Encontro multilateral em Roma promove justiça social no trabalho
Padre Luis Miguel Modino
O trabalho e as condições em que ele é realizado sempre foram um elemento decisivo na história. A Igreja Católica, especialmente desde o final do século XIX, por meio da Doutrina Social da Igreja e da reflexão teológica, tem procurado oferecer perspectivas que ajudem a avançar nesse caminho.
Diversidade e aspirações comuns para promover a justiça social
Como mais um passo nesse caminho, um encontro multilateral foi realizado na semana passada em Roma, de 8 a 10 de maio, com a participação de representantes da Organização Internacional do Trabalho, da Igreja Católica, da Cúria Vaticana, do Conselho Mundial de Igrejas, de acadêmicos e universidades e de sindicatos. Cerca de 40 pessoas de muitos países diferentes nos cinco continentes participaram de um encontro que destacou a riqueza da diversidade e as aspirações comuns com o objetivo de promover a justiça social para todos.
Um momento para escutar e aprender uns com os outros, para continuar a construir alianças em busca da garantia de direitos para todos e para respeitar mais profundamente a sacralidade da vida e o amor por todas as pessoas e pela casa comum. Mais um passo em um caminho iniciado em 2014, estruturado por meio do Projeto "Futuro do Trabalho: O trabalho depois da Laudato Si'", que busca, por meio de várias organizações de inspiração católica e outras organizações baseadas na fé em todo o mundo, promover a justiça social no mundo do trabalho, com atenção especial aos mais vulneráveis, ao trabalho infantil, às vítimas de trabalho forçado e novas formas de escravidão, aos migrantes e suas famílias, aos trabalhadores informais, aos jovens trabalhadores e às mulheres trabalhadoras, buscando formas de proteção, permitindo meios de vida dignos, proteção social e saúde. Isso levou à proposta "Cuidar é trabalhar, trabalhar é cuidar".
Importância do diálogo entre as Nações Unidas e as comunidades religiosas
No atual contexto global, tendo em vista a Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social em 2025 e a Cúpula do Futuro em 2024, organizadas pelas Nações Unidas, Pierre Martinot-Lagarde, assessor especial para assuntos sociorreligiosos da Organização Internacional do Trabalho, enfatizou no final da reunião a importância para a OIT de "continuar o que já é uma tradição, o diálogo com a Igreja Católica e outras comunidades religiosas".
Uma perspectiva compartilhada por Dom Robert Vitillo, Secretário Geral da Comissão Católica Internacional de Migração, que insistiu que "nossa participação neste Projeto sobre o Futuro do Trabalho após a Laudato Si' é um esforço muito importante, porque sabemos que os migrantes, refugiados e pessoas deslocadas internamente contribuem muito para a força de trabalho em todo o mundo". Nessa situação, ele denunciou que essas pessoas "muitas vezes não têm acesso a um trabalho decente e à possibilidade de salários justos. Por esse motivo, queremos avançar na promoção de seus direitos como força de trabalho".
Uma consulta que, nas palavras de Ignacio Alonso Alasino, responsável por esse projeto, representa uma oportunidade única para avançar nesse horizonte: o cuidado do trabalho, o trabalho é o cuidado. Em sua opinião, "a cooperação de múltiplos atores, a cooperação desde a base até a defesa em fóruns internacionais, juntamente com atores da academia, do mundo do trabalho, dos jovens, das Nações Unidas, e a implementação de nosso método de discernimento sobre os cinco temas identificados por nossos grupos de trabalho em nível regional, nos motivam a continuar e prosseguir rumo à segunda fase do projeto, que chamamos de comunidades globais transformadoras".
Captar as potencialidades e reconhecer os males sistêmicos
Em sua audiência com os participantes, o Papa Francisco agradeceu pelas "reflexões, diálogos e pesquisas, propondo modelos inovadores de ação para um trabalho justo, equitativo e digno para todas as pessoas do mundo", que eles realizaram, alertando que "é necessário reunir todos os nossos recursos pessoais e institucionais, iniciar uma leitura adequada do contexto social em que nos movemos, tentando captar as potencialidades e, ao mesmo tempo, reconhecer antecipadamente os males sistêmicos que podem se tornar pragas sociais", fazendo uma breve análise das cinco questões que são de importância crucial para a sociedade como um todo.
Reconhecendo que esses cinco aspectos representam desafios importantes e agradecendo-lhes por aceitá-los e abordá-los com paixão e competência, Francisco insistiu que "o mundo precisa de um compromisso renovado, um novo pacto social que nos una - gerações mais velhas e mais jovens - para o cuidado da criação e para a solidariedade e proteção mútua dentro da comunidade humana".
Cuidando da pessoa humana e da casa comum
Os participantes do encontro destacaram a importância do método de discernimento social comum, que "promove o diálogo social, por meio do qual diagnosticamos coletivamente os problemas, envolvendo as várias partes interessadas, facilitando a proposta de soluções, com base em experiências vividas que colocam o cuidado com a pessoa humana e com a nossa casa comum no centro de nossos objetivos e atividades". Os empreendedores socialmente comprometidos também foram destacados como uma fonte de esperança e como um veículo de mudança no mundo do trabalho.
Há uma preocupação com os governos autocráticos, que limitam a democracia e o multilateralismo, promovendo a discriminação e a perseguição religiosa, racial e étnica em muitas partes do mundo. À luz dessas realidades, e com base nos cinco temas abordados - promoção da justiça social, trabalho decente e cadeia de suprimento de alimentos, proteção e cuidado com os migrantes e suas famílias, trabalho decente e indústria extrativa, e transição e cuidado com a nossa casa comum -, propostas concretas estão sendo desenvolvidas, apesar dos desafios que precisam ser enfrentados para isso.
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