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Domingo de Ramos 2023 na Igreja sírio-ortodoxa da Virgem Maria, na cidade de maioria curda de Qamishli. Domingo de Ramos 2023 na Igreja sírio-ortodoxa da Virgem Maria, na cidade de maioria curda de Qamishli.  (AFP or licensors)

Inaugurado na Síria escritório para "defesa" dos bens de cristãos

O novo escritório é encarregado de catalogar e “defender” de expropriações ilegítimas, os bens e imóveis pertencentes a proprietários cristãos, que deixaram a região durante os anos do conflito sírio.

Em Raqqa, cidade que de janeiro de 2014 a outubro de 2017 era a fortaleza e capital síria do autoproclamado Estado Islâmico (Daesh, acrônimo em árabe), acaba de ser inaugurada uma filial do “Alto Comissariado para as Propriedades”. O novo escritório é encarregado de catalogar e “defender” de expropriações ilegítimas, os bens e imóveis pertencentes a proprietários cristãos, que deixaram a região durante os anos do conflito sírio.

O secretário do “Alto Comissariado para as Propriedades”, Fadj Jajo, entrevistado pelo jornal on-line Syriac Press, ressaltou “a importância da iniciativa, definindo-a um exemplo das políticas de defesa dos direitos das minorias, implementadas pelas forças que, atualmente, exercem o poder naquela área.

A importância da iniciativa é precisamente pelo fato de ser implementada em uma região da Síria que, há algum tempo, não é controlada pelo governo de Damasco.

A própria cidade de Raqqa foi arrasada por um bombardeio, no âmbito da intervenção militar da coalisão anti-Daesh, que visava aniquilar a resistência das milícias Jihadistas. A cidade foi libertada pelas Forças Democráticas Sírias (SDF), uma coalisão de milícias de maioria curda, apoiadas e armadas pelos Estados Unidos. Desde então, o nordeste da Síria ficou sob o controle da "Administração Democrática Autônoma da Região do Norte e Leste da Síria” (DAARNES), uma entidade autônoma, não reconhecida oficialmente pelo governo sírio, dominada pelas forças curdas e apoiada militarmente pelos EUA.

Segundo o secretário Fadj Jajo, “a filial do Comissariado, criada de propósito, terá a tarefa de registar, de modo meticuloso, os bens imobiliários (casas e terrenos), pertencentes a proprietários armênios, sírios e cristãos assírios. Seu objetivo principal é assegurar que também seus bens, expropriados ilegalmente, durante seu êxodo forçado, lhes sejam devolvidos.

O responsável administrativo do Alto Comissariado, Armin Mardoian, confirmou seu compromisso de “salvaguardar as propriedades e os lugares sagrados dos povos armênios e siríacos (sírios, assírios, caldeus)”; ele ressaltou também os esforços de colaboração com a Administração Autônoma do Nordeste da Síria, para garantir a devolução das propriedades aos seus legítimos proprietários.

A intenção declarada da política, inspirada pela entidade da própria política, que, de fato, controla a região, é facilitar a volta dos cristãos, das comunidades autóctones, expatriados durante os longos anos do conflito, que dilacerou a Síria. A Administração Autônoma do Nordeste da Síria, não reconhecida em nível internacional, pretende ganhar credibilidade como garante de uma política, atenta às necessidades das comunidades religiosas minoritárias.

Exatamente na cidade de Raqqa, o método implementado pelas forças que controlam a região, em relação às comunidades cristãs autóctones, emergiu também no caso da reconstrução da igreja dos Mártires, reduzida a escombros durante a guerra.

Este lugar de culto, que pertence à Igreja Católica Armênia, esteve, por muito tempo, sob o domínio dos milicianos do Estado Islâmico, que o transformaram em tribunal: dali ditavam leis e impunham a "justiça" jihadista". Depois, este lugar sagrado foi devastado pelos bombardeamentos, liderados pelo Ocidente, que arrasaram boa parte do centro urbano, quando a capital síria do Califado Negro seria tomada.

Nos últimos anos, segundo as notícias da agência Fides, a Igreja dos Mártires foi totalmente reconstruída por um movimento paramilitar singular: os “Free Burma Rangers”, que se formaram durante os conflitos entre as milícias étnicas e o exército birmanês. A iniciativa nasceu por obra do pastor evangélico norte-americano, Dave Eubank, que se formou no Seminário Teológico Fuller (considerado um dos mais famosos institutos de formação evangélica) e que, ao mesmo tempo, era ex-oficial das forças especiais do Exército dos EUA.

A Igreja dos Mártires foi reconstruída sem nenhum consenso ou apreço da Igreja Católica Armênia. No interior da igreja não há altar, mas apenas um ambão para a pregação, segundo o modelo predominante dos lugares de culto das comunidades evangélicas.

Após a inauguração da nova igreja, as poucas dezenas de cristãos presentes em Raqqa foram convidados a frequentar o local reconstruído, mas não foi celebrada nenhuma Missa.

O arcebispo Armênio-Católico, dom Boutros Marayati, havia declarado à Agência Fides, em fevereiro de 2022, que “falaram que ela é a nossa igreja, reconstruída para os cristãos de Raqqa, mas nós não sabemos de nada. Esta iniciativa pretende lançar uma mensagem: reconstruir igrejas e defender os cristãos. Mas, nós não temos nada a ver com tais operações".

*Agência Fides 

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18 fevereiro 2024, 08:11