Zuppi: ninguém deve ser deixado sozinho na luta contra o mal
Alessandra Zaffiro - Palermo
A catedral de Palermo estava superlotada de fiéis, nesta sexta-feira, 15, por ocasião dos 30 anos do martírio do Padre Pino Puglisi. A memória do Beato siciliano foi celebrada durante uma liturgia Eucarística presidida pelo Cardeal Matteo Zuppi, Arcebispo de Bolonha e Presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), e concelebrada pelo Arcebispo de Palermo, Dom Corrado Lorefice, e os demais Bispos de Sicília.
Na ocasião, numerosos devotos, fiéis e peregrinos se detiveram diante do altar da Catedral, dedicada à Imaculada Conceição, onde descansam os restos mortais do Padre Puglisi, beatificado pelo Papa Francisco em 2013. Sobre seu sarcófago, encontra-se a escrita que recorda uma passagem evangélica, tão querida pelo Padre assassinado pela máfia, por ódio à fé: “Sua presença é fecunda como um grão de trigo caído na terra, que morreu e produziu muito fruto”.
No bairro Brancaccio, onde o sacerdote foi assassinado, os fiéis e turistas puderam apreciar também a exposição fotográfica dedicada ao Beato siciliano, como recordação do seu martírio.
“As máfias são compostas por covardes sem honra”
Em sua homilia, o Cardeal Matteo Zuppi disse: “Padre Pino foi um amigo fascinante, um homem grande e humilde. Ainda hoje, com o seu sorriso, continua a causar-nos vergonha pela nossa grande suficiência, prudência, medo; com a sua indiscutível paixão evangélica, ensina-nos a colocar-nos ao serviço de Deus e dos outros e a trabalhar nesta cidade, bela e repleta de sofrimento”. Hoje, recordou o Cardeal Zuppi, “revivemos a dor e o sentimento de indignação pela violência brutal que o assassinou. Esta violência tem um nome, que comporta muitos outros nomes, mas que são todos nomes de morte: a máfia”.
“O assassinato deste sacerdote siciliano, acrescentou o Cardeal, se une ao dos muitos mártires que se opuseram à máfia e às máfias, ‘todas compostas por covardes, por homens sem honra’, cujo poder é oculto; eles são hábeis e espertos em corromper e se enriquecem com a venda de mortes. Estes mesmos homens assassinaram, com frieza, um pobre homem indefeso, que só amou até o fim. O sorriso do sacerdote mártir foi uma resposta e, de certa forma, seu perdão”.
Ainda hoje, para todos nós, é de grande atualidade a advertência, que provoca temor e tremor, lançada, com comovente indignação e incrível força, precisamente há trinta anos, por São João Paulo II: “Convertam-se! O julgamento de Deus virá!”.
Padre Pino nos convida a não ter medo de amar até o fim
Em sua homilia, o Cardeal Matteo Zuppi afirmou ainda: “Na luta contra o mal, ninguém deve se sentir sozinho: sacerdotes, religiosos e leigos, que, todos os dias, arriscam suas vidas; mas também os magistrados e as forças de ordem, que cumprem seu dever, em nome do Estado e em prol de todos, para o cumprimento da justiça e das leis”.
Nós, disse o Cardeal, precisamos da ajuda de Jesus para entender e escolher. Isso é necessário e vale para todos: “Se alguém, em Palermo, quiser encontrar Deus, o Deus Amor, deve seguir o exemplo do Padre Pino Puglisi, que deu a sua vida como o grão de trigo, que caiu na terra e morreu. Que este amigo de Jesus, nos ajude a não ter medo de amar até o fim”.
“Hoje, após 30 anos do seu martírio, vemos os seus frutos e a esperança de uma sociedade melhor. Seu fruto principal é o Evangelho vivo, que não nos faz hesitar diante das situações perigosas e vulneráveis, como as crianças de rua, que devem ser salvas e educadas ao amor de Jesus”.
Um gesto concreto para a salvação das crianças e jovens em dificuldade é o “Centro Pai Nosso”, fundado, em 1991, pelo próprio Padre Pino Puglisi. Trata-se de um de seus gestos mais evangelicamente revolucionários.
A amizade segundo Padre Pino
Quão precioso, para o Padre Puglisi, era o valor da amizade, que buscou transmitir aos “seus jovens”, hoje adultos. Aqui, o Presidente dos Bispos italianos citou as palavras do Padre Giuseppe Puglisi: “Em nossos dias, alguns pensam que a amizade é algo para crianças, uma experiência poética da juventude, uma ideia confortante para quem não tem nada para fazer, ou então, um truque sofisticado para subir na vida e fazer bons negócios. Pelo contrário, a amizade é expressão daquela centelha do que é sagrado, ético e espiritual presente em cada um de nós”.
“É disso que todos precisam”, disse o Cardeal Zuppi: “As recentes notícias prejudicam a cidade de Palermo, a seriedade e a educação de uma vida melhor, mas é preciso também de mais vida comunitária”!
Ainda em vida, Padre Pino Puglisi havia organizado uma exposição intitulada “Sim, mas para onde?”. Esta questão nos preocupa, mas, sobretudo, aos jovens: é necessário amor gratuito, fraternidade, verdadeira amizade e uma cidade mais humana e solidária.
Os frutos da obra evangelizadora do Beato Padre Pino Puglisi ainda nos exortam a viver a Palavra de Deus, servir e amar até o fim, sorrir a todos e construir muitos outros “Centros Pai Nosso”, para a formação de uma comunidade, composta de família, filhos e irmãos".
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