Insegurança faz com que poucos cristãos iraquianos retornem ao país
Jean-Charles Putzolu - Cidade do Vaticano
Há três anos, o Papa Francisco esteve no Iraque, de 5 a 8 de março de 2021: três dias intensos durante os quais o Santo Padre percorreu o território, indo de Bagdá a Erbil passando por Ur, Qaraqosh, Mosul e Najaf... tantas regiões que sofreram muito com a repressão e as ações terroristas dos islamistas do Daesh.
O Sumo Pontífice, por ocasião desta viagem, quis levar conforto e confirmar a comunidade cristã, mas também continuar - dois anos depois de assinar o Documento sobre a Fraternidade Humana com o Imame Al Tayyeb, representante da comunidade sunita -, a reaproximação com a comunidade xiita, outra grande corrente do Islã, maioria no Iraque. Ele quis favorecer o apaziguamento e iniciar o retorno dos cristãos.
Mas, qual a real situação três anos depois da visita? Os primeiros frutos são visíveis e até importantes, segundo dom Michaeel Najeeb. Em entrevista à Rádio Vaticano-Vatican News, o arcebispo caldeu de Mossul e Arka apresenta um panorama otimista, mas permanece lúcido diante dos obstáculos ainda a serem superados.
Neste berço do cristianismo que é a Planície de Nínive, os cristãos estão retornando?
O regresso dos cristãos é sempre tímido. Este é o resultado da perseguição e da consequente alteração demográfica. Mas a visita do Santo Padre trouxe realmente conforto à comunidade cristã. Sua visita encorajou a se reinstalarem na região. No entanto, o tempo mostrou que as coisas não correriam tão bem. Hoje ainda há um certo número de famílias em movimento, quer na Planície de Nínive, quer mesmo no Curdistão. Muitas famílias começaram a partir, impulsionadas por vários acontecimentos: mudanças demográficas organizadas pelas milícias, ou o incêndio - provocado ou acidental - da Câmara Municipal de Qaraqosh.
Ainda hoje, no Iraque, as comunidades cristãs podem ser vítimas de perseguição?
Com certeza, e quero dizer que há muita intimidação, direta ou indireta, por parte das diferentes milícias, especialmente nas cidades e povoados da Planície de Nínive. São locais realmente disputados pelos militares, pelo governo central e também por diversas forças armadas. E somos vítimas destas tensões. A maioria das pessoas ainda tem suas casas demolidas ou queimadas. Dizem que perderam tudo e não estão dispostos a perder tudo novamente. Estas famílias não querem começar do zero num local que ainda não é seguro e que nem o governo consegue controlar.
No Iraque, o Papa encontrou-se com o líder da comunidade muçulmana xiita, o aiatolá Al Sistani. O Papa falou deste encontro como um segundo passo na construção da fraternidade humana depois da reaproximação com a comunidade sunita e com o grande imame Al Tayyeb. Qual os frutos deste encontro com Al Sistani?
Foi um passo extraordinário. Acredito que este foi um ponto alto da viagem do Santo Padre, porque a maior parte da comunidade muçulmana no Iraque é xiita. Os xiitas representam entre 60% e 65% da comunidade muçulmana. Neste contexto, encontrar o aiatolá Al Sistani foi um passo muito corajoso e muito importante e a declaração do aiatolá sobre a fraternidade foi extraordinária. Foi um encontro muito agradável que desfez muitos mal-entendidos entre as comunidades. Não somos mais vistos como inimigos. Para os muçulmanos, os cristãos são irmãos. Eles não são irmãos na religião, mas irmãos na humanidade. Agora dizem “nossos irmãos cristãos” e acho isso muito bonito. A visita do Santo Padre foi muito positiva e muito importante deste ponto de vista.
“Não podemos permanecer calados quando o terrorismo abusa da religião.” Esta frase foi pronunciada pelo Papa por ocasião do encontro inter-religioso em Ur, no dia 6 de março de 2021. Qual é a abordagem dos líderes muçulmanos hoje em dia em relação aos extremistas islâmicos?
À exceção talvez dos primeiros meses após a chegada dos homens do Daesh em 2014, durante os quais a comunidade muçulmana os acolheram admiravelmente, ela rapidamente percebeu que aquele não era o Islã em que eles acreditavam, pois o Daesh começou a combater todas as formas de Islã que não ia na direção dos islamistas radicais. Muitos muçulmanos se opuseram ao Daesh. Esta forma de Islã, defendida pelo Daesh, por um lado desfigurou a amizade entre as comunidades muçulmanas sunitas e xiitas; e por outro lado, o Islã também foi usado para desfigurar a amizade inter-religiosa.
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