Sexta-feira-Santa 29 de março
Vatican News
Na catedral antiga de Molfetta (Itália) tem um grande crucifixo de terracota. O pároco, enquanto esperava o momento de colocá-lo em um lugar definitivo, o encostou numa parede da sacristia e ao lado escreveu um bilhete com a escrita: colocação provisória.
A escrita que, num primeiro momento, foi entendida como título da obra de arte, aos olhos de uma pessoa de grande sensibilidade, apareceu providencialmente inspirada. Essa pessoa foi até o pároco e pediu a ele para não remover por nenhuma razão o crucifixo daquele lugar, daquela parede nua, daquela posição precária, com aquele bilhete amarelado.
Colocação provisória
Talvez não haja fórmula melhor para definir a cruz. A minha, a sua cruz, não somente aquela de Cristo.
Coragem então, você que sofre pregado na cadeira de rodas. Ânimo, você que prova as mordidas da solidão. Tenha confiança você que bebe o cálice amargo do abandono. Não esbravejar, irmão, você que vê, dia após dia, uma doença avançar, parecendo algo que não tem perdão e com o qual as suas energias são escapando.
Enxuga as lágrimas, irmão você que foi apunhalado pelas costas por pessoas próximas a você a quem você considerava amigos.
Não recolher os remos para dentro da barca você que está cansado de lutar e acumulou desilusões sem fim.
Coragem, a sua cruz mesmo se durasse toda a vida, é sempre colocação provisória.
O calvário, onde ela foi plantada, não é área residencial. E o terreno dessa colina onde se consome o seu sofrimento nunca será vendido como solo para edificação.
Também o Evangelho nos convida a considerar a provisoriedade da cruz. Há nele uma frase imensa que resume a tragédia da criação ao momento da morte de Cristo: do meio dia até às três da tarde houve escuridão em toda a terra.
Talvez seja a frase mais escura de toda a Bíblia e ao mesmo tempo nos parece uma das mais luminosas. Justamente por aquela redução de horário que apertam, como duas estacas intransponíveis, o tempo em que é concedido o escuro de enfurecer-se sobre a terra. Do meio dia às três da tarde. Eis os extremos que delimitam os rios de lágrimas humanas.
Eis as persianas que comprimem em espaços circunscritos todos os suspiros da terra. Eis as barreiras entre as quais se consomem todas as agonias dos filhos dos homens.
Do meio dia às três da tarde. Só então permitida uma parada sobre o Gólgota. Fora desse horário existe proibição absoluta de estacionamento. Depois de três horas haverá remoção forçada de todas as cruzes. Uma permanência mais longa será considerada abusiva, mesmo por Deus.
Coragem, irmão que sofre. Faltam poucos instantes para se completar às três horas da sua tarde. Daqui a pouco a escuridão cederá espaço à luz, a terra reconquistará as suas cores do princípio e o sol da Pascoa romperá, entre as nuvens em fuga.
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