Presença da Congregação de Dom Orione em Novo Aripuanã
Vatican News
No dia 20 de agosto de 2022, na presença do Superior Provincial, padre Josumar dos Santos, os missionários orionitas receberam de dom Zenildo Luiz Pereira da Silva, bispo da Diocese de Borba, o compromisso de cuidar pastoralmente da Área Missionária Santo Antônio Maria Claret.
Após um ano em terras amazonense, o sacerdote orionita narra a sua experiência missionária.
1. Padre Pedro Júnior, a missão orionita na cidade de Novo Aripuanã, completou no último dia 20 de agosto um ano. Como o senhor descreve o trabalho missionário nesta região amazônica?
Pe. Pedro Júnior. Na verdade, os religiosos de Dom Orione estão presentes na realidade amazônica há cerca de 50 anos. A primeira abertura foi na cidade de Ananindeua, no estado do Pará, onde tive a graça de servir como pároco por cinco anos. Depois veio Buritis, em Rondônia, e Boa Vista, em Roraima. Todas são realidades peculiares que responderam a um apelo histórico, em um momento particular da vida Igreja e da Congregação. Agora, há um ano, chegamos ao Estado do Amazonas, no coração da Amazônia, atendendo ao histórico apelo da Igreja, por meio do Papa Francisco, que nos convoca a assumir uma Igreja com rosto amazônico.
Gosto de falar do trabalho que desenvolvemos com duas frases. A primeira, é a máxima bíblica que nos diz que há mais alegria em dar do que em receber (At 20,35). E a outra, é de São Luís Orione que nos recorda que amar é dar a vida cantando o amor. Em síntese, aqui na missão recebemos muito mais que damos e aprendemos a viver amando, cantando o Amor, que nos amou por primeiro (1Jo 4,19).
2. Quais são as imagens que mais marcaram o primeiro ano da missão?
Pe. Pedro Júnior. O tempo passou, e completamos o primeiro ano de nossa chegada. Deus seja louvado! Posso afirmar que a decisão da Congregação de vir para Novo Aripuanã é cheia de ousadia profética, pois vem do anseio evangélico de alargar a tenda (Is 54,2). Neste ano, aprendemos muito, pois viemos com nossos corações abertos e dispostos a viver como vivem os moradores destas terras e esta decisão demandou renúncias.
Recordo ainda as palavras de Dom Zenildo, na ocasião da minha posse, quando ele disse que estar em Novo Aripuanã era uma escolha pelos pobres do Rio Madeira e uma resposta da Congregação ao apelo do Papa Francisco que pediu as congregações para olhar para a Amazônia.
Aqui o povo é muito bom e estão maravilhados com a presença orionita. Diante da acolhida do povo e de tudo que estamos vivendo, como Maria, sinto ecoar no meu coração missionário aquela imagem bíblica: O Senhor fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome (Lc 1, 46-54).
3. Quais são os grandes desafios da missão?
Pe. Pedro Júnior. Cada lugar de missão tem seus desafios e a Congregação orionita gosta de desafios, pois atende a um clamor, consola uma dor. Na missão de Novo Aripuanã acredito que o fator distância é o grande desafio, pois estamos longe de Manaus! Da capital do estado do Amazonas a Novo Aripuanã são cerca de 30 horas de barco.
A distância também impacta no trabalho missionário! Existem comunidades longínquas da cidade de Novo Aripuanã, que gastamos dias para visitá-las. Algumas estão à beira do Rio Acari e são comunidades bem simples, sem energia elétrica. A educação escolar não é fácil, pois o professor tem que ir e ficar lá o mês todo. Quando visitamos estas comunidades, celebramos a eucaristia, o batismo, fazemos um pouco de catequese e organizamos brincadeiras com as crianças.
As estruturas são primárias! Em muitas comunidades, não existe o templo da igreja, mas tem uma linda árvore para celebrar. Normalmente, adaptamos um banco ou uma mesinha e os transformamos em altar.
O papa Paulo VI dizia que Cristo aponta para a Amazônia. Esta afirmação nos faz compreender este território como lugar teológico, que precisa ser contemplado em suas várias perspectivas, porque o futuro da humanidade depende desta terra sagrada.
Nesta esteira, urge dar maior robustez ao projeto de evangelização para a Amazônia, o qual deve priorizar o anúncio da Boa Nova, a promoção vocacional e a formação dos cristãos leigos e leigas. É preciso também refletir sobre a sustentabilidade do trabalho missionário para que o anúncio atinja a todos, sobretudo aos rincões mais distantes, pois o rebanho não pode perecer por falta de pastores.
4. Como que a Congregação de Dom Orione testemunha o carisma orionita no solo amazônico?
Pe. Pedro Júnior. Esta é uma pergunta interessante, pois os Filhos de Dom Orione, tem como carisma levar os pequenos, os pobres os humildes à Igreja e ao Papa, mediante obras de caridade. Nesta perspectiva, se compreende o trabalho desenvolvidos nas escolas, hospital, casas de recuperação para dependentes químicos, Pequenos Cotolengos, onde se acolhe pessoas com deficiência. Todas essas são obras são púlpitos de evangelização, mas bastante complexas do ponto de vista da lei e da sustentabilidade.
Aqui, sinto que Nosso Senhor nos pede para estar com as pessoas, como Igreja profética em saída, enlameada com as dores dos pobres e, como samaritana, comprometida em ser bálsamo para aliviar as dores do povo, por meio da cultura do encontro, não perguntando àqueles que encontramos se tem uma religião, uma cor, mas somente acolhe-los como expressão do amor e da ternura de Deus e da maternidade da Igreja.
5. Estamos vivendo o Sínodo da Igreja! É um momento importante para escutar a voz do Espírito. Na celebração de abertura o papa disse: Se deixarmos espaço para o Espírito Santo, o Sínodo correrá bem. Para o senhor, qual apelo o Espírito Santo faz para a Igreja amazônica?
Pe. Pedro Júnior. Permita-me responder esta pergunta com uma imagem. Às vezes, viajamos horas de barco para visitar uma comunidade. Às vezes até 8 horas rio adentro! Chegando na comunidade encontramos, por vezes, duas ou três famílias. Ali, celebro a missa com as possibilidades que se tem! Sempre quando isto acontece lembro daquela passagem que Nosso Senhor nos diz: Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mt 18,20). Com essa fotografia diante dos olhos, creio que o Espírito Santo de Deus nos pede para olharmos para experiência das primeiras comunidades cristãs, percebendo que a comunhão que existia entre os apóstolos gerava participação, missão e por isso, o exemplo deles atraia novos seguidores. Acredito que o Espírito de Deus, deseja que sejamos uma presença profética, fecunda, desprendida das estruturas e confiante na Providência do Pai do Céu, como viviam os primeiros cristãos.
Agradeço profundamente esta oportunidade de compartilhar um pouco a vida que vivemos aqui em terras de missão. Peço orações pelo trabalho missionário dos religiosos orionitas presentes na cidade de Novo Aripuanã, para que fiéis ao evangelho, sejam um sinal transparente do Reino de Deus, no coração da Amazônia.
Fonte: Congregação de Dom Orione
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