da comunidade ucraniana na Itália, “por um futuro livre de conflitos”.
Por sua vez, Padre Camillo Ripamonti, presidente do “Centro Astalli” do Serviço Jesuíta aos Refugiados, rezou: “Para que os nomes e os rostos, apenas mencionados, abalem as consciências e abram os olhos da Europa; para que o nosso continente possa se redimir e reencontrar as razões inevitáveise profundas da humanidade e da solidariedade".
Por fim, o Senhor Jesus foi invocado também “pelos cristãos da África e da Ásia, que sofrem perseguições; pelos muçulmanos, vítimas de agressões blasfemas e fratricidas e para que sejam desarmadas as razões do ódio e armadas as razões da paz”.
Encontros de oração também em outras cidades italianas e europeias
Além da Vigília de Oração na Basílica de Santa Maria em Trastevere, estão previstos ainda outros encontros contemporâneos de oração em diversas cidades, como Catania, Pavia, Barcelona, Nápoles, e Innsbruck, Bolonha, Aversa na intenção dos migrantes, que morreram na rota marítima para a Europa. Neste sábado, 24, os fiéis também se reúnem em oração pelos migrantes falecidos; neste domingo, 25, também em Milão e novamente em Roma.
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