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Legado de dom Emanuele Bargellini

Que a obra “Transfigurados no Senhor” seja um fator de aprofundamento da fé a todo o povo de Deus que com ela tiver contato. É um rico manancial!

Ir. Vanderlei de Lima, eremita de Charles de Foucauld na Diocese de Limeira, SP.

Um pouco do legado de Dom Emanuele Bargellini, OSB Cam

Foi motivo de grata alegria participar, como um dos organizadores, da obra póstuma de Dom Emanuele Bargellini, OSB Cam, intitulada “Transfigurados no Senhor: uma autêntica experiência cristã”, da Editora Benedictus. Sua memória, com ventos favoráveis ou contrários, há de ser cultivada e difundida.

Nos capítulos nela reunidos em duas partes, é possível vislumbrar um pouco – só um pouco! – da riqueza espiritual, litúrgica, teológica e monástica desse sábio monge beneditino-camaldolense a quem tive a graça de conhecer na etapa final de sua vida terrena.

Nas conversas com ele, em sua cela adaptada, no térreo da hospedaria do mosteiro da Transfiguração, em Mogi das Cruzes, SP, repassamos, ele e eu, toda a milenar história camaldolense, iniciada com São Romualdo de Ravena (952-1027) – o fundador por atração de discípulos, mas não por criação de uma nova instituição religiosa em si, dado que o santo, embora andasse – com licença de seu abade – por várias terras fundando mosteiros e eremitérios, nunca deixou de ser, de fato e de direito, beneditino de Classe (cf. São Pedro Damião. A Vida de São Romualdo. Ed. Camáldoli, 1988, p. 23).

Dom Emanuele recordava, com vivacidade, nas nossas conversas, Dom Benedetto Calati, seu mestre, que muito contribuiu para tornar a Congregação o que ela é hoje: a grande herdeira do triplex bonum (os três bens) ou da tripla commoda (tríplice vantagem). Antes de explicar esses termos sinônimos, é preciso voltar um pouco no tempo. Com efeito, por muitos séculos, pensou-se e, por conseguinte, se viveu a vida camaldolense com um acento fortemente eremítico, isto é, uma vida solitária sem quase se sair do eremitério e nele pouco se receber hóspedes, ainda que as visitas nunca devessem ser afastadas. Elas estão contempladas por São Bento, em sua Regra, cap. 53, e pela tradição camaldolense, herdeira da Regra do santo patriarca dos monges do Ocidente (cf. Dom Benedetto Calati. Sabedoria monástica. Juiz de Fora: Subiaco, 2014, pp. 17-18). Esse modelo eremítico, assaz valorizado por São Pedro Damião, biógrafo de São Romualdo, ganhou ainda mais força com o beato Paulo Giustiniani (1476-1528), fundador dos Eremitas Camaldolenses de Monte Corona, no século XVI, e perdurou, longamente, por circunstâncias históricas especiais, também em Camáldoli.

Eis, porém, que, no século XX, aparece um livro cujo título soa Vita dei cinque fratelli (A Vida dos cinco irmãos), de São Bruno de Querfurt, a ampliar, por assim dizer, os horizontes camaldolenses. Sim, nele o autor traz um ensinamento atribuído ao próprio São Romualdo a assim apresenta o triplex bonum: “Três são os bens para aqueles que procuram o caminho do Senhor: para os noviços que vêm do mundo, o desejável cenóbio; para os maduros sedentos de Deus, a áurea solidão do eremitério; enfim, para aqueles que anseiam ‘dissolver-se e estar com Cristo’, o anúncio do Evangelho entre os pagãos” (Como água da fonte: a espiritualidade monástica camaldolense entre memória e profecia. São Paulo: Loyola, 2009, p. 11 – Itálicos nossos).

Passados alguns meses dessas proveitosas conversas, Dom Emanuele faleceu. Eis-me, então, convidado para tomar parte na organização dessa obra. Quanta riqueza! Ao lado da Ana Lydia, monja camaldolense, e da Thamara Rissoni, fonaudiologa e professora de Português, já grandes amigas e companheiras de jornada, voltei a dialogar com o sábio monge camaldolense que fora prior geral de sua Congregação por dezoito anos. Desta vez, não mais de viva voz, mas pelos seus ricos textos. Desejaria eu falar de cada um deles, mas deixo a cada interessado(a) a grata honra de saboreá-los com vagar para, a partir deles, se sentirem transfigurados(as) no Senhor por Sua própria graça.

Concluo agradecendo a Deus por ter conhecido e aprendido muito (em tão pouco tempo) com o sempre querido Dom Emanuele. Sou também imensamente grato à amiga Ana Lydia, pela confiança, e aos amigos Gilcemar Hohemberger, da Editora Benedictus, e Dom Basílio da Silva, OSB, do mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, pela paciência ímpar para comigo nos trâmites desse livro. Deus os retribua em sua infinita bondade!

Que a obra “Transfigurados no Senhor” seja um fator de aprofundamento da fé a todo o povo de Deus que com ela tiver contato. É um rico manancial!

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16 abril 2024, 13:03