Em Berlim, o encontro das religiões para recolocar a paz no debate mundial
Francesca Sabatinelli - Cidade do Vaticano
Berlim é a cidade testemunha de que os muros, assim como são erguidos, também podem cair, e será precisamente a capital alemã a sediar "O grito da paz" lançado no ano passado de Roma, quando as religiões unidas ao Papa no Coliseu pediam que "a terra fosse libertada da violência".
De fato, de 10 a 12 de setembro, será realizada na cidade da Alemanha a 37ª edição do encontro do “Espírito de Assis” promovido pela Comunidade de Sant’Egidio, este ano intitulado “A audácia da paz. Religiões e culturas em diálogo”, organizado conjuntamente com as Igrejas Católica e Protestante. Um evento do qual tomará parte, entre outros, o chanceler alemão Olaf Scholz, nascido na esteira do dia de oração em Assis convocado por São João Paulo II em 1986, quando os líderes das religiões do mundo se encontraram para dialogar e rezar, inspirados pelas palavras do Papa Wojtyla: "A paz é um canteiro de obras aberto a todos".
O presidente da Comunidade de Sant'EgidioMarco Impagliazzo explicou na segunda-feira, 26, da Alemanha, onde foi apresentado o evento, que Berlim "é a cidade onde um muro caiu pela força das democracias, do diálogo e da paciência para reconstruir canais de paz. Em um mundo em que ressurgem tantos muros, vir a Berlim é recordar que muros podem cair".
A destruição da guerra e o papel das religiões
"Este ano - explicou Impagliazzo ao Vatican News-Radio Vaticano - vimos novamente a guerra fazer tantas vítimas, causar tanta destruição não só na Ucrânia, mas também em outros países do mundo e, portanto, evidentemente, fomos todos pouco ousados: a sociedade civil, a comunidade internacional, a diplomacia na busca dos caminhos da paz, assim como indicou o Papa Francisco".
É, portanto, de Berlim, a cidade dos escombros do último baluarte da Guerra Fria, que se quer lançar de forma clara a mensagem da "audácia da paz" e do papel fundamental das religiões em levá-la adiante, o que caberá, entre outros, aos líderes religiosos convidados, como o rabino chefe de Israel Lau e o Grão Imam de al-Azhar al-Tayyeb, com quem o Papa assinou o documento de Abu Dhabi sobre a fraternidade humana em 2019, bem como representantes de religiões asiáticas, do hinduísmo, do budismo e do xintoísmo sikh.
"Todo o mundo religioso estará representado em Berlim - continua Impagliazzo - e em uníssono nos empenharemos arduamente para colocar novamente o tema da paz no centro do debate internacional, onde infelizmente ainda prevalece uma lógica de polarização, quando não de confronto, mas também uma lógica de armas, de comércio de armas, de distribuição de armas. Essa lógica deve mudar, deve haver uma inversão de tendências, porque precisamos antes de tudo abrir caminhos de diálogo e depois caminhos de paz, portanto as religiões farão sua parte”.
Novos caminhos de diálogo
As religiões hoje estão muito menos presentes nos cenários de guerra e trabalham para abrir novos caminhos de diálogo, fortalecidas também por uma severa autocrítica feita ao longo dos anos. "Um exemplo disso - continua o presidente de Sant'Egidio - são os caminhos que se abriram entre cristãos, entre cristãos e muçulmanos, o que o Papa Francisco tem feito nos últimos anos, especialmente em direção ao mundo muçulmano, suas viagens também ao Bahrein, além daquela a Abu Dhabi, em outras regiões muçulmanas”.
Sobre o fracasso da paz, é a convicação de Impagliazzo, também outros mundos deveriam se questionar, como o político ou o diplomático, “porque houve tantos momentos de reaproximação entre as religiões e também fizeram história. Abu Dhabi fez história, assim como o encontro do Papa Francisco com Al Sistani em Najaf fez história com os xiitas iraquianos".
As religiões, portanto, estão fazendo a história do diálogo, mas e a política e a diplomacia? É a pergunta que vai ecoar em Berlim.
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