Bartolomeu I: na Ucrânia a população e o ecossistema sofrem perdas incalculáveis
Antonella Palermo - Cidade do Vaticano
“Todo ato de guerra é também uma guerra contra a criação, pois representa uma grave ameaça ao ambiente natural”. É o que sublinha o Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeu I na mensagem para o Dia de Oração pelo Cuidado da Criação - celebrado em 1° de setembro - e para o início do ano eclesiástico. Numa perspectiva ecumênica, como é tradição, este ano o seu trabalho de sensibilização toca inevitavelmente na estreita ligação entre a dimensão estritamente ambiental e aquela inerente aos direitos humanos espezinhados pelos conflitos.
A guerra na Ucrânia é uma terrível devastação ecológica
A referência explícita de Bartolomeu é à “invasão da Ucrânia pela Rússia, que está associada a uma terrível devastação ecológica”. O patriarca especifica que “a poluição da atmosfera, da água e da terra causada pelos bombardeamentos, o risco de um holocausto nuclear, a emissão de radiações perigosas das centrais nucleares que produzem electricidade, as poeiras cancerígenas produzidas pela destruição dos prédios, a destruição de florestas e o esgotamento das propriedades agrícolas aráveis - tudo isto testemunha que o povo e o ecossistema da Ucrânia sofreram e continuam a sofrer perdas incalculáveis". E repete com força: “A guerra deve parar imediatamente e um diálogo sincero deve começar”.
A quarta geração de direitos, os ambientais
Bartolomeu recorda que hoje se dá cada vez mais ênfase ao que se define como a expansão ecológica dos direitos humanos. Neste sentido, retoma o conceito de “quarta geração” de direitos, juntamente com os direitos individuais e políticos, sociais, culturais e de solidariedade. “A luta pelos direitos humanos não pode ignorar o fato destes direitos estarem ameaçados pelas alterações climáticas, pela falta de água potável, de solos férteis e de ar puro, mas também pela degradação ambiental em geral”. Daí a recomendação de que as consequências da crise ecológica devem ser abordadas sobretudo em termos de direitos humanos. “É evidente que estes direitos – declara – em todos os seus aspectos e dimensões, constituem uma unidade indivisa e que a sua protecção é inseparável”.
João de Pérgamo: na Divina Liturgia a unidade entre o homem e a criação
Enquanto o patriarca saúda as repercussões das iniciativas ecológicas do Patriarcado Ecumênico não só entre os cristãos, mas também entre aqueles que professam outras religiões, nas sedes parlamentares e entre os políticos, no campo da sociedade civil, da ciência, dos movimentos ecológicos e juvenis, volta a enfatizar que “a destruição do ambiente natural afeta sobretudo os pobres”.
Diante de todos estes desafios, Bartolomeu especifica que todos os esforços feitos pela Igreja para criar plena consciência nestas áreas “não são simplesmente uma atividade adicional”, mas a sua expressão e realização essencial como extensão da Sagrada Eucaristia. E recorda o precioso legado do pioneiro da teologia ecológica, o falecido Metropolita João de Pérgamo, que escreveu:
“Na Divina Liturgia, o mundo natural e material, juntamente com todos os sentidos, participam numa unidade inseparável. antítese entre o sujeito e a realidade objetiva, não existe uma posição de conquista da mente humana sobre o mundo circundante. Este mundo não existe contra, não é um objeto do homem, mas é assumido e colocado em comunhão. A Sagrada Comunhão não é apenas a nossa união com Deus e com os outros, mas também a ingestão de alimentos, a aceitação e valorização do ambiente natural, a incorporação e não o simples consumo de matéria”.
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