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Padre Sérgio Leal com Papa Francisco Padre Sérgio Leal com Papa Francisco 

“A Secretaria Geral do Sínodo deveria promover um processo de aplicação do Sínodo”

O padre Sérgio Leal assinala que será importante que as igrejas locais voltem às comissões e assembleias sinodais “agora já não para fazer um novo processo de escuta, mas para aplicarmos em discernimento comunitário”, refere.

Rui Saraiva – Portugal

Neste tempo de preparação para a segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos bispos, o padre Sérgio Leal, especialista em sinodalidade, tem sido nossa companhia desde o início do processo, analisando o caminho percorrido.

Discernimento comunitário e a participação de todos

Segundo o sacerdote português, o Papa ao ter prolongado por dois anos a assembleia sinodal e ao dar tempo até 2025 para que decorra o trabalho dos vários grupos de estudo dos Dicastérios da Cúria Romana, dá um sinal claro de querer que a sinodalidade não se reduza a um evento, mas seja modo de ser Igreja. Com discernimento comunitário e a participação de todos.

“O Papa tem dado claros sinais daquilo que é o seu entendimento da sinodalidade. Uma sinodalidade que não se reduz a um evento ou a um encontro, mas que é processo e modo de ser Igreja. Este prolongar do Sínodo é dizer à Igreja que no seu modo de atuar deve estar permanentemente em Sínodo, o que não significa estar permanentemente em Roma numa assembleia ou em eventos sinodais, mas viver este estilo eclesial. Que implica um discernimento comunitário, a participação de todos, que reclama um ministério de presidência da comunidade, seja na paróquia, seja na diocese, capaz de liderar o processo sinodal ao jeito de Jesus Cristo que consegue envolver os doze (apóstolos) e também manter o claro sinal daquilo que é a sua missão de Filho enviado por Deus. Que é aquilo que acontece também na família: é chamada a viver em comunhão, em unidade e na partilha de vida quotidiana, mas os papéis não se podem confundir, o pai é pai, a mãe é mãe, os filhos têm a missão de ser filhos, mas partilham da mesma mesa e ideias. E sabemos como é tomada de decisão em família, cabe ao pai e à mãe tomar as decisões, mas também lhes cabe partilhá-las com os filhos. É esta Igreja sinodal que se constrói ao jeito da família e desta família que até podia ser laboratório de sinodalidade”, revelou.

Por um processo de aplicação do Sínodo

Para o padre Sérgio Leal, depois da segunda sessão da assembleia sinodal em Roma, a Secretaria Geral do Sínodo deveria promover um processo de aplicação do Sínodo.

“O pior que nos podia acontecer era que terminada a assembleia sinodal (em Roma) fazer-se a exortação pós-sinodal e ser de modo livre a aplicação do Sínodo. A Secretaria Geral do Sínodo deveria promover um processo de aplicação do Sínodo. Isto é, assim como houve uma fase de escuta inicial onde se envolveu todas as igrejas locais e as comunidades, deveria haver um momento posterior onde voltávamos aí. E creio que o exercício proposto pela Secretaria Geral do Sínodo deveria ser evidente: partirem da escuta que fizeram e dos desafios que foram lançados pela assembleia e voltar a essas comissões e assembleias sinodais, agora já não para fazer um novo processo de escuta, mas para aplicarmos em discernimento comunitário, até porque as comunidades foram exercitadas neste dinamismo sinodal, dizerem como é que podemos ser Igreja sinodal em missão aqui na comunidade em que estamos.

O sacerdote sublinha os diferentes ritmos de vivência e de entendimento do Sínodo nas comunidades. Recorda que nas várias ações de formação que fez nas dioceses de Portugal, muitas vezes, ouviu este comentário: “agora é que devíamos fazer a assembleia sinodal porque percebemos o que é a sinodalidade”.

“Este processo sinodal conheceu diferentes ritmos em Portugal. Em virtude do meu estudo ser sobre a sinodalidade, eu tive a graça e o privilégio de percorrer várias dioceses do país, quer com padres, quer com assembleias diocesanas e percebi os diferentes ritmos e comunidades que me diziam ‘agora é que devíamos fazer a assembleia sinodal porque percebemos o que é a sinodalidade’. Portanto, há aqui diferentes ritmos neste processo sinodal. E eu creio que o maior erro pode ser o de achar que terminada a escuta diocesana dizer que isto agora é com Roma. Agora é com a Secretaria Geral do Sínodo. Este período não devia ter significado para nós dioceses, para a Conferência Episcopal, para as comunidades, esperar para ver o que Roma vai dizer. Nós fizemos uma escuta local, houve paróquias que não aderiram, certo, é compreensível, houve dioceses onde o trabalho de escuta sinodal não foi tão grande, também é percetível e compreensível, mas agora não deviam ter parado isso.  Se há uma síntese que tiveram que enviar para a Conferência Episcopal, então que isso seja a base de trabalho. Há uma síntese nacional então que seja a base de trabalho para a Conferência Episcopal em Portugal. Isto é, fazer deste tempo de Sínodo, um tempo de Sínodo aqui. Roma está a trabalhar, aguardamos os seus ecos, como o Relatório de Síntese (da primeira sessão) que é um bom Relatório com questões em aberto e propostas que deviam voltar às comunidades e não apenas para respondermos outra vez ao Sínodo, mas para respondermos aqui à nossa realidade concreta. E tanto mais necessitamos, quanto mais temos, tantas vezes, um discurso pessimista sobre a pastoral em Portugal, quando dizemos que a evangelização encontra tantas dificuldades e que a secularização invadiu a Igreja. Mas temos ainda capacidade de mobilização como vimos com a Jornada Mundial da Juventude, que podia ter sido um laboratório de sinodalidade, não só a Jornada em si, mas o caminho que fizéssemos depois com os jovens, com as famílias de acolhimento, de voltarmos a envolver essa gente agora para o processo sinodal”, declarou o sacerdote.

É tão importante uma Rede Sinodal

Viver o Sínodo é partilhar as experiências em Igreja, criar sinergias e pontos de comunicação e encontro. O padre Sérgio Leal sublinha a importância da existência de uma rede sinodal, numa clara alusão à recentemente criada Rede Sinodal em Portugal que nasceu a 6 de janeiro de 2024, na Epifania do Senhor, para manifestar a esperança no caminho sinodal. E uma rede serve para que não tenhamos que fazer todos a mesma coisa, mas possamos fazer a mesma coisa juntos”, disse o sacerdote.

“Daí que seja tão importante uma Rede Sinodal para que também não tenhamos que fazer todos a mesma coisa, mas possamos fazer a mesma coisa juntos, que possamos partilhar experiências. Quão bom seria que as várias dioceses, tendo esta oportunidade de uma Rede Sinodal pudessem partilhar as boas práticas que vão acontecendo, os sinais positivos dos eventos sinodais que foram realizando. Também as dificuldades, porque ajudaria a perceber que afinal não estamos sozinhos: houve um evento sinodal onde envolveram a catequese da adolescência, a pastoral juvenil a pastoral familiar e resultou bem, porque não perceber como é que pode ser feito aqui? E esta partilha de experiências seria uma riqueza. Nós não nos podemos esquecer que a partilha é muito evangélica e deveríamos exercitá-la nesta dimensão pastoral”, sublinhou.

O padre Sérgio Leal no passado mês de fevereiro concluiu o seu doutoramento em Teologia Pastoral, em Roma, com uma tese intitulada “Pastores para uma Igreja em saída”. Um trabalho que centralizou o seu objeto de estudo no exercício do ministério pastoral numa Igreja sinodal.

As sínteses nacionais estão a chegar à Secretaria Geral do Sínodo e serão um contributo essencial para a elaboração do Instrumentum Laboris, o documento de trabalho para a segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos bispos do próximo mês de outubro.

Laudetur Iesus Christus

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16 maio 2024, 09:12