Dom Zanoni: as esperanças do povo negro
Rosa Martins – Vatican News
“A Igreja não poder ficar alheia às dores e esperanças do povo negro”: a expressão é do bispo referencial da Pastoral Afro-brasileira e arcebispo de Feira de Santana, na Bahia, dom Zanoni Demettino Castro, durante entrevista concedida à Rádio Vaticano - Vatican News, por ocasião do Dia Nacional da Consciência Negra que se comemora nesta segunda-feira, 20 de novembro.
A data é para a comunidade negra, uma ocasião para fazer memória do ícone da luta contra a escravidão da população negra, Zumbi dos Palmares. “A escravidão é um crime que lesa a humanidade, que precisa ser urgentemente reparado. O Dia da Consciência Negra é um momento de celebração, uma oportunidade de reflexão, um tempo de graça, um grande Kairós de Deus”, enfatiza o bispo.
Dom Zanoni explica que o Dia Nacional da Consciência Negra é um momento forte de reflexão, que ajuda a sociedade a compreender que a maioria do povo brasileiro é afrodescendente. Uma ocasião para fortalecer a valorização das culturas dos povos africanos, conhecer a riqueza da sua origem, da sua tradição, a beleza dos seus valores. “Um momento de busca, de procura, de termos presente quem somos, qual é, de fato, a nossa identidade”.
A Igreja não pode ficar indiferente às dores e às esperanças deste povo”
Chamada a evangelizar, a Igreja assume a missão de Jesus de ser uma boa notícia aos pobres, anunciar a libertação dos cativos, o ano da graça do Senhor. Por isso, a Igreja se pergunta como ser fiel ao mandato evangelizador do Mestre Jesus, ‘Ide pelo mundo, anunciai o Evangelho a todas as criaturas’, tendo presente que a maioria absoluta do nosso povo é afrodescendente, como evangelizar. O caminho evangelizador tem que ter presente a raiz, a cultura, a história, as alegrias, as dores, os sofrimentos. Conhecer as riquezas, os valores da tradição africana presente no nosso povo, na nossa gente. “Isto quer dizer, anunciar os valores do Evangelho, compreendendo que o grande protagonista, os negros, nessa missão evangelizadora não podem ser apenas destinatários, mas devem ser sujeitos da construção de um mundo de paz, na comunidade daqueles que acreditam em Jesus”, enfatiza o prelado.
A Pastoral Afro-brasileira, neste contexto exerce uma missão mais ampliada, de caráter transversal, para além de um grupo, um movimento. É uma ação evangelizadora que age em toda a Igreja. “Somos chamados a iniciar os nossos líderes e agentes de pastoral num processo de evangelização, onde a causa, a vida e a realidade do negro não fiquem à margem".
Consciência Negra
Sobre a comemoração da data da, “Consciência Negra”, o arcebispo trouxe à tona as razões da importância deste dia: os afrodescendentes têm sua história atravessada por exclusões, o que também foi ratificado no Documento de Aparecida. "O racismo estrutural atinge pesadamente o povo negro, o qual precisa ser resgatado, libertado, dignificado. Este povo deve ser o protagonista desta realidade nova e esse é o desafio que deve ser enfrentado. As consequências dos 300 anos de escravidão devem ser reparadas e esse é o nosso empenho.
Consciência Negra quer dizer que devemos ter consciência da nossa cultura, da nossa origem, da nossa realidade, mas também, ter presente o nosso propósito, a nossa luta, a nossa resistência”, afirma dom Zanoni.
A Consciência negra é um processo
O dia 20 de novembro é uma data em que o povo negro faz memória da luta de Zumbi dos Palmares, ícone da luta, do empenho, da libertação, mas também, recorda tantos homens e mulheres que se empenharam, se dedicaram, e foram martirizados por esta causa. Movimentos, ações, iniciativas, ações afirmativas, lei de quotas, compromissos, empenhos de tantos homens e mulheres vão gestando uma nova sociedade. “A consciência negra não é uma realidade pronta, mas um processo de construção, de fortalecimento que vai se realizando, sendo plasmado em nossas comunidades, grupos, movimentos, mas sobretudo em cada pessoa humana, cada homem e cada mulher”.
“Uma realidade atravessada pela exclusão social e econômica”
A desigualdade no Brasil pesa, sobretudo, sobre o povo negro, com consequências drásticas como a exterminação da juventude, segundo o arcebispo, um verdadeiro holocausto, provocado pela guerra do tráfico que tem exterminado, matado a nossa juventude da periferia, sobretudo a juventude negra. “Se vamos às prisões, são os negros que são a maioria dos encarcerados: a situação de pobreza, de miséria, de dificuldade que vive o povo brasileiro, atinge, sobremaneira o povo negro. Por isso, essa realidade precisa ser mudada, transformada. O povo negro precisa ser resgatado na sua dignidade”, conclui.
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