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Fraternidade e amizade social: “somos todos irmãos”

O Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti, anuncia uma proposta de responsabilidade coletiva que pudesse levar a “fraternidade e amizade social”, perante os males que ameaçam a paz no mundo.

Padre Ricardo Fontana - Reitor do Santuário Nossa Senhora de Caravaggio

O tempo da Quaresma, é o tempo de conversão exigida por Jesus: Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc1,15). Três práticas de indicação bíblica são enaltecidas no ciclo litúrgico quaresmal: jejum, oração e esmola. “A penitência do Tempo Quaresmal não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social...” (SC, n.110). No Brasil, há 60 anos, essas práticas vêm se fortalecendo, para que tenhamos uma conversão pessoal e comunitária pela Campanha da Fraternidade. O Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti, anuncia uma proposta de responsabilidade coletiva que pudesse levar a “fraternidade e amizade social”, perante os males que ameaçam a paz no mundo. “Fratelli tutti” (Somos todos irmãos), escrevia São Francisco de Assis, dirigindo-se a seus irmãos e irmãs para lhes propor uma forma de vida com o sabor do Evangelho.  Dos conselhos que ele oferecia, vale destacar o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele, declara feliz quem ama o outro, ‘o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está junto de si’. Com poucas palavras, explica o essencial de uma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra em que cada uma nasceu ou habita. (FT, n.1).  

Cartas da Campanha da Fraternidade 2024
Cartas da Campanha da Fraternidade 2024

O livro de Rute traz a simplicidade e a beleza da amizade que é a escolha quando Rute decide ficar em companhia de Noemi, sua atitude é também uma aliança com de irmã, mesmo sendo nora de povo estrangeiro: “teu povo é meu povo, teu Deus é meu Deus. Onde morreres lá morrerei e lá serei sepultada.” (RT 1,16-17).  Porém, os efeitos da compaixão de Rute são claros: ela devolve a vida a Noemi e lhe permite reencontrar a benção de Deus, que se manifesta na descendência. A amizade social, portanto, é reconstrução de relações que superam a dominação e a exploração. “Todos vós sois irmãos” (cf. M 23,8) é o que Jesus indica como resposta à conduta dos fariseus; é a escolha da fraternidade.  A lei do Senhor não é desconhecida nem para os Discípulos, nem para a multidão que a escuta, nem para os fariseus e escribas que a anunciam. É Jesus o próprio horizonte a partir do qual o discípulo deve se aproximar da Lei.  Portanto, encontramos no próprio Jesus, o sentido de sua fala: “todos vós sois irmãos”. Interpelado a respeito de sua família, Jesus dissera: “eis minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,49-50). Em Jesus, os laços gerados a partir da fé são mais fortes que os laços de sangue.  “Já não vos chamo servos (...). Eu vos chamo amigos” (Jo 15,15). A amizade cristã, está no discurso de Jesus no capítulo 15 de João. Primeiro, Jesus utiliza uma imagem ensinando os discipulos o seu lugar no Reino de Deus: o discípulo é ramo da videira verdadeira que é Jesus. Não lhe cabe o lugar do caule ou da seiva que nutre e prove a vida, mas sua vocação é a união à videira verdadeira que é Jesus: só nele há vida.  Essa união é possível se o discípulo guarda o mandamento do Mestre, que é um único: “que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12), o convite para qual tal amor se expresse no serviço. O desejo de Jesus é o amor-serviço, a amizade pela qual Ele mesmo esteve unido ao que o Pai lhe dera. Segundo Bento XVI a amizade é um grande bem humano... os amigos devem sustentar-se e encorajar-se no desenvolvimento dos seus dons e na sua colocação ao serviço da comunidade.

A amizade social parece ser o caminho que o Espírito tem indicado a Igreja, indicando o retorno ao modelo das primeiras comunidades que viviam em profunda comunhão e espiritualidade.  São Leonardo Murialdo, santo que se dedicou às causas sociais e grande precursor da Encíclica Social Rerum Novarum (15.05.1891), do Papa Leão XIII, dizia em plena era da Revolução Industrial junto aos meninos órfãos e de rua: “a amizade é o eco do Divino sobre a terra, e o testemunho mais certo da presença de Deus e de sua graça na vida do ser humano”.  A opção pela cultura do encontro verdadeiro e pessoal com Jesus e com os irmãos, na compaixão e no anúncio da esperança, são sinais que antecipam a salvação.

Fonte: SANTUÁRIO DE N. SRA. DE CARAVAGGIO

 

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26 fevereiro 2024, 12:35