Novo bispo birmanês: um pastor que acompanha a Via-Sacra do povo
Vatican News
A diocese de Loikaw, capital do estado de Kayah, na parte oriental de Mianmar, deu as boas vindas ao seu novo Bispo, ordenado, nesta quinta-feira, 29 de junho, dia de São Pedro e São Paulo, com uma festa cheia de fé, esperança e emoção. Trata-se de Dom Celso Ba Shwe, atual administrador diocesano.
A celebração Eucarística, presidida pelo Cardeal Charles Maung Bo, Arcebispo de Yangon, contou com a presença de outros Bispos e de uma multidão de fiéis birmaneses, apesar dos perigos, dificuldades de locomoção e grave situação de guerra civil.
Em sua homilia, ao expressar inicialmente sua comoção pela grande participação de fiéis, o Cardeal Charles Bo, disse: "Este é um dia de milagres, de esperança e do triunfo do Espírito, que dissipa as trevas e suscita luz, esperança apesar do desespero e cura das feridas. Deus seja louvado por este momento. Todos, aqui presentes, são testemunhas da ação de Deus, em Loikaw”.
Ao comentar a história bíblica do Êxodo, em que o Senhor acompanha seu Povo, e realiza o milagre da água, que brota da rocha, e do maná que veio do céu, o Cardeal acrescentou: “Um evento como este, que acontece neste lugar e neste tempo, representa um dos maiores milagres da graça divina. Com esta celebração, temos esperança de que o novo Bispo nos possa conduzir a uma terra de paz e reconciliação. Agora, temos um Bispo que acompanhou de perto a Via Sacra do seu povo”.
“O novo Bispo, Dom Celso Ba Shwe, – acrescentou o Cardeal - é conhecido pelo seu exemplo de Bom Pastor: um pastor que já vivia no meio do seu rebanho, dando testemunho de suas lágrimas, feridas, dispersão. Deus o escolheu, não por suas grandes qualidades oratórias, mas para dar testemunho da Via Sacra do seu povo e conduzi-lo à glória da Ressurreição, esperança, paz, reconciliação e reconstrução das comunidades”.
Em sua reflexão, o Cardeal Charles Bo recordou ainda: “Na história da Igreja em Mianmar, a igreja de Loikaw é como uma cidade que dirige seu olhar para o céu e brilha pela sua fé. Muitos filhos desta comunidade tornaram-se religiosos, sacerdotes e missionários, enviados pelo mundo para pregar o Evangelho”. Aqui, o Cardeal recordou os predecessores do novo Bispo Celso Ba Shwe: “O querido e incansável Dom Sotero Phamo e Dom Stephen Tjephe, pastor simples e afável, falecido, prematuramente, em dezembro de 2020”.
Nos últimos três anos, marcados pelo conflito em curso, a missão de Dom Celso Ba Shwe tornou-se seu altar: partilhava a comida com os famintos; as florestas eram seu terreno de proclamação da esperança; os campos de refugiados sua paróquia.
Por isso, o Cardeal perguntou: “Quais os desafios que o novo Bispo deverá enfrentar?” E respondeu: “O primeiro, é enfrentar os males com uma forte fé no Deus vivo, ao recordar a experiência do apóstolo Pedro na prisão: o anjo o libertou das correntes e o encaminhou no caminho da salvação”. “Este acontecimento extraordinário, - explicou - é sinal de que Deus está ao lado dos seus seguidores, até nos momentos mais difíceis. O Bispo, unido a Deus, é guiado em seu caminho por Deus e o seu Espírito".
“O segundo desafio, - afirmou o Cardeal Charles Bo, é viver a alegria do sofrimento redentor, conforme o exemplo de São Paulo, cuja vida foi uma verdadeira oferta de amor redentor pelo seu povo. Jesus Cristo é nosso modelo. Da mesma forma, o novo Bispo deverá ser seu mensageiro em tempos de sofrimento”.
“O terceiro desafio que Dom Celso Ba Shwe deverá enfrentar, - segundo o Cardeal, - é levar o amor a um povo que viu tanto ódio. A vida de um Bispo é uma constante batalha pela verdade e a retidão, que exige perseverança, fidelidade e confiança inabalável na proteção do Senhor”. E, dirigindo em particular ao novo Bispo, disse: “Deixe que Deus seja o Bom Pastor no seu ministério apostólico, sobretudo, nestes tempos tristes”.
Por fim, o celebrante disse ainda: “Dom Celso Ba Shwe é chamado a reconciliar e reconstruir, mas também a curar as feridas físicas, espirituais e psicológicas, em uma situação dolorosa, marcada pela ferocidade do mal. Ele só poderá fazer isso na certeza de que não somos nós que edificamos a Igreja, mas Jesus Cristo. Ele é a rocha sobre a qual a igreja de Loikaw será reconstruída”. E exortou: “Coragem! Jesus é nosso companheiro, Senhor e Mestre, nesta missão que parece tão árdua"!
O Cardeal Charles Bo concluiu sua homilia, dizendo aos numerosos fiéis presentes: “Apesar de todas as dificuldades e feridas, vocês estão aqui com a mesma fé, a fim de demonstrar ao mundo que nada lhes impede de ser o Corpo vivo de Cristo. Vocês são o corpo ferido de Cristo. Mas, em suas chagas, como aconteceu com Jesus, vocês mantêm as grandes promessas de uma ressurreição prometedora, pois são uma inspiração profunda para toda a Igreja em Mianmar. E lembrem-se: o Senhor os acompanha neste seu êxodo".
A diocese birmanesa de Loikaw, além das dioceses de Pekhon, Hakha, Kalay e Mandalay, encontra-se nos territórios mais gravemente afetados pelo conflito civil, em curso em Mianmar, após o golpe militar de 2021. Nesta diocese, enquanto continuam os combates, mais de 150.000 civis deslocados foram obrigados a buscar refúgio em numerosas igrejas e conventos ou até mesmo na floresta, segundo fontes locais.
A cidade de Loikaw situa-se no estado birmanês de Kayah, onde a maioria da população pertence à etnia dos Karens ou Sino-tibetana. Ali, os cristãos constituem cerca de 50% da população.
(PA - Agência Fides 30.6.2023)
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