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Representantes das 22 dioceses de Madagascar que participaram na fase nacional do Sínodo sobre a Sinodalidade na capital, Antananarivo, em julho de 2022 Representantes das 22 dioceses de Madagascar que participaram na fase nacional do Sínodo sobre a Sinodalidade na capital, Antananarivo, em julho de 2022  #SistersProject

A experiência sinodal de uma religiosa em Madagascar: escuta e discernimento

Antes de iniciar a XVI Assembleia Geral Ordinária, a Ir. Marie Solange Randrianirina testemunhou como o processo sinodal na África "fortaleceu o compromisso de todos os batizados na vida da Igreja" e expressou um sonho: "que a sinodalidade se torne tangível na Igreja em todos os níveis".

Ir. Marie Solange Randrianirina

A minha experiência deste Sínodo sobre o tema «Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão» começou quando a Conferência episcopal de Madagáscar me nomeou membro do grupo nacional encarregado de animar e preparar as Igrejas de toda a Ilha para viver este momento. Éramos sete nesse grupo: três sacerdotes diocesanos, um presbítero religioso, um leigo, uma leiga e eu, religiosa, naturalmente além do bispo designado para participar no Sínodo. Foi nesse grupo que começou a experiência do “caminhar juntos”, um estilo de vida caraterizado pela comunhão, missão e participação, que o Papa Francisco nos convida a viver como filhos e filhas de Deus.

Fotografia de grupo dos participantes na Assembleia Sinodal continental africana, em março de 2023, Adis Abeba, Etiópia
Fotografia de grupo dos participantes na Assembleia Sinodal continental africana, em março de 2023, Adis Abeba, Etiópia

Neste grupo somos diferentes sob muitos pontos de vista, em termos de estado de vida, conhecimentos, talentos, sociedades de proveniência, idade, caráter de cada um... Mas o amor à Igreja que temos em comum e as diferenças aceites, que se tornaram diversidades, constituem o meu primeiro passo rumo à sinodalidade, pois é disto que depende a disponibilidade a escutar: escutar o Espírito Santo, protagonista do Sínodo, escutar os outros e também a “casa comum”, e disto depende inclusive a capacidade de discernir. Depois, a escuta e o acolhimento do próximo tornaram-se cada vez mais importantes, na medida em que eu interagia com todos aqueles que participavam no Sínodo a nível diocesano, depois a nível nacional e também a nível continental — durante o encontro realizado em Adis Abeba (Etiópia), no início de março — e especialmente agora, quando a Igreja do mundo inteiro vive a experiência de “caminhar juntos”. Assim, pouco a pouco, ampliei o espaço da minha tenda para tecer a comunhão com todos aqueles que agora se tornaram membros da minha família, meus vizinhos, meus amigos.

Celebração eucarística durante a Assembleia Sinodal continental
Celebração eucarística durante a Assembleia Sinodal continental

Da oração pelo Sínodo, gosto muito da parte que reza assim: «Somos fracos e pecadores; não nos deixeis promover a desordem. Não permitais que a ignorância nos leve pelo caminho errado, nem que a parcialidade influencie as nossas ações». Antes de mais nada, espero que esta prece se torne realidade na nossa Igreja. Se a Igreja, através dos seus filhos e filhas, viver as suas intenções, será agradável permanecer nela e, portanto, ser como uma mancha de óleo na medida em que caminhamos com a sociedade.

Este Sínodo aproximou ainda mais as pessoas de diferentes extratos sociais. Favoreceu o espírito de comunhão e o sentido de escuta recíproca e de partilha. Todos, especialmente os leigos, se sentiram entusiasmados com a possibilidade de se poder pronunciar sobre pontos essenciais que podem promover a sua relação com a Igreja. Este Sínodo reforçou o empenho de todos os batizados na vida da Igreja. Por isso, espero com impaciência que a sinodalidade se torne tangível na Igreja a todos os níveis.

Uma delegada da Assembleia Sinodal continental toma a palavra durante uma das reuniões
Uma delegada da Assembleia Sinodal continental toma a palavra durante uma das reuniões

Este Sínodo sobre a “sinodalidade”, sobretudo pelo modo como se desenvolveu, é uma grande oportunidade para realçar que todos, sem exceção, são úteis na Igreja. Assim, todos e cada um, segundo o dom recebido (cf. 1 Cor 12, 4-7), as suas competências e a sua vocação, participam na missão da Igreja. O Sínodo abre-nos à graça de compreender que não podemos caminhar sozinhos rumo a Deus e que a Igreja precisa dos seus filhos para cumprir a própria missão evangelizadora no mundo de hoje. Por isso, não deve haver interferências nas responsabilidades nem lutas por posições entre nós, mas complementaridade e respeito mútuo. As religiosas da África são como as (poucas) mulheres que seguiram Jesus, comprometidas, como mulheres e segundo os seus carismas, no anúncio do Evangelho. Este Sínodo desafia-nos, em primeiro lugar, a rever o nosso modo de “caminhar juntas” na nossa congregação e, depois, o nosso modo de “caminhar juntas” com a Igreja e a sociedade africana em que vivemos. Ofereceu-nos também a possibilidade de nos fazermos ouvir, de formar a família de Deus.

A irmã Solange (à esquerda) com outros participantes na Assembleia Sinodal continental, com o cardeal Berhaneyesus Demerew, C.M., arcebispo metropolitano de Adis Abeba
A irmã Solange (à esquerda) com outros participantes na Assembleia Sinodal continental, com o cardeal Berhaneyesus Demerew, C.M., arcebispo metropolitano de Adis Abeba

O percurso sinodal nem sempre é um rio longo e tranquilo, sem problemas, mas estou convencida de que, com a vontade de caminhar juntos e de suportar as dificuldades, alcançaremos um resultado tangível, pois «sozinhos vamos mais depressa, mas juntos vamos mais longe» (provérbio africano). Assim, a docilidade ao Espírito Santo impele-nos a abrir-nos aos outros, dá-nos a certeza da escuta recíproca e ajuda-nos a aprender uns com os outros, porque a diversidade é uma riqueza e uma garantia que nos permitem viver efetivamente a nossa identidade: «Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão».

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07 novembro 2023, 08:00