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Cidades catarinenses adotam municípios gaúchos atingidos por enchentes

"Prefeituras de diversas cidades do país, sobretudo do Estado vizinho de Santa Catarina, iniciaram um comovente movimento para adotar as principais cidades gaúchas atingidas pelas cheias do Estado do Rio Grande do Sul."

Pe. Gerson Schmidt* - Camaquã (RS)

Quando a tragédia é muito grande, a solidariedade ainda é maior. Se as ondas dos rios foram enormes, a avalanche do bem ainda é maior. O Brasil inteiro está mobilizado na ajuda às cidades gaúchas atingidas pela maior catástrofe ecológica já sentida em todo o país. Não há precedente em toda a história dessa nação brasileira. Prefeituras de diversas cidades do país, sobretudo do Estado vizinho de Santa Catarina, iniciaram um comovente movimento para adotar as principais cidades gaúchas atingidas pelas cheias do Estado do Rio Grande do Sul. Muitos municípios já foram adotados e começam a receber ajuda para reconstruir seus espaços. Não são apenas mantimentos e doações que estão vindo de toda a nação brasileira, mas agora no apadrinhamento um encaminhamento caritativo de especialistas, maquinários, logística para a limpeza e assistência imediata das cidades assoladas pela tragédia. 

Salão da Paróquia Nossa Senhora Aparecida em Canoas

Nesta semana, já se somam 22 cidades catarinenses adotantes que seguirão auxiliando e manobrando novas visitas às cidades apadrinhadas. As cidades catarinenses, com os respectivos municípios gaúchos, são Bombinhas – Eldorado do Sul (RS); Timbó – Rolante (RS); Chapecó e Mondaí - Arroio do Meio (RS); Xanxerê - Imigrante (RS); Blumenau - Lajeado (RS); Porto União – Igrejinha (RS); Pomerode e Rodeio - Cruzeiro do Sul (RS); Joinville - Guaíba (RS); Cunhataí - Travesseiro (RS); Vargem – Lageado ; Luiz Alves – Muçum (RS); Indaial – Nova Santa Rita (RS); Luzerna – Roca Sales (RS); Cocal do Sul – Bom Princípio (RS); Trombudo Central - Rio Pardo (RS); Sangão - São Jerônimo (RS); Curitibanos - Feliz (RS);  Cunha Porã - Agudo (RS); Governador Celso Ramos - Pareci Novo (RS); Jaraguá do Sul - Roca Sales (RS); Araquari (SC) - Marques de Souza(RS). 

A cidade de Estrela, 50% devastada pela enchente, foi adotada por Osasco (SP) e também pela cidade de Blumenau (SC) e Lajeado também por Blumenau (SC). Pessoas que agora, baixadas as águas, perpassam pelo município de Estrela, no Rio Grande do Sul, encontram uma situação de completa devastação. Alguns voluntários, em meio aos entulhos, registraram uma geladeira em cima de uma fiação num poste de luz elétrica, tamanho volume das águas. Moradores mostraram bairros inteiros destruídos pelas chuvas, que nos últimos dias voltaram novamente para avolumarem os rios. 

Na cidade de Arroio do Meio, o alagamento foi quase total no centro da cidade, sobrando praticamente a Igreja, a prefeitura situados num ponto mais alto e a região do Seminário Sagrado Coração de Jesus, que agora se tornou palco da força-tarefa reunindo médicos, bombeiros, voluntariado em geral e de algumas famílias abrigadas. “A cidade está virada numa cena de guerra. É desesperador”, falava o prefeito de Arroio do Meio, Danilo José Bruxel, em reportagem. Prefeitura estava com 90% da cidade sem fornecimento de energia elétrica e outros serviços básicos, que aos poucos vão retornando, graças ao empenho de muitos voluntários e serviços dos órgãos públicos.

Pároco Arroio do Meio

O pároco da Paróquia Perpétuo Socorro, Pe. Alfonso Antony, comentou que o Bairro Navegantes não existe mais, destruindo também lá a capela situada nas margens do rio Taquari, obras que estavam sendo refeitas das enchentes do ano passado. Comenta em vídeo a situação e transmite ao seu povo uma palavra de esperança, tão necessária nesse tempo desafiador. Destruída pela terceira vez por enchente desde setembro, Arroio do Meio é abalada, desta vez, também pela desordem civil. Essa cidade do Vale do Taquari está isolada desde o começo de maio e houveram saques nas lojas da cidade, confirmando o pensamento do autor Viktor Frankl que nos momentos de crise, os heróis brilham e, infelizmente, os maldosos também aparecem. A duas pontes que ligavam à cidade vizinha de Lajeado caíram. E só agora os barcos vão cruzando o rio que deixou separadas famílias. Exército Brasileiro iniciou a instalação da passadeira flutuante sobre o Rio Forqueta, entre Lajeado e Arroio do Meio, no local onde ficava a ponte da ERS-130. A passadeira facilitará o cruzamento do rio para pedestres que poderão cruzar em um sentido por vez, usando colete salva-vidas.

A cidade catarinense de Chapecó (SC) apadrinhou Arroio do Meio, enviando 100 voluntários para ajudar, juntamente com máquinas para limpeza, materiais de Pet para animais, já contando também com equipe de médicos oriundos de vários lugares, que atuam no Seminário da Diocese de Santa Cruz, inclusive um médico judeu. Nessas horas, todas as etnias e religiões se unem numa só causa de solidariedade, sem nenhum preconceito. Em outras regiões do Estado vemos padres, pastores, comunidades cristãs se unirem na confecção de alimentos aos desabrigados, pois é hora de sermos “todos um”, como Jesus pediu no Evangelho (Jo 17,21). 

Igreja N. Sra. do Caravaggio durante emergência

A cidade de Pomerode (SC) assume Cruzeiro do Sul-RS, localidade também muito atingida, localizada ao largo do Rio Taquari que invadiu o vale e arrastou casas, pessoas e pontes. O município de Roca Sales, altamente atingido já na enchente de setembro de 2023, que teve um drama dessa vez ainda maior, foi apadrinha por Jaraguá do Sul (SC). Esse movimento voluntário, como grande gesto de amor e ternura pelo ser humano, começou por meio de um desafio lançado nas redes sociais do humorista Badin Colono, natural de Erechim-RS. A ideia é que as prefeituras de todo Brasil “adotem” os municípios gaúchos a fim de oferecer recursos e máquinas para iniciar a reconstrução. Vídeos mostram as prefeituras madrinhas em ação, enviando mantimentos, recursos, máquinas de limpezas às cidades adotadas. Por meio de vídeos no Instagram das prefeituras e em sites oficiais, as cidades estão anunciando seu apoio. Santa Catarina é o estado que mais abraçou a campanha, até o momento. 

*Pe. Gerson Schmidt é jornalista e Colaborador da Rádio Vaticano

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17 maio 2024, 07:17