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JMJ Lisboa 2023 / foto: João Lopes Cardoso JMJ Lisboa 2023 / foto: João Lopes Cardoso  (JOAOLC \ GMG Lisboa 2023 / João Lopes Cardoso)

Páscoa: no princípio estavam lá as mulheres

Neste tempo pascal, pelas mulheres, damos voz ao convite de oração do Papa Francisco, recuperamos um texto do padre redentorista Rui Santiago e não esquecemos os desafios sobre as mulheres contidos no Relatório de Síntese do Sínodo.

Rui Saraiva – Portugal

Neste mês de abril a intenção de oração do Papa é pelas mulheres. Francisco pede que rezemos pelo respeito e a dignidade das mulheres na sociedade.

Rezar pelas mulheres, garantir direitos

No vídeo agora divulgado, Francisco declara que “em todas as culturas” deve cessar “a discriminação” sobre as mulheres. Pede aos governos que trabalhem “para que os direitos humanos das mulheres sejam garantidos”. “Em muitas partes do mundo a mulher é tratada como material de descarte”, diz o Papa.

“Há países onde as mulheres estão proibidas de conseguir ajuda para organizar um negócio ou ir à escola. Inclusive, nesses lugares, toleram-se leis que as obrigam a vestirem-se de determinada maneira. E ainda estão em uso, em muitos países, as mutilações genitais”, afirma o Santo Padre.

“Não neguemos às mulheres a voz. Não neguemos a todas essas mulheres vítimas de abuso, a voz. São exploradas, são marginalizadas”, acrescenta Francisco.

“Nas palavras, todos estamos de acordo que o homem e a mulher têm a mesma dignidade enquanto pessoas. Mas na prática, isso não acontece. É necessário que os governos se comprometam a eliminar leis discriminatórias nos diversos ambientes e a trabalhar para que os direitos humanos das mulheres sejam garantidos”, afirma o Santo Padre.

“Respeitemos as mulheres. Respeitemo-las na sua dignidade, nos seus direitos fundamentais. E se não o fizermos a nossa sociedade não avançará. Rezemos para que a dignidade e a riqueza das mulheres sejam reconhecidas em todas as culturas, e para que cesse a discriminação que sofrem em diversas partes do mundo”, diz o Papa no final da sua mensagem.

No princípio era…o feminino

As mulheres são discriminadas, diz o Papa, mas, afinal, a própria ressurreição de Cristo foi anunciada por mulheres. “Tudo começa com uma conversa de mulheres”, escreve o padre Rui Santiago num texto com o título “No princípio era…o feminino”.

“Não há hipótese de fugir disto quando estamos diante dos relatos pascais”, diz o missionário redentorista português num texto já com alguns anos que aqui recuperamos. Uma leitura pascal especial que publicamos na íntegra.

“Tudo começa com uma conversa de mulheres, não há hipótese de fugir disto quando estamos diante dos relatos pascais. Tudo começa com um murmúrio feminino entre aquelas que iam ao sepulcro com perfumes e unguentos fazer o que não tinha sido possível fazer dois dias antes, por causa de ser véspera de Sábado e, ainda por cima, nesse sábado calhava a Páscoa dos Judeus nesse ano.

No princípio, era… o feminino, no princípio estavam lá as mulheres. Só elas. Dos homens diz-se que estavam numa casa, de portas fechadas, blindados, escondidos, com medo de serem reconhecidos pelos judeus ou apanhados pelas autoridades.

Numa cultura patriarcal, estes relatos da experiência pascal que se conjugam no feminino desde a primeira hora são uma surpresa incrível. E são, acima de tudo, uma marca de historicidade que não se pode ignorar. Se o objetivo destes relatos pascais fossem convencer as pessoas da ressurreição de Cristo e dar autoridade ao movimento de discípulos dele, então esta seria a pior opção de marketing possível! Num tempo e lugar em que o testemunho das mulheres nem sequer contava em tribunal público, fazer depender do testemunho delas o acontecimento fundamental e fundante deste movimento é uma improbabilidade quase tão grande como a própria ressurreição de um morto.

A verdade é que teve de ser assim mesmo, porque ninguém teria a ingenuidade de inventar uma história tão pouco eficaz e que, na altura, trazia ao grupo mais ambiguidade e descrédito do que autoridade e credibilidade.

De qualquer maneira, reconhecemos que estas coisas têm a pinta do Deus de Jesus… O Senhor das Surpresas e dos Últimos, que conta com quem não conta, que transmite a Sua Palavra através de quem não tem voz.

Se nos pomos a olhar o quadro do evangelho de Lucas, por exemplo, ficamos espantados com o enquadramento que ele faz. Tudo começa com mulheres d’esperanças (a jovem Maria, a demitida Isabel, e a velha Ana) com os homens a assistir a estas coisas só de esguelha (José nunca é tido nem achado pelo anjo, Zacarias perde o pio e o velho Simeão, companheiro de Ana no Templo das esperas, o que tem a dizer é que “agora já posso morrer em paz”, enquanto a Ana vai por Jerusalém afora para contar a Boa Notícia do menino a toda a gente).

Tudo começa com mulheres d’esperanças e, no fim, culmina com mulheres em cuidados, dirigindo-se ao sepulcro para amansar a dor de morrer com bálsamos e perfumes, enquanto os homens ficaram escondidos e tolhidos. Vão ter que ser elas, depois, a inquietá-los, a meter-lhes no corpo visões e palavras de coisas novas.”

As mulheres na vida e na missão da Igreja

Entretanto, recordemos que no Relatório de Síntese da primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos bispos que teve lugar em Roma em outubro de 2023, “as mulheres na vida e na missão da Igreja” são um dos 20 temas em destaque.

“Em Cristo mulheres e homens são revestidos da mesma dignidade batismal e recebem em igual medida a variedade dos dons do Espírito”, refere o documento.

“Homens e mulheres são chamados a uma comunhão caraterizada por uma corresponsabilidade não competitiva, que deve ser encarnada em todos os níveis da vida da Igreja”, pode-se ler nas convergências sobre este assunto.

Segundo o Relatório de Síntese, não obstante “as mulheres” constituírem “a maioria das pessoas que frequentam as igrejas e são, muitas vezes, as primeiras missionárias da fé na família”, o “clericalismo” o “machismo e um uso inapropriado da autoridade continuam a deturpar o rosto da Igreja e causam dano à comunhão”.

No âmbito das questões a aprofundar, que necessitam de mais reflexão, o Relatório de Síntese assume que a Assembleia formulou “com clareza o pedido de um maior reconhecimento e valorização do contributo das mulheres e de um crescimento das responsabilidades pastorais que lhes são confiadas em todas as áreas da vida e da missão da Igreja”.

Em especial, sobre o acesso das mulheres ao diaconado, o texto revela que foram “expressas diferentes posições acerca do acesso das mulheres ao ministério diaconal”. “Alguns consideram que este passo seria inaceitável, na medida em que se encontra em descontinuidade com a Tradição. Para outros, porém, conceder às mulheres o acesso ao diaconado recuperaria uma prática da Igreja das origens”.

Como propostas de trabalho, o Relatório declara que é “urgente garantir que as mulheres possam participar nos processos de decisão e assumir papeis de responsabilidade na pastoral e no ministério”.

É sublinhado que deve ser dado “seguimento à pesquisa teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconado, beneficiando dos resultados das comissões propositadamente instituídas pelo Santo Padre e dos estudos teológicos, históricos e exegéticos já realizados”, diz o Relatório de Síntese do Sínodo.

Laudetur Iesus Christus

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04 abril 2024, 11:27