Cardeal Marc Ouellet faz conferência na PUC-Rio
Luiz Casemiro e Vinícius Arouca – Rio de Janeiro
“Para uma teologia fundamental do sacerdócio” foi o tema do simpósio realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), na Gávea, na manhã do dia 15 de março, apresentado pelo prefeito emérito do Dicastério para os Bispos e presidente emérito da Pontifícia Comissão para a América Latina, cardeal Marc Ouellet, que também foi arcebispo metropolitano de Québec e primaz do Canadá.
O tema faz parte de uma obra em dois volumes, impresso em Portugal pelas Edições Paulinas, que reúne as atas de um simpósio internacional realizado no Vaticano, em fevereiro de 2022, promovido pelo Centro de Pesquisa e Antropologia das Vocações.
O cardeal Marc Ouellet, que também participou de simpósios nas arquidioceses de São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, foi acolhido no Rio de Janeiro pelo arcebispo metropolitano e grão-chanceler da PUC-Rio, cardeal Orani João Tempesta.
Estavam presentes no simpósio o presidente do Regional Leste 1 da CNBB e bispo de Nova Iguaçu (RJ), dom Gilson Andrade da Silva, e representando a PUC-Rio o reitor, padre Anderson Antônio Pedroso, e o diretor do Departamento de Teologia, padre Waldecir Gonzaga. Também a presença de bispos, sacerdotes, religiosos, seminaristas, professores e fiéis leigos.
Ainda houve uma segunda conferência, que teve como tema sacerdócio e missionariedade, proferida pelo vigário geral da Arquidiocese de Florianópolis (SC) e professor de Teologia da Faculdade Católica de Santa Catarina, padre Vitor Galdino Feller.
Após o simpósio, o cardeal canadense presidiu missa na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, onde também foi realizado o simpósio. No mesmo dia, visitou a Paróquia São Benedito, no Morro dos Cabritos, em Copacabana.
Ministério eficiente e funcional
Na abertura, dom Orani enfatizou que o evento foi idealizado pelo próprio cardeal Ouellet, que já apresentou a temática “Para uma teologia fundamental do sacerdócio” no Vaticano e em outras dioceses, inclusive no Brasil.
“É pertinente observarmos que uma visão pretensamente atualizada do sacerdócio acaba por reduzi-lo ao exercício de um ministério eficiente e funcional, bem ao modo da mentalidade produtivista que domina o nosso mundo e considera como fim único a ‘produção máxima’ que números e estatísticas podem comprovar”, disse.
“Enfrentando esta distorção, cardeal Ouellet tem a audácia de voltar às raízes mais profundas do sacerdócio quando aponta seu fundamento, que é primordialmente doação de si mesmo; uma doação que tem seu modelo e origem na doação mútua das pessoas trinitárias, realiza-se na Igreja e nos chama a participar desta comunhão de amor. Esta é justamente a vocação nupcial que se expressa na relação com Deus desde o Antigo Testamento e se plenifica na entrega que o próprio Deus, o próprio Jesus Cristo faz de si mesmo, totalmente por amor, como São Paulo fala na Carta aos Efésios: ‘Progredi na caridade segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor’ (Ef 5, 2)”, ressaltou Dom Orani.
Sacerdócio, mistério que é dom e tarefa
Dom Gilson exaltou que o cardeal Ouellet “traz consigo uma longa experiência pastoral no contato direto com bispos, padres, especialmente na missão que desenvolveu durante tantos anos no Dicastério para os Bispos. As primeiras décadas que se sucederam ao Concílio Vaticano II, o tema da identidade presbiteral foi amplamente debatido e aprofundado. A literatura sobre o assunto é vastíssima e muito rica, mas creio que a tarefa existencial continua sendo aquela indicada pelo Papa São João Paulo II numa de suas visitas apostólicas à África: ‘a maior tarefa do sacerdote é crer no próprio mistério, um mistério que é dom e tarefa, e que se realiza no cotidiano na vida do padre, no qual ele é chamado a sempre mais identificar-se com a sua identidade’”.
PUC, instrumento privilegiado da Igreja
O padre Anderson Pedroso, reitor da PUC-Rio, na sua mensagem de boas-vindas recordou um trecho da carta magna da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro: “Como universidade católica, a PUC-Rio assume claramente sua missão evangelizadora e de instrumento privilegiado da Igreja na Pastoral da Cultura, procurando ser fiel na doutrina de Cristo transmitida pela Igreja Católica”.
Temática do simpósio
O cardeal Ouellet iniciou sua fala lembrando que no simpósio de 2022 o Papa Francisco discorreu sobre a espiritualidade sacerdotal, ressaltando sobre as quatro proximidades essenciais na vida dos sacerdotes: a proximidade de Deus, a proximidade do bispo, a proximidade dos colegas sacerdotes e a proximidade do povo de Deus. “Os três dias intensos de conferências e debates forneceram elementos muito importantes para a reflexão sobre todas as vocações. Uma verdadeira atualização das orientações do Concílio Vaticano II sobre a teologia do sacerdócio, incluindo o sacerdócio comum dos batizados e o sacerdócio particular dos ministros ordenados”.
Empenhado em divulgar pelo mundo as atas resultantes deste simpósio, cardeal Ouellet destacou que o principal objetivo do Centro de Pesquisa e Antropologia das Vocações, fundado por sua iniciativa, é “apoiar as vocações, todas as vocações, e lançar luz sobre o sentido da vida como vocação. Isto parece-me muito importante no momento atual para apoiar a procura de uma Igreja mais sinodal, pois a maior participação do povo de Deus na comunhão e na missão da Igreja pressupõem uma maior consciência vocacional; um compromisso de cada batizado com sua missão no projeto de Deus. Sem o compromisso pessoal dos batizados como discípulos-missionários, na linha do que foi estabelecido na Conferência Geral (Celam) em Aparecida, em 2007, o desenvolvimento de uma Igreja sinodal não passaria de uma moda passageira. Com a contribuição dinâmica de discípulos-missionários bem motivados, a renovação sinodal sonhada pelo Papa Francisco torna-se um novo modo de ser Igreja, mais participativa, mais fraterna, mais consciente de que a missão da Igreja não é primariamente clerical, mas batismal”.
Nas três etapas em que dividiu sua conferência, cardeal Marc Ouellet procurou enfatizar a primariedade do sacerdócio comum de todos os batizados como aspiração para as demais vocações ministeriais. Na primeira etapa, tratou das questões relativas ao sacerdócio na América Latina, na segunda, sobre as novidades do Concílio Ecumênico Vaticano II quanto ao sacerdócio ainda pouco exploradas, e na terceira parte tratou a teologia do sacerdócio à luz da pneumatologia, ou seja, o sacerdócio como mediação do Espírito Santo.
“Todos os batizados, homens e mulheres, tendo recebido o selo da filiação divina, participam, enquanto filhos e filhas de Deus, no Filho, na sua vida trinitária-filial, que inclui a participação no mistério da sua coexpiração do Espírito Santo com o Pai. Esta participação de cada batizado na relação entre Cristo e o Espírito é, a meu ver, o fundamento e a essência do sacerdócio comum dos fiéis”, disse.
Cardeal Ouellet ressaltou ainda os principais aspectos da missão sacerdotal dos fiéis leigos: “adorar a Deus em espírito e em verdade; consagrar o mundo a Deus; difundir e infundir o espírito do Evangelho nas estruturas, instituições e empresas deste mundo através do seu testemunho de fé, esperança e de caridade. Desta forma, os leigos ajudam a desenvolver um clima de fraternidade em todas as suas relações humanas, como o Papa Francisco nos convida vivamente a fazer na ‘Fratelli Tutti’. Eles participam assim na ação santificadora do Espírito Santo no mundo. É o seu modo sacerdotal de participar ativamente na vinda do Reino de Deus”. Por fim, enfatizou que “o Concílio Vaticano II convida-nos a alargar nossa visão do sacerdócio, reenquadrando o sacerdócio hierárquico ao serviço do sacerdócio filial e fraternal dos batizados”.
A missionariedade do sacerdócio cristão
Na segunda conferência, com o título “A missionariedade do sacerdócio cristão”, padre Vitor Galdino Feller dividiu sua fala em cinco pontos: 1. A missionariedade da divina trindade; 2. A missão de pastor, semeador, pescador; 3. A missionariedade do sacerdócio de Cristo; 4. A missionariedade do sacerdócio comum dos fiéis; e 5. A missionariedade do sacerdócio ministerial ordenado.
“A missionariedade do sacerdócio de Cristo reflete-se na missionariedade do sacerdócio batismal e na missionariedade do sacerdócio ministerial. Um grande convite a sermos não apenas pastores das ovelhas que já são nossas, mas também semeadores do Reino de Deus no vasto campo que é o mundo e também pescadores nesses mundos tão difíceis, tão conflitivos, tão complicados, onde somos chamados hoje a anunciar o Evangelho do Senhor”, disse padre Vitor Galdino Feller.
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