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A santidade como dom de Deus e a resposta livre do ser humano

A Palavra de Deus proveniente da Sagrada Escritura afirma a necessidade da santidade do povo de Deus, porque Deus é santo: “Santificai-vos e sede santos, porque eu sou santo” (Lv 11,44).

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

A santidade é dom de Deus para o ser humano, para que este viva a graça oferecida. É sempre Deus o iniciador da oferta divina, na qual a vida humana envolve-se pelo sim ou pelo não. Deus quer uma resposta livre das pessoas para que o seu nome seja glorificado e amado sobre todas as coisas, entendimento, coração. A santidade é um dos atributos de Deus Uno e Trino na qual o ser humano busca uma forma de vida que se assemelhe ao modo de ser do Senhor. A santidade vem do latim sanctitas-atis, o ser santo, qualidade, condição de quem é santo[1], no caso o Senhor Deus. A santidade realiza-se por uma vida de doação, de luta pela justiça, pela fraternidade e pelo amor. Será muito importante analisar a doutrina da santidade na Palavra de Deus e nos santos Padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos a respeito da graça de ser santo.

A Sagrada Escritura e a santidade

A Palavra de Deus proveniente da Sagrada Escritura afirma a necessidade da santidade do povo de Deus, porque Deus é santo: “Santificai-vos e sede santos, porque eu sou santo” (Lv 11,44). São Pedro realça aos seguidores do Senhor à uma vida de santidade: “Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder. Pois está escrito: ´Sereis santos, porque eu sou santo´” (1 Pd 1,15-16). São Paulo exortou a Comunidade de Efésios para serem santos e íntegros diante do Senhor Deus pelo amor (Ef 1,4). A santidade provem da graça para a pessoa e esta assume com alegria e com amor o dom recebido, a santidade.

A santidade na vontade de Deus

Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V disse que a santidade está na vontade divina de modo que o ser humano responda com amor à proposta do Senhor. Deus quer e faz com as pessoas desejam o dom da santidade. Como a sua vontade é eterna, faz com que as coisas se dispõem no tempo, a graça da santidade. Deus dá a graça de ser santos e santas para as pessoas que desejarem no seu desígnio de amor para com todas as pessoas e povos[2]

O Senhor doa a graça da santidade

Santo Agostinho também dizia que todas as pessoas pecaram com os primeiros seres humanos. Todos nasceram com o pecado original. Mas pela graça do batismo é possível a superação ou a quebra deste pecado para assim viver a graça da filiação junto à filiação de Jesus Cristo com o Pai e o Espírito Santo. A corrente do mal é quebrada pelo batismo, e ainda que a pessoa caia novamente no pecado, a graça do Senhor é a palavra final para a pessoa que segue a Jesus Cristo e a Igreja [3].

Origem da santificação e restauração do paraíso

São Basílio de Cesaréia afirmou que o Espírito Santo é a origem da santificação, concede por si mesma certa iluminação a toda faculdade racional, para que descubra a verdade[4]. Mas também por meio do Espírito Santo continua a reflexão de São Basílio, realiza-se a restauração do paraíso, a subida da pessoa ao reino dos céus, o retorno à adoção filial. É Ele quem dá a ousadia de chamar a Deus de Pai, de participar da graça de Cristo, ter o nome de filhos e filhas da luz, partilhar da glória eterna, receber os bens futuros, a vida eterna[5]

A honra aos santos e santas

São Bernardo de Claraval, abade, afirmou que os santos e santas não necessitam de nossas homenagens, elogios. Se as pessoas veneram os santos, o interesse é do ser humano, não deles. O desejo de sua lembrança é a alegria pela sua amável companhia e de serem concidadãos e comensais dos espíritos bem-aventurados, de se unir ao grupo dos patriarcas, às fileiras dos profetas, aos apóstolos, ao número dos mártires, dos confessores, ao coro das virgens, e fazer associação à comunhão dos santos, porque eles e elas querem a todas as pessoas no Reino da vida[6].

A vivência da santidade no mundo de hoje

Pelo batismo a pessoa seguidora de Jesus Cristo e da Igreja é chamada à uma vida de santidade (LG 39-42). Sendo dom de Deus é também responsabilidade humana, no sentido de que é preciso vivê-la no mundo de hoje, com os seus desafios, esperanças e obras de amor. Muitas pessoas morreram mártires, outras tiveram uma vida simples, vivida bem na família, na comunidade, na sociedade, no campo e na cidade. A santidade exige a abertura da pessoa à graça do Espírito Santo que age no coração humano, para que viva o amor do Pai em comunhão com o Senhor Jesus. A pessoa vai se santificando por práticas de amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. Todas as pessoas serão julgadas pelo amor. O amor faz a pessoa viver a santidade no mundo de hoje.

[1] Cfr. Santità. Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 1471.

[2] Cfr. Agostino. La Città di Dio, 22,2. In: La Teologia dei Padri, 2. Roma, Città Nuova Editrice, 1982, pgs. 14-15. .

[3] Cfr. Agostino. Commento al Vangelo di San Giovanni, 38,4-6. In: Idem, pgs. 97-98.

[4] Cfr. Basílio de Cesaréia.  Tratado sobre o Espírito Santo, 9, 22. Paulus, São Paulo, 1998, pg. 115.

[5] Cfr. Idem, 15,36. pgs. 130-131.

[6] Cfr. Dos Sermões de São Bernardo, abade. Sermo 2: Opera omnia. Edit, Cistere, 5 (1968), 364-368. Ofício das Leitura, 1º de novembro. In: Liturgia das Horas, IV. In: Aparecida-SP, Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave-Maria, 1999, pg. 1421.

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03 novembro 2023, 15:22