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Cruz e mãos Cruz e mãos  (©paul - stock.adobe.com)

Fé: dom divino e resposta humana

Aquele que crê, crê por confiança na autoridade de Deus que revela e não pode nem enganar-se, nem enganar-nos.

Luís Eugênio Sanábio e Souza, escritor - Juiz de Fora -MG

A Igreja ensina que a fé é um dom sobrenatural que Deus concede gratuitamente ao homem. Considerando que a livre iniciativa de Deus pede a livre resposta do homem, podemos entender que a fé é também um ato autenticamente humano. Na fé, a inteligência e a vontade humanas cooperam com a graça divina. Para explicar isso, Sto. Tomás esclarece:  "Credere est actus intellectus assentientis veritati divinae ex imperio voluntatis a Deo motae per gratiam", “Crer é um ato da inteligência que assente à verdade divina a mando da vontade movida por Deus através da graça” (Santo Tomás de Aquino, S.Th. II-II,2,9).  Embora sublinhando o caráter sobrenatural da fé, a Igreja Católica também destaca o valor da racionabilidade da fé.   No século IV, Santo Agostinho explicou que a fé, se não for pensada, nada é, ou seja, crer nada mais é senão pensar consentindo; todo o que crê pensa; crendo, pensa e pensando, crê. Se se tira o assentimento, tira-se a fé, pois, sem o assentimento, realmente não se crê (Santo Agostinho : De fide, spe et caritate, 7: CCL 64, 61.). A fé transcende a razão, mas ela também tem uma dimensão racional. A teologia é a reflexão racional sobre a revelação divina, que a Igreja aceita pela fé como verdade salvífica universal. No século XII, Santo Anselmo recordou que “Fides quaerens intellectum” = “a fé procura compreender”. Assim, um conhecimento mais penetrante despertará por sua vez uma fé maior, cada vez mais ardente de amor. Mas o motivo de crer não é o fato de as verdades reveladas por Deus aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à luz de nossa limitada razão natural. Aquele que crê, crê por confiança na autoridade de Deus que revela e não pode nem enganar-se, nem enganar-nos. Segundo a famosa expressão de Santo Agostinho, “intellige ut credas: crede, ut intelligas” = “eu creio para compreender, e compreendo para melhor crer”. Sem dúvida, as verdades da fé podem parecer obscuras à razão e à experiência humanas, mas “maior est certitudo quae est per divinum lumen, quam quae est per lumen rationis naturalis”  =  “a certeza dada pela luz divina é maior que a que é dada pela luz da razão natural” (Santo Tomás de Aquino).  Então, dez mil dificuldades não fazem uma única dúvida (dizia o memorável Cardeal Newman no século XIX). 

A fé é distinta da razão.  No século XIX, o Concílio Vaticano I recordou que existem duas ordens de conhecimento, distintas não apenas pelo seu princípio, mas também pelo seu objeto. Pelo seu princípio, porque, se num conhecemos pela razão natural, no outro, fazemo-lo por meio da fé divina; pelo objeto, porque, além das verdades que a razão natural pode compreender, é-nos proposto ver os mistérios escondidos em Deus, que só podem ser conhecidos se nos forem revelados do Alto (Concílio Vaticano I: DF, IV). Esse mesmo Concílio explicou que ainda que a fé esteja acima da razão, não poderá jamais haver verdadeira desarmonia entre uma e outra, porquanto o mesmo Deus que revela os mistérios e infunde a fé, dotou o espírito humano da luz da razão (Concílio vaticano I : DF, IV parágrafo 3°).

A Igreja Católica ensina que a fé é um ato pessoal e ao mesmo tempo eclesial. A fé da Igreja precede, gera, sustenta e alimenta a fé dos fiéis. Por isso, a Igreja é “Mater et Magistra”, isto é, “Mãe e Mestra” de todos os crentes. Assim, no século III, São Cipriano pôde dizer que ninguém pode ter a Deus por Pai, que não tenha a Igreja por mãe. O ato de fé é por sua natureza voluntário. Por isso, a Igreja afirma que jamais é lícito a alguém levar os homens a abraçar a fé católica por coação, contra a própria consciência (Código de Direito Canônico, cân.748 § 2).

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24 janeiro 2024, 15:56