Ciclos da Vida

Padre Ricardo Fontana – Reitor do Santuário de Caravaggio

A vida é feita de ciclos. Concluir e iniciar uma nova etapa é sinal de sabedoria. A Liturgia cristã é, por excelência, feita de ciclos e ritos. O Ano da Liturgia Católica encerra-se, e neste sábado, iniciando, a partir das Vésperas do Domingo, o novo Ano Litúrgico. O ADVENTO, (do latim Adventus: "chegada", do verbo Advenire: "chegar a") são quatro semanas que antecedem o Natal, um tempo que vivenciado por milhares de cristãos que preparam e esperam felizes a vinda do Menino Jesus. Também é tempo de conversão. E o Papa Francisco nos ensina uma oração do Advento muito simples, mas muito importante para viver esses dias que precedem o Natal: Vem, Senhor Jesus! São apenas três palavras, mas que têm grande poder. Invocamos assim a sua proximidade, treinaremos a nossa vigilância. Uma oração breve, mas vinda do coração. Repita neste tempo de Advento: ‘Vem, Senhor Jesus, o mundo precisa de ti!” O Advento é o caminho para compreender a celebração das festas da manifestação do Senhor, quando o verbo se torna carne: os fatos que imediatamente precederam o nascimento de Jesus Cristo, seu nascimento em Belém, a demonstração aos Magos, o batismo no Jordão… Compreendidos em sua inteligência espiritual, os textos litúrgicos do Advento não expressam apenas a expectativa de um nascimento já ocorrido na história de uma vez por todas, mas sim a expectativa da vinda definitiva de Cristo em sua glória. Papa Francisco fala que “as palavras de Jesus são particularmente incisivas: ‘tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, embriaguez e das preocupações da vida. E que este dia não caia de repente sobre vós. Ficai atento e orai a todo momento”. O Papa enfatizou que “ficar atentos e orar” é o modo de viver bem o tempo de Advento até o Natal. “O sono interior surge quando nós giramos ao redor de nós mesmos e ficamos presos no fechamento da vida, com seus problemas, suas alegrias e suas dores, mas sempre rodando ao redor de nós mesmos. E isso cansa, chateia, fecha a esperança. Aqui está a raiz do torpor e da preguiça, de que fala o Evangelho”, apontou. O Santo Padre continua destacando que o Advento convida os fiéis a um compromisso de vigilância, olhando para fora de si mesmos e ampliando a mente e o coração para as necessidades dos irmãos. “Este tempo é apropriado para abrirmos nossos corações, para nos questionar concretamente sobre quem e para quem dedicamos nossas vidas”, refletiu.

A segunda atitude para viver bem o tempo da espera pelo Senhor é a oração. “Trata-se de levantar-se e rezar, voltar os nossos pensamentos e sentimentos para Jesus, que está para vir. Nós aguardamos Jesus e queremos esperá-lo em oração, que está intimamente ligada com a vigilância”. Francisco destacou que as quatro semanas os fiéis são chamados a aguardar o retorno glorioso de Cristo e o próprio encontro pessoal, no dia que o Senhor chamar a cada um. “Somos chamados a sair de um modo de vida resignado, habitual, alimentando esperanças e sonhos para um futuro novo”. O Papa continua dizendo: “Nós cristãos corremos o risco de perder a nossa identidade... Por isso, precisamos da Palavra de Deus, que o profeta anuncia. ‘Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei cumprir a promessa de bens futuros (…) farei brotar de Davi a semente da justiça, que fará valer a lei e a justiça na terra’ (Jr 33,14-16). E a semente justa é Jesus que chega e nós o aguardamos”.

Expectativa se faz na serenidade de uma espera vigilante e orante. Em meio a tantos ruídos sonoros e visuais possamos sentir a força do silêncio de uma criança que nasce na solidão da noite dos campos dos pastores. Que nossa casa seja Belém e um novo ciclo se refaça em nós!