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Cardeal José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Educação e Cultura Cardeal José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Educação e Cultura  (Agenzia Ecclesia)

Portugal. Cardeal Tolentino: “abre-se aqui uma estação de renovação e de caminho”

O prefeito do Dicastério para a Educação e Cultura, enviado especial do Papa Francisco ao V Congresso Eucarístico Nacional, apontou a uma Igreja de portas abertas que coloque Cristo no centro, praticando a compaixão e a proximidade.

Rui Saraiva – Portugal

De 31 de maio a 2 de junho de 2024, realizou-se em Braga, o V Congresso Eucarístico Nacional (CEN) por ocasião dos 100 anos da sua primeira edição.

“Com o tema “Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. «Reconheceram-n’O ao partir o Pão»”, o congresso reuniu cerca de 1400 participantes, 4 cardeais e 30 bispos, estando representadas todas as dioceses portuguesas”, informa a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) através de comunicado.

“Ao longo de três dias, além de conferências, painéis com testemunhos e workshops, tiveram lugar relevantes momentos celebrativos e culturais: Eucaristia, adoração, laudes, vésperas, oração do terço, cantata eucarística, exposição e uma peregrinação a pé ao Santuário do Sameiro”, refere a nota.

A Eucaristia de encerramento teve lugar no Santuário de Nossa Senhora do Sameiro no domingo dia 2 de junho e foi presidida pelo cardeal José Tolentino de Mendonça, delegado do Papa Francisco ao V Congresso Eucarístico Nacional.

Portas abertas e no centro colocar Cristo

Na sua homilia, o cardeal Tolentino apontou a um novo tempo, “uma estação de renovação e de caminho”.

“Para a Igreja em Portugal, motivada pelo caminho sinodal, reforçada pela experiência da Jornada Mundial da Juventude, mobilizada pelas grandes linhas do magistério do Papa Francisco, abre-se aqui uma estação de renovação e de caminho”, declarou.

O cardeal português exortou os fiéis a viverem uma Igreja de “portas abertas” que “não se coloca a si mesmo como prioridade, mas no centro coloca Cristo”.

“A Igreja é chamada a ser uma Igreja Eucarística. Isto é, uma Igreja que não se coloca a si mesma como prioridade, mas no centro coloca Cristo e retoma Dele as Palavras e os gestos, o modo de olhar cada pessoa e a visão global sobre a vida. Uma Igreja eucarística é o contrário de uma Igreja clericalista: é uma Igreja configurada sinodalmente, que valoriza a participação de todos os baptizados, que reconhece o papel do ministério ordenado, que cuida dos seus pastores e os acarinha, que investe nos ministérios laicais, que promove uma cultura eclesial de corresponsabilidade, que lê com profecia o lugar da mulher na Igreja. A Igreja Eucarística é uma Igreja de ‘portas abertas’, que se apresenta como experiência de serviço amoroso à vida”, afirmou.

Compaixão e proximidade

O purpurado enfatizou a necessidade da Igreja em Portugal viver a compaixão e a proximidade. Uma Igreja “Samaritana”.

“A Igreja em Portugal é chamada a ser uma Igreja Samaritana. Uma Igreja que atualiza a linguagem da compaixão. Uma Igreja de proximidade, não indiferente nem esquiva, mas capaz de fazer suas, como exorta o proémio da Gaudium et Spes, «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias do homem de hoje, sobretudo dos pobres e todos aqueles que sofrem». Uma Igreja especialista em humanidade, como insiste o Papa Francisco, que «não aponta o dedo, mas abre os braços». Uma Igreja enamorada pelo Evangelho e mobilizada pelo Seu anúncio. Recordo as palavras que não longe daqui escreveu o monge-poeta Daniel Faria: «escrevo para os que morrem sem nunca terem provado o pão/ Grito-lhes: imaginai o que nunca tivestes nas mãos!». A Igreja samaritana adota uma atitude de escuta, capaz de ser artesã de encontros para lá da sua zona de conforto ou do seu perímetro habitual, capaz de diálogos e de abraços que testemunham a maternidade e a paternidade incondicionais de Deus”, salientou.

No final da sua homilia, D. José Tolentino referiu ainda o chamamento fundamental da Igreja em Portugal a ser uma Igreja “mariana”, que em Maria possa redescobrir a “gentileza”, a “contemplação” e a “beleza”.

No seu comunicado conclusivo do V Congresso Eucarístico Nacional a CEP sublinha que nos dias do Congresso “a Igreja em Portugal se reuniu para refletir e rezar a centralidade da Eucaristia na vida dos crentes e a missão confiada a cada um que comunga o Corpo de Jesus, de ser esperança no mundo e para o mundo, numa época desafiante e de vertiginosas transformações”.

Linhas orientadoras da Conferência Episcopal

A CEP publica algumas linhas orientadoras para a Igreja em Portugal que passamos a citar:

1.    Redescobrir que a centralidade eucarística vai para além do Domingo. A Eucaristia deve ser preparada e celebrada como verdadeiro encontro com Cristo Ressuscitado, evitando que seja apenas o cumprimento de um preceito. Para uma presença alegre, consciente, ativa e frutuosa da celebração urge uma mais cuidada formação litúrgica.

2.    Manter as igrejas abertas e revalorizar a adoração eucarística. Os horários de abertura das igrejas devem ser adequados ao ritmo do mundo de hoje, procurando estimular os momentos de oração pessoal e envolver os leigos, confrarias do Santíssimo Sacramento, catequistas e demais agentes pastorais na dinamização dos momentos de adoração eucarística comunitária.

3.    Procurar o equilíbrio entre a Tradição e a necessidade de introduzir novas linguagens na liturgia, integrando os jovens nesse processo de renovação e adequando a espiritualidade cristã aos ambientes digitais e ao mundo secularizado.

4.    Reforçar a Eucaristia como escola de fraternidade e sacramento de unidade. O encontro comunitário na celebração do Domingo ultrapassa todas as fronteiras. Ao partilhar o pão, na mesa do altar, tornamo-nos companheiros de caminho e somos chamados a criar comunhão. A Eucaristia convoca todos, está aberta a todos e não afasta ninguém.

5.    Garantir a autenticidade e coerência entre o que se vive e anuncia. Quem participa, celebra e comunga tem de se sentir comprometido e impelido à missão. A Eucaristia celebrada na igreja tem de ser expressa para além das suas portas, através das respostas reais às necessidades concretas das pessoas, estendendo o seu abraço a todos, especialmente aos mais pobres, indefesos e os que estão afastados.

6.    Assumir a sinodalidade a partir da Eucaristia como lugar onde a Igreja se renova na comunhão, na participação e na missão.

7.    Ser sinal de Esperança. O amor dos crentes à Eucaristia acreditada, celebrada, adorada e vivida consolida a fraternidade, promove o perdão e a paz, tornando-se fonte inesgotável de esperança para o mundo.

“Confiamos a Maria, Mãe da Esperança, os bons frutos deste Congresso para que a Igreja em Portugal seja cada vez mais eucarística, samaritana e mariana”, refere a CEP no seu comunicado.

Laudetur Iesus Christus

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03 junho 2024, 16:08