"Eu me senti amada, perdoada, liberta": o testemunho das detentas no rito do Lava-pés com o Papa
Mariapia Iammarino
A celebração em Coena Domini realizada pelo Papa Francisco na prisão feminina de Rebibbia, em Roma, na última Quinta-feira Santa, já foi descrita de várias maneiras por diversos jornais e também foi possível acompanhá-la ao vivo pela televisão. No entanto, ainda será preciso tempo e muita contemplação para compreender plenamente o alcance da graça, da ternura, da misericórdia, da esperança e da alegria pascal que inundou as 360 detentas (e uma criança), funcionários, policiais da prisão e voluntários presentes no último dia 28 de março.
Ao proferir sua homilia, o Papa disse: "todos nós temos pequenos fracassos, grandes fracassos: cada um tem sua própria história. Mas o Senhor está sempre esperando por nós, de braços abertos, e nunca se cansa de perdoar. Agora faremos o mesmo gesto que Jesus fez: lavar os pés. É um gesto que chama a atenção para a vocação do serviço. Peçamos ao Senhor que faça com que todos nós cresçamos na vocação do serviço". Em seguida, Francisco, em uma cadeira de rodas, realizou o rito do Lava-pés. Ele lavou, secou e beijou os pés de 12 prisioneiras de diferentes nacionalidades e crenças, dirigindo a cada uma delas um olhar cheio de ternura e encorajamento.
Impossível ficar indiferente à emoção e às lágrimas que vimos escorrer de seus olhos. Impossível não perceber a passagem da graça em seus corações e no de todos os presentes. Rostos que mostravam a alternância de emoções, olhares que se elevavam e se iluminavam com uma nova luz.
O Papa não se esquivou de nenhum aperto de mão, de nenhum olhar, de nenhuma carícia. Ele estava presente com tudo de si, com sua evidente fragilidade de saúde e velhice e, por isso mesmo, capaz de trazer Deus misericordioso e terno com uma humanidade transbordante.
A diretora Nadia Fontana, no final da celebração, disse que a presença do Papa foi para "cada uma delas um raio de sol que aquece o coração e reaviva a esperança de poder recomeçar, mesmo quando é preciso começar do zero".
Várias de nós, voluntárias, e o capelão, Pe. Andrea Carosella, pudemos coletar as impressões das prisioneiras, tanto no final das celebrações quanto nos dias que se seguiram. Aqui estão algumas delas, com nomes fictícios para respeitar a privacidade.
Uma voluntária escreveu: "uma delas correu até mim e, impetuosamente, com os olhos brilhando de lágrimas, me disse que Deus havia lhe concedido uma grande alegria, talvez em sua vida ela nunca tivesse encontrado o Papa, sentindo tão profundamente a dor por seus erros e a certeza de ser perdoada, se não fosse por sua prisão. Assim, concluiu, ela estava apenas começando a dar sentido a tantas coisas dolorosas, confusas e dispersas em sua vida".
Fatima é muçulmana, fala mal o italiano, sofre de um distúrbio psiquiátrico e frequentemente a vemos triste e perdida. No final da celebração, ela correu para os meus braços chorando de alegria. Com a mão sobre o peito, ela me disse que em seu coração só sentia o bem, muito bem. Que Deus é um só, mesmo que o chamemos por nomes diferentes, e que ele nos ama.
Lisa conta: "o olhar do Papa Francisco, depois de ter lavado e beijado meus pés, chegou ao meu coração e removeu todos os fardos que pesavam sobre ele. Eu me senti profundamente vista, amada, perdoada e liberta. Sei que os problemas permanecerão e que continuar presa é difícil e será difícil, mas agora não me sinto mais sozinha. Recuperei a leveza e a coragem e posso ver uma nova vida à minha frente".
Miriana confidencia: "durante o Lava-pés, enquanto o Papa secava e beijava os meus, não consegui conter as lágrimas. Senti em meu íntimo como se fosse um terremoto, trazendo à tona camadas e camadas de dor, algumas das quais eu não sabia que tinha dentro de mim. As lágrimas escorreram e lavaram tudo. Sinto-me como se tivesse recebido um milagre de cura. Talvez tudo permaneça como antes, voltarei para minha cela, mas nada poderá me privar da alegria de me sentir uma pessoa digna de um futuro".
Há também aqueles que não conseguem encontrar palavras para contar o que vivenciaram. Mas talvez muito possa ser dito pela imagem de Francisco lavando os pés da última prisioneira: com olhares que encontram e atingem o coração, com a força de um sorriso que acolhe e não julga. Isso faz com que se sinta de perto o amor do Pai. Foi isso que o Papa nos deixou: a certeza absoluta de que no coração de Deus há lugar para todos, e que Ele, em seu infinito amor, respeita o tempo de cada um e considera as lágrimas mais amargas como orações preciosas.
Nessa "crônica" não pode faltar a história da pessoa que decidiu deixar a cadeira vazia na missa do Lava-pés. Essas são razões pessoais, não hostilidade contra o Pontífice. Há aqueles que, como reclusas recentes, ainda se sentiam aprisionadas pela raiva de sua situação. Ou aquelas que estavam dominadas pela dor e pela amargura. E havia aquelas que temiam ser filmadas e reconhecidas por seus filhos, dos quais, para protegê-los, havia escondido que era prisioneira.
Mas até mesmo essas realidades de sofrimento foram incluídas no abraço acolhedor do Papa Francisco, a quem agradecemos pela natureza profética e "política" de todos os seus gestos. Mesmo aqueles que são apenas aparentemente pastorais têm, de fato, um impacto cultural e "político" em toda a sociedade. Sua presença tão fraterna, humana e verdadeira entre nós reacendeu a atenção sobre a realidade da prisão que gostaríamos de ver escondida ou meramente punitiva.
Mais uma vez, ele forçou todos a olharem para cada realidade a partir de perspectivas diferentes, restaurando o significado e a complexidade daquilo que tendemos a simplificar apenas para tranquilizar o conforto e o egoísmo, deixando para trás a ideia de que "aqueles que cometeram erros devem ser punidos e é justo que estejam na prisão", que esquece o ditame constitucional e finge esquecer que cada um de nós é falível e precisa de ternura e confiança.
*Irmã Franciscana dos Pobres, voluntária na Prisão Feminina de Rebibbia
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