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Igrejas inundadas no Sul do país

O secretário do Regional Sul 3 da CNBB, que envolve 18 Dioceses (4 Arquidioceses) de todo o Estado do Rio Grande do Sul, Pe. Rogério Ferraz, expressou que “nas horas de sofrimento e grande necessidade os cristãos sempre se demonstraram solidários. De todo o Brasil sentimos o calor humano dos irmãos e irmãs que se preocupam e mobilizam as comunidades, paróquias e dioceses para oferecer o que podem aos que mais sofrem."

Pe. Gerson Schmidt* - Porto Alegre

Inúmeras Igrejas foram atingidas pelas águas agitadas, destruindo o templo, bancos, alfaias e livros litúrgicos, espaços catequéticos. As fortes chuvas que assolam o Rio Grande do Sul desde o fim de abril afetaram mais de 30 igrejas dos quatro vicariatos da Arquidiocese de Porto Alegre. Mas não sabemos ainda calcular o total de igrejas inundadas em todo o Estado gaúcho. 

Uma das paróquias mais atingidas próxima à Grande Porto Alegre, ao largo da cidade e Rio Guaíba, foi a da cidade de Eldorado do Sul-RS. Padre Fabiano Glaser dos Santos, pároco do município, disse que a paróquia fica em uma área urbana que foi 100% atingida pelas fortes chuvas. “Tudo virou um só rio”, disse. Das seis igrejas da Paróquia Nossa Senhora Medianeira, somente uma não foi tomada pelas águas porque está em um “distrito chamado Parque Eldorado que não teve inundações”, como referendou o sacerdote empossado há poucos meses na comunidade. Ele mesmo teve que ser socorrido, junto com a família onde estava pra se abrigar, com um caminhão do exército e permanecer em Guaíba até as águas amenizarem. Segundo Pe.Fabiano, “o povo está bastante desanimado porque é a terceira enchente em nove meses” e as pessoas dizem que vão embora da cidade, inclusive lideranças da paróquia, conforme informa o pároco que está tentando manter contato com os paroquianos pelo WhatsApp, por vídeo e tentando se fazer próximo por mensagens de perseverança e otimismo, nessa hora tão triste e desanimadora. Como a água invadiu a casa paroquial, Glaser disse que está abrigado na paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Guaíba (RS), uma cidade vizinha, que acolhe no salão paroquial cerca de 140 desabrigados.

Igreja Imaculada Conceição- vista interna
Igreja Imaculada Conceição- vista interna

A cidade de Canoas tem sofrido a calamidade em cheio, sobretudo no Bairro Matias Velho. A sede da paróquia da Imaculada Conceição, que está há 72 anos no bairro Rio Branco, foi a primeira igreja assolada com as chuvas em Canoas (RS), informa o Vigário Paroquial da paróquia, padre Rodrigo Barroso Spehr Rubi, jovem padre recém-ordenado. “Uma água que ultrapassava os bancos, que entrou também na sacristia e na secretaria da paróquia”, informou. A paróquia foi o ponto de resgate para mais ou menos umas mil e duzentas pessoas que começaram a vir até a igreja para encontrarem o resgate de barco. O colégio da Imaculada, administrada pelas irmãs franciscanas da Penitência e Caridade Cristã, que fica ao lado da igreja, também foi atingido pelas águas impiedosas. As irmãs religiosas tiveram que fechar a igreja porque algumas pessoas estavam “saqueando os lugares e a igreja estava muito exposta”, disse Pe. Rodrigo.

O Frei Juan Miguel Gutiérrez, pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Harmonia-Canoas, com 13 comunidades, teve todas elas embaixo d’água. Frei Juan conta fez seu relato: “A experiência que vivi em Canoas, foi um pesadelo muito difícil. Até hoje acordo de madrugada pensando que estou no meio da água. É terrível ter que viver esta experiência. São momentos de tristezas, angústias e desespero. A Igreja, secretaria e casa Paroquial, tudo debaixo das águas. Perdemos tudo, menos a fé. A fé que nos dá a força para depois que baixarem as águas das enchentes, encher-se de coragem para recomeçar e reconstruir. Neste momento de dor, o que nos consola é a caridade, a solidariedade e preces dos irmãos de caminhada.  Muitas pessoas morreram, muitas pessoas foram resgatadas. Muitas pessoas estão em abrigos muitos seguros e outras pessoas não foram resgatadas. O que fica até hoje, nos meus ouvidos, é o grito de socorro”. O bispo referencial de Canoas, Dom Juarez Albino Destro, e Frei Natalino e Juan Miguel, na semana visitaram os abrigos, dando uma palavra de conforto e esperança aos desabrigados. Foram visitadas as Paróquias de Canoas São Luiz Gonzaga, São Cristóvão, Santa Luzia e Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora do Caravaggio, Santa Maria Goretti, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora Aparecida e Comunidade Sagrado Coração de Jesus.  Também foi visitado um abrigo que funciona numa casa de Família. Este ponto de abrigo Familiar é acompanhado pelo Frei Cleiton e Frei Lucas. “É muito bonito de ver o rosto dos voluntários servindo com alegria. Por isso, há maior alegria em dar do que em receber"(At, 20,35), reflete um dos freis.

Paróquia Sagrado Coração de Jesus, com suas 13 comunidades em baixo d'água
Paróquia Sagrado Coração de Jesus, com suas 13 comunidades em baixo d'água

Pe. Adilson Correia da Fonseca, Vigário Episcopal do Vicariato de Guaíba, disse que “o Vicariato Episcopal de Guaíba foi severamente atingido pelas chuvas e temporais destes últimos dias em nosso Rio Grande do Sul.  Vimos nestes dias comunidades serem submersas pelas águas das chuvas e cidades inteiras sendo alagadas.  Nesta mesma proporção, vimos uma grande solidariedade do nosso povo, somada por uma grande onda de Fraternidade. Uma verdadeira avalanche de entre-ajuda ainda maior que os rios. Estamos testemunhando presbíteros acolhendo nossos irmãos no presbitério em nossas casas paroquiais. Nossos salões se transformando em abrigos e nossas igrejas servindo como hospitais de campanha, curando as feridas do corpo e da alma. Neste tempo, a esperança virou sinônimo de solidariedade". A vice coordenadora da comunidade Nossa Senhora Aparecida, Márcia Brandão, no Município de General Câmara, não vê a hora das águas abaixarem para arrumar a capela envolvida pela enchente. “Diante de dezenas de narrativas de perdas dos bens materiais as palavras que mais escuto são: vai passar, reconstruir e esperança. Quando vou ao encontro de pessoas que perderam tudo tento espalhar a fé, o amor, a força e a esperança. Deus abençoe”, disse o pároco de General Câmara, Pe. Fabiano Paoli. 

Em Charqueadas, o rio Jacuí inundou, atingindo a Comunidade Santo Antônio, no Bairro Santo Antônio, que fica próximo GkN/Gerdau e dos presídios. A Penitenciária Estadual do Jacuí hoje tem 2 mil presos e é cuidada pela Polícia Militar. A água chegou perto do presídio, mas atingiu mais a área do encarcerados do regime "semi-aberto", que foram liberados para retornar às suas casas. Segundo o pároco de Charqueadas, Pe. Miguel Faleiro, “muitos permaneceram por não ter casa, por estarem ilhados ou por não terem parentes próximos ou não terem famílias”.  Foram acolhidos na comunidade em torno de 18 presos, com devida assistência da pastoral carcerária marcou presença na oração, evangelização, e a assistência necessárias. Essa comunidade acolhedora chama-se Nossa Senhora de Fátima, dentro da chamada colônia penal que é uma especialidade do bairro com polícia penal (os antigos agentes), família dos Militares e algumas famílias de ex-apenados, informou o padre Faleiro. 

Capela N.Sra dos Navegantes em Arroio do Meio
Capela N.Sra dos Navegantes em Arroio do Meio

A Capela Nossa Senhora dos Navegantes, da Cidade de Arroio do Meio, foi novamente atingida pelas águas, que destruíram quase tudo, como vemos em fotos enviadas pelo pároco. Em Estrela, a capela São Pedro Canísio do Bairro Arroio do Ouro foi atingida pelas águas. A cidade de Sinimbu-RS foi completamente invadida pelas águas, entrando dois metros dentro da Igreja da Paróquia nossa Senhora da Glória. “Sinumbi, como disse a prefeita da cidade, não existe: não sobrou um supermercado, uma loja, uma fruteira, um posto de gasolina, nada... muito triste nossa situação”, relatou o pároco da paróquia Pe. Amilton Capaverde. 

O secretário do Regional Sul3 da CNBB, que envolve 18 Dioceses (4 Arquidioceses) de todo o Estado do Rio Grande do Sul, Pe. Rogério Ferraz, expressou que “nas horas de sofrimento e grande necessidade os cristãos sempre se demonstraram solidários. De todo o Brasil sentimos o calor humano dos irmãos e irmãs que se preocupam e mobilizam as comunidades, paróquias e dioceses para oferecer o que podem aos que mais sofrem. A caridade é um bálsamo que consola os que estão em tribulação. O que podemos ofertar são nossas preces a Deus para que ilumine e recompense tanta generosidade e amor”. Segundo ele, a CNBB Sul3 está se organizando, através dos bispos, para fazer chegar aos que mais precisam as ofertas que estão sendo feitas.

Oração do bispo Dom Juarez com voluntários na Paroquia N. Sra. das Graças

A maior enchente do Rio Grande do Sul registrado na história já atingiu mais de 450 dos 497 municípios do Estado do Rio Grande do Sul, cerca de 90%, segundo os últimos boletins da Defesa Civil. O número de morte passa de 150 mortes, mais de 125 desaparecidos, 806 pessoas feridas e mais de 538 mil desabrigadas. Foram resgatadas mais de 76 mil pessoas e 11 mil animais. 

*Pe. Gerson Schmidt é jornalista e Colaborador da Rádio Vaticano

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17 maio 2024, 07:43